Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Reflexões Sobre a China no Mundo

2 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , , ,

Todos se impressionam com o atual desenvolvimento rápido da complexa China e muitos se perguntam como eles conseguem tal façanha. Não há uma resposta fácil, mas algumas indicações podem ser esboçadas. Inicialmente, como Joseph Needham, o conhecido professor de Cambridge considerado o maior estudioso da China, explicitou nos seus vários livros publicados sobre aquele país, os chineses lideraram as descobertas e invenções em todo o mundo até a Revolução Industrial que ocorreu na Inglaterra. Portanto, somente se atrasaram relativamente nos últimos 150 anos, como me colocou um amigo diretor da Sinochem, a maior trading daquele país, inclusive de petróleo. Parte disto pode ser atribuída ao orgulho de que foram tomados. Agora, eles estão tentando recuperar o atraso, voltando a se tornar o País do Meio, justificando os ideogramas que significam China.

Como vem destacando o professor Antonio Delfim Netto, a China foi a pioneira na preparação de uma eficiente burocracia pública, que começou em torno da época de Cristo, para servir o Império. Hoje, o país é comandado pelo Partido Comunista Chinês, único no país, constituído de membros altamente qualificados, quase 20% da população, e que ocupam inclusive as direções das estatais e todas as instituições que dão suporte às atividades relevantes para a China. Possui uma organização invejável, mas a custa de um sistema autoritário. Depois de toda a atribulada história política daquele país.

bandeira_china

A continuidade do seu processo de desenvolvimento desequilibra o restante do mundo. O seu câmbio desvalorizado sofre pressões de muitos países que se sentem prejudicados, inclusive da atual primeira e terceira economia do mundo, os Estados Unidos e o Japão, bem como da Europa. Sua demanda de matérias-primas, energia e alimentos, ainda que beneficie muitos países fornecedores, provoca uma agressiva aquisição de fontes em muitas regiões do mundo, como a África e alguns seus vizinhos asiáticos, estendendo-se até as Américas, incomodando os que os possuem. Os atritos fronteiriços são frequentes, o que ocorre também em organismos internacionais como a Organização Mundial de Comércio (OMC). As reclamações sobre o uso indevido dos direitos de propriedade intelectual são constantes.

O seu desenvolvimento econômico e melhoria do nível de bem-estar material leva parte de seus habitantes às naturais aspirações por maior liberdade política, mesmo que algumas concessões locais estejam ocorrendo. Muitos dissidentes chineses expressam seus desejos pelos meios eletrônicos de difícil controle, inundando muitos especialistas sobre a China com mensagens com o uso da internet.

O intercâmbio de seus turistas com as formas de vida do mundo desenvolvido tende a aumentar. Muitos chineses que vivem no exterior estão se beneficiando das vantagens econômicas dos seus relacionamentos na China, não se manifestando explicitamente sobre os problemas que conhecem, mas não podem ignorá-los.

Tudo indica que haverá uma redução do ritmo de crescimento chinês que necessita investir também na preservação do meio ambiente, que prejudica até seus vizinhos. O atendimento das condições sociais dos seus trabalhadores, tanto do ponto de vista previdenciário como de saúde, vai acabar aumentando os seus encargos, ao mesmo tempo em que o salário real na própria China vai superando o de alguns seus vizinhos. Este país, no ritmo que continua crescendo, implica na redução da parcela que cabe ao resto do mundo neste universo limitado.

Até agora, o gerenciamento de todas estas tensões continua razoável, mas é difícil imaginar que ela permanecerá assim para sempre. Os ciclos econômicos parecem inerentes ao uso dos mecanismos de mercado, mesmo que as autoridades chinesas tenham sido capazes de evitar os efeitos da última crise que abalou o mundo. Não se conhece um processo contínuo de crescimento com o atendimento de todas as naturais aspirações que acompanham a melhoria do nível de bem-estar de toda uma população com características tão diversificadas como a da China. Mesmo com um sistema de controle como o vigente naquele país, com algumas descompressões em andamento.

A história universal mostra que sempre houve períodos de ascensão e declínio dos povos, mas quando isto ocorrerá vai depender da capacidade diplomática dos dirigentes chineses em acomodar os interesses do resto do mundo.



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