Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Controvérsias Sobre a Frugalidade dos Japoneses

22 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

Um artigo publicado pelo jornalista Peter Dyloco no Japan Times sobre a atual frugalidade dos consumidores japoneses, e os muitos comentários que vem recebendo, é um exemplo da perplexidade que vem tomando conta do mundo desenvolvido com a deflação e a dificuldade de sair do estado recessivo. Não é um fenômeno exclusivo do Japão, mas se repete tanto nos Estados Unidos como na Europa. Já comentamos neste site um longo artigo da acadêmica Noriko Hama publicado no The Japan Times sobre o assunto, sob um prisma mais técnico, propondo algo como “buy japanese”.

O fato concreto é que os japoneses, com uma cultura desenvolvida num arquipélago limitado em recursos naturais, estão procurando se defender da atual crise por que passam consumindo roupas boas e baratas de menos de dez dólares como as vendidas na cadeia de lojas Uniqlo, produzidos na China. Eles estão consumindo refeições completas de menos de seis dólares no Yoshinoya, os famosos “guiu don”, ou seja, carne com arroz. Ou comprando automóveis pouco poluentes e consumidores de energia como o Fit flex (gasolina e eletricidade) da Honda. Alguns comentários dos leitores mostram que o mesmo acontece com os alemães e nem por isto podem ser condenados, mas não ajudam a ativar suas economias.

 yoshinoya uniqlo  Honda-Logo_3D

Parece pacífico que nas economias de mercado são os consumidores que escolhem o que desejam adquirir para atender as suas necessidades, e está se processando uma mudança substancial nas suas preferências. Muitos produtos estão se tornando bons e baratos, descartáveis, e não se demanda mais a durabilidade e a qualidade que se desejavam no passado. Os produtores e fornecedores devem se adaptar a estas mudanças ou tendem a desaparecer, o que acontece em todas as economias, não só no Japão.

Medidas artificiais para induzirem os consumidores a demandarem produtos considerados melhores, ainda que mais caros por serem produzidos no país parecem paliativas, como os “buy americans” ou “buy japaneses” que são propostos por muitos. É claro que a política econômica pode elevar os custos dos produtos importados, com medidas protecionistas, mas isto acaba reduzindo a eficiência mundial que se conseguiu com a globalização.

O que parece estar acontecendo, também, é uma mobilidade das empresas, passando a produzir muito dos seus produtos em outros países, onde as condições concorrenciais são mais favoráveis. Mas os recursos humanos não possuem a mobilidade, com a rapidez necessária, para se adequar às novas condições.

Estes desajustes temporários sempre ocorreram e hoje chamam a atenção por envolverem volumes substanciais que afetam fortemente o emprego e a renda dos trabalhadores, que estão sendo sobrecarregados pelos encargos previdenciários para atender a massa de idosos e aposentados que passaram a sustentar. Há grandes mudanças, e rápidas, nas necessidades de uma economia, e a produção não consegue se ajustar a elas com a velocidade indispensável, como no aumento dos serviços.

Há um forte deslocamento das atividades econômicas em direção dos países chamados emergentes. Todo este processo é doloroso, cheio de fricções, mas quanto mais rapidamente às sociedades desenvolvidas se adaptarem a elas, suas dificuldades tendem a ser menores.



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