Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Joseph Stiglitz Escreve Sobre a Guerra Cambial

4 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , ,

O jornal O Estado de S.Paulo, no seu caderno de Economia & Negócios, reproduz um artigo escrito pelo Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, publicado originalmente no conhecido jornal The Guardian. Ele lamenta que na atual guerra cambial que se processa em todo o mundo, a partir do yuan chinês extremamente desvalorizado que provoca um desequilíbrio comercial global, a tendência é todos perderem, inclusive os Estados Unidos que está aumentando a disponibilidade do seu dólar, que funciona como uma moeda de referência em boa parte do mundo.

Ele informa que o universo já passou por uma experiência semelhante no período do pós-crise de 1929, quando muitos países procuravam preservar a sua competitividade internacional mantendo sua moeda desvalorizada, provocando o alongamento do período da dura depressão mundial, desencadeando o fascismo e o nazismo, desaguando na Segunda Guerra Mundial.

foto g1.globo foto alquimidia.org

A Córeia do Sul, que sediou a reunião dos bancos centrais e de ministros, será palco também da reunião presidencial do G20. Prêmio Nobel Joseph Stiglitz

Joseph Stiglitz escreve que existe uma alternativa, que seria um acordo global, sobre o qual ninguém sensato discorda. O problema é como conseguir este acordo, que já foi obtido no passado, por exemplo, no chamado Acordo de Plaza, na mesma Coreia que vai sediar a próxima reunião presidencial do G20. Naquela ocasião, os países desenvolvidos comandados pelos Estados Unidos tinham poder suficiente para impor uma valorização do yen japonês e do marco alemão.

Hoje, o poder está muito disseminado, não havendo uma potência hegemônica, sendo que a China alega ser uma potência emergente que ainda tem um nível de renda modesto quando considerada a sua gigantesca população. Todos, inclusive o Brasil, procuram se defender intervindo no mercado cambial com medidas que podem ser consideradas paliativas, bem como atos protecionistas para evitar importações exageradas de produtos chineses.

O Prêmio Nobel, quase endossando os argumentos chineses, entende que o desequilíbrio comercial não pode ser resolvido somente por medidas cambiais, havendo muitas empresas norte-americanas e estrangeiras que, inclusive, se beneficiam do yuan chinês desvalorizado. Na realidade, os preços de muitos produtos importados representam no porto de desembarque somente uma parcela pequena do que é cobrado finalmente do consumidor. Da mesma forma, muitos produtos exportados representam um pequeno percentual do que é cobrado pelos consumidores finais no exterior. Mas os câmbios determinam as bases dos preços de muitos produtos que participam do comércio internacional conhecidos como tradebles.

Lamentavelmente, no atual mundo globalizado, os fluxos financeiros internacionais são muitas vezes maiores que os comerciais, e diferenças de juros em cada país podem determinar indesejáveis influxos de recursos, como os que acabam valorizando o real brasileiro, e o controle destes sofrem restrições das instituições financeiras que sempre ganham tanto com os influxos como com os refluxos, além dos que são feitos por poupadores individuais, sem maiores considerações técnicas.

Os custos dos recursos humanos também apresentam sensíveis diferenças em todo o mundo. As empresas que atuam internacionalmente procuram obter vantagens operando simultaneamente em diversos mercados, tanto como produtores como exportadores e importadores.

Espera-se, diante das dificuldades para um grande número de países, que um mínimo de entendimento seja possível na próxima reunião do G20 na Coreia, quando o presidente brasileiro Lula da Silva estará acompanhado da recém-eleita presidente Dilma Rousseff, para o seu grande debut numa reunião internacional.



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