Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Pragmatismo Chinês na Solução dos Seus Problemas

19 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , ,

Observando-se atentamente o que vem acontecendo na China nos últimos anos, nota-se um forte pragmatismo diante da evolução dos acontecimentos que os afetam, e isto tem sido sua marca mais importante. No livro do jornalista Richard McGregor, antigo chefe do bureau do Financial Time na China, “O Partido – O Mundo Secreto dos Dirigentes Comunistas da China” (tradução livre), publicado este ano, o autor levanta algumas perguntas sobre qual seria o modelo que eles perseguem, depois de Deng Xiaping. Seria uma benevolente autocracia do tipo de Cingapura (com lideranças de raízes chinesas)? Um Estado capitalista desenvolvimentista como alguns têm chamado o Japão (mais socializado que muitos países chamados comunistas)? Um Neoconfucionismo (que recomenda uma hierarquização na sociedade) misturado com economia de mercado? Uma lenta (em eficiência) versão como a Rússia pós-soviética? Um socialismo de barões desonestos (que redistribuíam seus lucros em ações beneficentes)? Ou algo diferente baseado no “Consenso de Beijing” (que ninguém sabe o que é ao certo, mas que se contraporia ao de “Consenso de Washington” com condições listadas, mas nunca implementadas). Parece difícil de classificar a China atual em qualquer destes “modelos”.

O que alguns editoriais como do jornal japonês Nikkei tentam esboçar, podendo refletir o simples desejo de um vizinho bastante afetado pelos chineses, é que parece ter havido uma evolução entre a reunião do G20 em Seul e a reunião da APEC em Yokohama na posição da China, mostrando que existe um elevado pragmatismo na sua política externa.

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Reunião de cúpula do G20 em Seul, Coreia do Sul, que reuniu os líderes de países ricos e dos principais emergentes

Para um país que almeja continuar crescendo rapidamente, podendo-se tornar o mais importante do mundo nos próximos anos, não há interesse em ser confrontado com críticas generalizadas diante de sua política cambial e comercial, ao que soma as restrições para a exportação de minerais estratégicos como terras raras. Também não interessa continuar a ser alvo de pressões externas diante de dissidências internas, como a que foi premiada como Prêmio Nobel da Paz. Não lhe parece convenientes os aprofundamentos das desgastantes tensões de disputas territoriais com seus vizinhos. Não lhe interessa ser taxado como um país que procura sua estabilidade social interna a qualquer custo. Os chineses sabem que precisam conviver num mundo globalizado, que possuem organismos com regras consolidadas, o que procuram fazer dentro do cronograma de sua conveniência.

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Líderes das 21 nações que compõem o bloco da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico durante encontro no Japão

O que se sentiu, e ainda pode ser uma mera impressão, é que os chineses passaram a adotar uma orientação mais suavizada, mais contemporizadora, enfatizando a necessidade da cooperação internacional, mostrando-se sensíveis às críticas internacionais. Procuraram fortalecer suas relações bilaterais e regionais. Eles almejam a liderança num mundo sadio, não herdar um globo arrasado.

Vão continuar procurando as fontes de matérias-primas que necessitam, em todos os continentes, concedendo maior prioridade à expansão do seu mercado interno, necessitam continuar a exportar para todo o mundo, mas sabem suficientemente que não podem forçar a ponto de contar somente com hostilidades de todas as partes, como sempre foi de sua boa tradição comercial.

O que se espera é que os que negociam com os chineses, parceiros próximos ou distantes, também tenham aperfeiçoado suas técnicas, defendendo com convicção seus claros interesses nacionais, pois os dirigentes da China são extremamente preparados, possuindo um sistema eficiente de planejamento a longo prazo, e de ação coordenada do governo, estatais e empresas privadas.



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