Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Brasil Selvagem Segundo o Japan Times

13 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Intercâmbios | Tags: , , ,

Uma longa reportagem sobre o Brasil foi publicada no The Japan Times por Mark Brazil (o nome é mera coincidência), como ele mesmo se denomina, um “naturalista viajante”. Ele tem visitado o Brasil com frequência, pois se interessa pela biodiversidade e sua preservação. Concentra-se nos aspectos turísticos e exóticos do país, com a melhor boa vontade procurando um equilíbrio na sua avaliação. Mas acaba disseminando um quadro que pode acabar dando uma imagem distorcida do Brasil, mal conhecida pela sua própria população.

A reportagem está recheada de fotos da Catarata do Iguaçu, dos animais como onças, jacarés, macacos, capivaras e araras, como se isto fosse parte do cotidiano dos brasileiros. Chegaram a me perguntar no exterior se corremos o risco de tropeçar em alguns destes animais pela rua. De tanto se repetir as imprecisões, elas acabam ganhando tons de verdades categóricas, pois até os livros didáticos brasileiros cometem alguns pecadilhos, como se trata de um país católico onde se comunica somente em português.

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Cataratas do Iguaçu, onça pintada e araras: exemplos de nossa rica diversidade

Não se pode negar que isto faça parte da nossa exótica realidade. Mas o Brasil que eu conheço, percorrendo inúmeras de suas regiões, por décadas, muitos dos seus rincões nem sempre refletem esta imagem. Encontrei muito brasileiros que professam religiões adaptadas do catolicismo, como muitas variedades do candomblé. Nas periferias das grandes metrópoles e pelo interior brasileiro, observo o predomínio atual de diversas seitas ditas evangélicas numa constante evolução. E conversando com caboclos brasileiros no meio rural, tive que usar muitos intérpretes locais para poder me comunicar com eles, dada a sua desconfiança e reserva, além de muitas palavras que desconhecia com um linguajar que não me é familiar. O que é real é a ampla diversidade neste país imenso.

Morei no Japão, visitei aquele país por mais de uma centena de vezes e posso dizer que mal conheço a sua realidade que é de um arquipélago, e tenho que recorrer aos meus amigos para entendê-la. Quanto se trata de países continentais como o Brasil, a China, a Índia ou os Estados Unidos, é muito difícil resumir a sua realidade numa reportagem, ainda que cuidadosa e longa. O máximo que se pode afirmar é que existem também estes aspectos, e o Brasil continua rico em biodiversidades, diferenças regionais, culturais e étnicas que estão em constantes miscigenações e transformações dinâmicas.

As divulgações de nossos pontos turísticos nos interessam, principalmente nas vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Mas seria interessante que houvesse também contrapontos como de metrópoles de milhões de habitantes, com tecnologias de ponta em diversos setores como a agropecuária, mineração, preservação da biodiversidade. Que a nossa produção de aeronaves exportadas supera a dos japoneses.

Os turistas que mal conhecem os aeroportos e hotéis não podem afirmar que conhecem um país. A repetição das viagens por algumas localidades dão uma noção do dinamismo, mas não permitem conhecer o que se passa no seio de sua população, cuja identidade vai se alterando rapidamente, como a própria biodiversidade que desejamos preservar o mais possível, pois ela está ameaçada pela chamada “civilização”, mas também não pode ser reduzidas a reservas artificiais.

Afirma-se que a humanidade vai sofrer da carência de águas para as suas necessidades. O Brasil conta com uma das maiores potencialidades de águas utilizáveis, e pouco se fala disso. O país conta com privilégios na energia solar. Sim, temos muito mais coisas para conviver com o meio ambiente que possuímos, mas temos que contar com o apoio internacional para que ela seja utilizada em favor da humanidade.



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