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Monge Jianzhen de Volta à China 13 Séculos Depois

8 de dezembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura, Depoimentos | Tags: , , , | 2 Comentários »

Uma estátua do monge budista Jianzhen (Ganjin, no Japão), em madeira laqueada, foi recebida com festa e comoção em sua cidade natal, Yangzhou, vizinha a Nanjin, província de Jiangsu. Devotos do monge estão reverenciando, a distância, a peça protegida por vidro no Hall Jianzhen do antigo Templo Daming Si. A imagem esteve exposta também em museu de Xangai, onde atraiu 360 mil visitantes.

Tesouro Nacional do Japão, a estátua do século VIII pertence ao Templo Todaiji de Nara, e faz esta peregrinação à China como parte da comemoração dos 1.300 anos da fundação da cidade de Nara, cuja construção foi inspirada no plano da cidade de Chang’an (atual Xi’an), a capital chinesa de 11 dinastias que teve seu auge durante a Dinastia Tang (618-907). Inaugurada em 710, o Imperador Shomu (699-756) ali estabeleceu a capital do Período Nara (710-794). Por seu envolvimento com a civilização Tang, na época Nara foi incluída como ponto mais oriental da Rota da Seda.

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Honorável monge do Templo Daming Si, Jianzhen (688-763) foi convidado por Shomu Tennô para ensinar preceitos budistas chineses a monges japoneses no Templo Todaiji, que tinha sido inaugurado em 743; o colossal Buda Vairocana, em bronze, no seu interior, foi fundido entre 749 e 752. Jianzhen só conseguiu chegar ao Japão após cinco épicas tentativas de viagens, frustradas por incidentes diversos como ataques de piratas, tufões, naufrágios e doenças. Uma infecção o fez perder as duas vistas, mas finalmente alcançou Nara em 753, quase aos 66 anos de idade. Ele não só divulgou ensinamentos budistas Vinaya no Japão, como introduziu importantes contribuições da cultura chinesa na arquitetura, medicina, arte, caligrafia e culinária japonesas, e trouxe grandes mudanças nos costumes e pensamentos que estão vivos até hoje no cotidiano japonês. Após se retirar das atividades no Todaiji, em 759, o monge continuou ensinando no Templo Toshodaiji, erigido sob sua orientação, e o transformou no centro de onde se difundiu a Escola Risshû, de budismo japonês. Seus restos e pertences estão nesse templo. Devotado budista, e sob tutela de Jianzhen, Shomu Tennô abdicara ao trono e, ordenado monge, tinha se recolhido à vida monástica, assim como a Imperatriz, sua esposa.

Yasushi Inoue, escritor humanista, pesquisador da história do leste asiático, registra com precisa maestria a provação que Jianzhen e seus discípulos enfrentaram, com tenacidade e obsessão, para levar ensinamentos de Buda ao Japão: “Os Telhados de Cerâmica de Tenpyô” (Tenpyô no Iraka, 1957) é leitura obrigatória para quem deseja conhecer um pouco da história sino-japonesa, e muito da sua cultura e alma. Tenpyô é a era atribuída a Shomu Tennô, uma época em que o Japão buscava no exterior, avidamente, um bem precioso: a informação. Pena que ainda não tenha sido traduzida para o português. Há traduções em espanhol, francês, e várias em inglês.

A exposição da estátua no Hall Jianzhen foi aberta com solene ritual budista, na presença do governador da Província de Nara, de ex-ministro de Relações Exteriores da China, e mais de 3.000 convidados. A rede estatal chinesa Central Television transmitiu a cerimônia para todo o país, no que foi considerada uma iniciativa bastante inusitada. Observadores viram na iniciativa um sinal de que a China tenta sanar as recentes tensões nas relações com o Japão, sobre incidente envolvendo colisão de pesqueiro chinês com navio da Guarda Costeira Japonesa no Mar do Leste Chinês.

Não deixa de ser emblemático que um monge já idoso tenha arriscado a vida e atravessado esse mesmo mar, levando mensagens de paz e compaixão aos homens de boa vontade no arquipélago japonês, e esteja voltando agora à terra natal em forma de simbólica estátua, trazendo as mesmas mensagens quase 13 séculos depois.


2 Comentários para “Monge Jianzhen de Volta à China 13 Séculos Depois”

  1. Rafael Sugano
    1  escreveu às 22:24 em 8 de dezembro de 2010:

    Excelente artigo!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 05:33 em 9 de dezembro de 2010:

    Caro Rafael Sugano,

    Em nome da Naomi Doy, estou agradecendo o seu comentário.

    Paulo Yokota


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