Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Cenas do Inverno Japonês – II

7 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: , , , ,

À previsão de mais frio a noroeste do país, ao longo da costa do Mar do Japão, outras notícias aquecem corações. No fim do ano, famílias que estavam indo passar o feriado com parentes idosos ficaram bloqueadas pela tempestade de neve nas estradas, tendo que permanecer longas horas dentro de seus carros, ou até a pernoitar. Muitos casais estavam com crianças pequenas.

Pois chegam relatos televisivos de que prefeituras de vilarejos e gente da área rural afetada pela neve estão recebendo cartões, cartas e lembrancinhas de agradecimento das pessoas que, surpreendidas pela tempestade e presas dentro dos carros, tinham obtido pequenas, inolvidáveis atenções dos habitantes locais. Estes fizeram plantões nas estradas levando bules de café e chá quentes, bolinhos de arroz, udon fumegante (sopa de macarrão), e repartiram o infalível toshi-koshi soba (consomê de macarrão sarraceno, típico da passagem de ano); facilitaram uso de lavatórios e banheiros, levaram palavras de conforto. Ao nos inteirar que aquelas pessoas obrigadas a passar o réveillon na estrada tinham afinal tido uma passagem de ano não completamente abandonadas à solidão congelada, fica-nos uma sensação de terno aconchego – apesar de em mundos tão distantes.

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Chegam-nos ainda outras histórias: arregimentados por diferentes ONGs de voluntariado, centenas de estudantes de universidades de Tóquio e da região de Kansai (Kobe, Quioto), estão em cidadezinhas de Nagano, Niigata, Fukui (enterradas em 2 a 3 metros de neve), ajudando na remoção da neve acumulada nos telhados e passagens de casas de idosos que moram sós. As cidades e comunidades não estão dando conta do serviço, devido ao recorde de precipitação desde o começo do ano. Jovens que nunca tinham pegado em pá estão se esfalfando de canseira, dores musculares e calos nas mãos, mas se “divertindo” com as inusitadas férias de inverno, alojados em locais preparados por prefeituras e associações. Segundo a NHK, mais de 100 pessoas já morreram neste inverno enquanto tentavam remover neve: ou soterradas, ou por terem caído de telhados quando limpavam sozinhas. Alguns dos mortos eram idosos “mais jovens” que estavam ajudando um vizinho mais velho.

Lembro-me de jovem sendo entrevistado entre lamas de Nova Friburgo, região serrana fluminense destruída recentemente por deslizamentos e enchentes. Ele tinha vindo do Estado de Santa Catarina. Quando das inundações que devastaram vales em seu estado há dois anos, ele soubera de muitos jovens que tinham vindo de longe (São Paulo, Rio, Bahia, até estados do Norte) para ajudar. Apesar de não residir em área devastada e nem ter sido afetado, ele achou que também podia contribuir um pouco: pegou mochila, alguma comida de camping e chegara ao Estado do Rio. Estava dormindo em abrigo para flagelados, mas feliz por estar fazendo parte.

Relata Paulo Yokota (post de 31/01/11, Preocupação com os Idosos na Ásia), que o governo chinês está propondo leis que protejam idosos de abandono por familiares. Em seu discurso de Ano Novo, o primeiro ministro Naoto Kan assegurou que o objetivo do governo japonês é tentar criar uma sociedade na qual o sofrimento seja reduzido ao mínimo para idosos e pessoas que vivem e morrem isoladas e sós; forças tarefas estão estudando propostas que levem a reformas no sistema de seguridade social do país. Em boa hora.

Felizmente, para nós seres humanos, todos nascemos naturalmente imbuídos dessa capacidade samaritana de sentir empatia e de nos solidarizarmos com a dor alheia. Nos momentos de precisão, isso faz toda a diferença.



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