Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Teatro Kyogen em Tóquio e no Brasil

23 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura | Tags: , , , , | 2 Comentários »

Teatro cômico, o kyogen – pronuncia-se /kiyôguen/ – está intimamente associado ao teatro Nô: é representado entre os atos de um longo espetáculo para relaxar a plateia. Inspirado diretamente no sarugaku (antiga dança camponesa originária da China), o kyogen poderia se equiparar às farsas satíricas da Europa, que por sua vez tem raízes nos mimos medievais, gênero cômico menos exigente que a alta comédia, e tinha por objetivo apenas divertir o público, sem se preocupar com mensagens morais: busca o humor pelo humor, geralmente pintando gente simples e ingênua da plebe ou do campo (Gil Vicente em Portugal, commedia dell’arte na Itália, farce / mime na França, como também os skits – falas satírico-cômicas à parte que Shakespeare introduzia no decorrer de suas peças dramáticas, justamente para “aliviar” a tensão).

O kyogen desenvolveu-se no Japão no século XIV quando trupes viajavam apresentando-se em templos, santuários e festivais, patrocinados pela nobreza. Contrastando com o distanciamento formal dos personagens do Nô, os artistas do kyogen dependem de exuberantes expressões faciais para produzir efeito cômico. Enquanto peças de focam temas trágicos e retratam acontecimentos simbólicos ou mágicos através da música e da dança, com uso de máscaras em muitas cenas, as narrativas em kyogen se baseiam em assuntos mundanos da vida cotidiana por meio do diálogo e da mima. As máscaras são usadas para representar animais, os mais comuns sendo texugos e raposas. Assim, exige-se dos atores do kyogen um alto nível de controle e expressão vocal, facial e físico, conjugados à habilidade da fala e da comunicação. Designados como “Monumentos Culturais da Humanidade” pela Unesco, e kyogen são tradições teatrais com mais de 600 anos de história.

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Okura Yataro Torahisa XXV (centro) se prepara para o palco, assistido por seus filhos Sentaro e Motonari

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Performance da Família Shigueyama, do Kyoto okura kyogen theater

Atualmente, o kyogen é praticado por duas escolas remanescentes, Okura e Izumi, ambas com repertórios extensos e únicos para cada escola. A Escola Okura de Kyogen é preservada pela família Yamamoto em Tóquio, e pela família Shigeyama em Quioto, ambas com tradição hereditária de dezenas de gerações.

Rei Sasaguchi, do The Japan Times (The legacy of Kiyogen’s Okura tigers), informa que a Escola Okura Kyogen de Tóquio vai apresentar cinco peças de 30 minutos cada no clássico Teatro Nacional do Nô, estação Sendagaya-Shibuya, Tóquio, no dia 27 de fevereiro. Todos os herdeiros da família e principais atores conservam o ideograma “tigre” – tora – em seus nomes, recebidos do daimyô Oda Nobunaga no século XVI. O atual chefe da família é Yataro Torahisa, cuja neta, Ayano, será vista no palco na trupe de cogumelos na última peça a ser apresentada, Kusabira: uma inovação ousada, pois tradicionalmente Nô, kyogen ou kabuki contam somente com atores masculinos, que interpretam também as figuras femininas.

As cidades de São Paulo, Rio e Curitiba foram contempladas para apresentações da Companhia Shigeyama de Teatro Okura Kyogen, de Quioto. Pela primeira vez no Brasil, numa realização conjunta da Fundação Japão, consulados gerais das três cidades e instituições públicas e privadas. Os espetáculos serão em japonês com explicações em português, recomendados para maiores de 12 anos.

Rio: Teatro Nelson Rodrigues – Av. República Chile, 230.

23/fevereiro/2011 – 19h.

Curitiba: Teatro Guaíra – R. XV de Novembro, 974.

25/fevereiro/2011 – 21h00.

São Paulo: Teatro Gazeta – Av. Paulista, 900. Metrô Trianon-Masp.

27/fevereiro/2011 – 11h00.


2 Comentários para “Teatro Kyogen em Tóquio e no Brasil”

  1. Teatro Kyogen em Tóquio e no Brasil » Asia comentada | Info Brasil
    1  escreveu às 16:28 em 23 de fevereiro de 2011:

    […] rest is here: Teatro Kyogen em Tóquio e no Brasil » Asia comentada Tweet This […]

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 13:35 em 23 de fevereiro de 2011:

    Obrigado pela menção.

    Paulo Yokota


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