Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Depois de Uma Semana dos Problemas Japoneses

18 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

Passando os momentos mais agudos da crise que afeta os japoneses, que já completou sete dias desde o seu início, é possível efetuar um balanço que procura ser o mais ponderado possível. Alguns veículos da imprensa que têm a tendência para destacar os aspectos mais cruciais que estimulam suas audiências, lamentavelmente, também podem ser induzidos por lobbies poderosos e internacionais, como os relacionados com o petróleo, as finanças e até interessados nas concorrências das usinas atômicas, que são custosas e estavam numa fase de sensível ampliação em todo o mundo. Isto pode exacerbar as críticas, como ignorar as limitações das próprias autoridades japonesas.

Mesmo salvar uma simples vida é de crucial importância como até ressaltou SM o Imperador Akihito do Japão no seu pronunciamento inédito pela televisão. Assim, temos que ser respeitosos com mais de 6.500 passamentos e mais de 10.000 ainda desaparecidos, aos quais houve uma homenagem com um minuto de silêncio em todo o Japão no horário que completou sete dias de uma das mais terríveis catástrofes por que passou aquele povo depois da Segunda Guerra Mundial, abalando até o universo dos seres humanos, que está solidário com o povo japonês.

IMPERADOR

Imperador Akihito durante pronunciamento oficial sobre a tragédia japonesa

Os terremotos secundários continuam ocorrendo em todo o Japão, que enfrenta problemas de escalonamento do fornecimento de energia elétrica, que apresenta problemas das diferenças de ciclos (50 e 60), restrições no abastecimento de combustíveis e alimentos, dificuldades de deslocamento por todas as regiões, paralisações de muitas empresas, riscos de contaminações radioativas e toda a sorte de dificuldades. Ainda há riscos difíceis de serem estimados. Inúmeras são as reportagens publicadas nos importantes jornais internacionais surpresos com o caráter do povo japonês que a tudo aceita com paciência extrema, sem reclamar, sabendo das limitações de todos que tentam ajudá-los.

É preciso lembrar que a região diretamente afetada conta com cerca de meio por cento da população japonesa estimada em 126 milhões de habitantes. Toda a província de Fukushima que ficou conhecida mundialmente por problemas nas suas usinas, que elevaram a avaliação dos riscos da Agência Internacional de Energia Atômica. A população desta província está estimada somente em cerca de 2,5 milhões de habitantes. Sua capital, do mesmo nome Fukushima, dista a mais de 45 quilômetros destas usinas, fora da faixa de 30 quilômetros estabelecida pelas autoridades para evacuação de forma preventiva. Algumas pessoas contatadas que moram nesta província relatam que sentiram abalos como os que são constantes, e lutam com as dificuldades de abastecimento. É uma região com poucos brasileiros residentes, e alguns deles foram evacuados, mesmo fora da área delimitada pelas autoridades.

Estima-se que cerca de 500.000 pessoas estão sem residência, sendo precariamente assistidas em acampamentos a que foram transformadas muitas escolas e outras grandes dependências, com limitações de todas as ordens. Aos poucos começam a receber assistência, como cobertores, alimentos racionados, combustíveis limitados. As buscas aos desaparecidos, ainda de mais de 10.000 pessoas, continuam enfrentando um clima rigoroso, inclusive com nevascas. As dificuldades são apreciáveis, mas a assistência está cada vez mais organizada.

A luta para a eliminação das radiações das usinas vem contando com heróicos trabalhos de muitos funcionários e informações constantes estão sendo oferecidas pelas autoridades, ainda que muitos no exterior aleguem que não contam com total transparência nas informações. É verdade que as autoridades japonesas estão tentando os meios disponíveis, que aparentam ser improvisados, e até o momento só conseguiram evitar o agravamento dos aquecimentos, que se espera seja reduzido rapidamente. Para evitar novas explosões que liberam elementos que estiveram em contato com os materiais nucleares que emitem radiações, como o urânio e o mais perigoso, plutônio.

Os efeitos econômicos imediatos foram os inversos dos esperados, pois o natural era haver um fluxo de fuga dos recursos financeiros do Japão. No entanto, o influxo elevado provocou uma exagerada valorização do iene, que chegou a 76 por dólar norte-americano. A intervenção coordenada das autoridades japonesas com as das principais economias do G7 conseguiu desvalorizá-la até 81,26 ienes por dólar, durante esta sexta-feira no Japão.

Estima-se que existam centenas de bilhões de dólares dos fundos japoneses aplicados no exterior, e parte deles vai acabar retornando ao Japão para ajudar a financiar a reconstrução, inclusive com a compra de bônus do governo japonês. Estes recursos são da população japonesa que está engajada no esforço de sua recuperação, mas acabam valorizando o seu câmbio que dificulta suas exportações. As autoridades dos outros países vão continuar a ajudar o Japão para que isto não aconteça. Estima-se que tais recursos sejam de muitas centenas de bilhões de dólares.

Os problemas japoneses estão forçando a revisão das usinas em muitos países, e tudo indica que aperfeiçoamentos serão introduzidos para serem aceitos pelas suas populações, já que alguns povos dependem fortemente da energia atômica. Países e cidades que se situam nas falhas geológicas estão se apressando para melhorar suas tecnologias, copiando parte das japoneses.

O Japão se recuperou dos bombardeiros atômicos de Hiroshima e Nagasaki e algumas dezenas dos que sofreram muito com as radiações por dias nas cidades destruídas e contaminadas vivem no Brasil, até muitos idosos, com boa saúde. Filhos de casais afetados tiveram filhos saudáveis, hoje adultos, que desenvolvem campanha pela abolição das armas nucleares.

É possível contar com toda a população japonesa que está economizando energia e alimentos para que todos tenham o mínimo. Os esforços de reconstrução serão gigantescos e os japoneses contam com uma população motivada, com tecnologias adequadas, como as das construções de edifícios e recursos de suas poupanças. A ajuda do exterior é bem vinda, mas marginal.

Torcemos para que tenham sucesso e que o pior já tenha passado.



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