Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

The Economist Expressa o Que Japoneses Não Falam

24 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

A importante revista de influência mundial, The Economist, editada em Londres, expressa duramente o que alguns japoneses podem pensar, mas não ousam explicitar. Ao mesmo tempo em que elogia o estoicismo do povo japonês diante de um incompreensível desastre natural, colocam de forma implacável suas críticas à ineficiência do Estado e do governo. Registram que a assistência às vitimas demorou a chegar, com o lamentável governo do primeiro-ministro Naoto Kan concentrando suas atenções aos problemas das usinas atômicas de Fukushima Daiichi, onde ficou evidente a ineficiência da empresa TEPCO.

A revista registra que no episódio de Kobe já ficou evidente a ineficiência do Estado e do governo, fazendo com que os eleitores japoneses interrompessem o longo período em que sua política foi dominada pelo LDP – Partido Liberal Democrata, que acabou sendo substituído pelo DPJ – Partido Democrata do Japão que comanda o atual governo. Mas as promessas de mudanças não ocorreram. O governo demorou em conscientizar-se da magnitude do desastre, e o estoque de reserva estratégica de gasolina só foi acionado depois de dias, segundo The Economist.

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Logotipo do The Economist, que faz duras críticas ao primeiro-ministro Naoto Kan

É evidente que The Economist não consegue entender totalmente o espírito japonês, que está se unificando para atender às vítimas e iniciar a reconstrução, deixando de lado suas diferenças. Mas não há dúvidas que suas duras críticas devem ser consideradas. Os problemas do relacionamento espúrio do grande empresariado com os políticos vêm sendo lamentados por muitos japoneses, e não é de hoje. Está faltando um verdadeiro líder capaz de introduzir as mudanças que o Japão necessita. A revista chega a questionar: “Who the hell’s in charge?” (Quem está no comando?)

As ações para eliminar as dificuldades das usinas atômicas de Fukushima Daiichi são consideradas incompreensíveis, e mesmo os heróicos trabalhos de alguns funcionários não conseguem superar os erros cometidos no passado, entendendo-se que houve uma permissividade das autoridades na suas correções, que continuam a preocupar os estóicos japoneses e o resto do mundo.

Com a defesa civil existente no Japão, não se pode compreender como a assistência às vitimas tenha demorado tanto, no suprimento de cobertores, alimentos, medicamentos, combustíveis indispensáveis, havendo uma burocracia que ficou atônita diante da magnitude do desastre, imobilizada por demasiado tempo. O governo, segundo a revista, deveria ter decretado a emergência com maior velocidade, o que é admitida pelas autoridades.

A revista registra o contraste do estoicismo do povo japonês com a fraqueza do Estado, citando casos concretos de início das atividades de assistência e recuperação de japoneses, dentro dos escombros que transformaram localidades em verdadeiros necrotérios a céu aberto.

Mesmo que venha do exterior, os termos das críticas foram formulados num tom raro numa revista do porte do The Economist, revelando um inconformismo que não pode ser expresso sequer pela oposição mais aguerrida no Japão.



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