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Elegância Sóbria da Florada das Glicínias

30 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 4 Comentários »

Passada a esperada e celebrada florada das cerejeiras, eis que vem o Golden Week (grande feriado da primavera). Turistas que viajam pelo Japão nesta época se encantam com outra florada, a das sedutoras flores de glicínia. De uma cor entre o lilás e o roxo, o fuji-iro (cor da glicínia) talvez seja a cor considerada genuinamente japonesa. Representa uma cor elegante e refinada de antigas épocas – como no período Heian (794-1183), a grande época clássica japonesa, quando reinava o poderoso clã Fujiwara.

Do ideograma fuji (glicínia) provem muitos nomes de família; a começar dos Fujiwara (campo de glicínias), e Fujimura (vila das glicínias), Fujisaka (ladeira das glicínias), Fujiki (pé de glicínia). O mesmo ideograma é lido tô, dô, em leitura chinesa, e compõe sobrenomes como Ito, Sato, Kondo, Goto: todos contendo o ideograma “glicínia”, que, diz a lenda, é muito auspicioso e afortunado ter no seu nome. Vale esclarecer que o fuji do Monte Fuji escreve-se em outro ideograma, nada tendo a ver com glicínia.

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Em crônicas de duas das mais antigas escritoras clássicas japonesas, Murasaki Shikibu e Sei Shonagon, do período Heian, a glicínia e sua cor são muito citadas. Uma das personagens mais importantes de Genji Monogatari (“História de Genji”) é a senhora de Fuji-tsubo. O próprio nome da autora, Murasaki, significa “lilás arroxeado”. E em Makura no Sôshi (“Livro do Travesseiro”), Sei Shonagon discorre sobre essa cor símbolo da aristocracia e da elegância. Talvez date dessa época certa preferência por essa cor para se tingir papéis, ou tecidos para kimonos, cortinados, lenços (furoshiki), bolsas de pano. É a cor que japoneses definem como shibui: cor clássica e sóbria, de elegância inata, sedutora e refinada.

Dentre as muitas lendas envolvendo princesas e donzelas, uma das mais populares até hoje talvez seja a da Fuji Musume (“Donzela Fuji”), que se tornou dança clássica do repertório do teatro Kabuki: retrata a glicínia que se apaixona por um mancebo e, personificada em romântica donzela, tenta seduzir o eleito. Ela vem sempre vestida em rico kimono bordado com cachos de glicínias, trazendo à mão um ramo dessas flores. Em tempos passados, no Dia das Meninas (três de março) era requinte presentear as filhas com uma boneca Fuji Musume estilizada.

No Hemisfério Norte, existem diferentes espécimes de glicínias. No Japão, as que estão em plena floração nesta época são da espécie wisteria japonica floribunda. É um tipo de vinha trepadeira, cresce enrolada em fortes troncos de árvores. Em jardins cultivados, as glicínias se espalham em caramanchões e suas flores, em cachos, caem como cascatas. A espécie mais espetacular é a sunazuri no fuji, “glicínia que toca o chão”: os cachos de flores púrpuras, de quase um metro de comprimento, chegam a tocar o chão. Sua fragrância é também sóbria e refinada, e remete ao conceito “yugen” de estética japonesa de serena elegância inata, inspirando desde sempre poetas como os haikaistas Bashô (1644-1694) e Issa (1763-1828).

Imigrantes japoneses, como Masayuki Fujiki, tentaram introduzir a glicínia no Brasil. Ela gosta de muito sol e amplo espaço, mas, planta de clima temperado, a sua florescência em muitas cidades do interior do Estado de São Paulo não chega a ser tão espetacular. Na cidade de São Paulo, algumas pessoas como Eunice e Paulo Yokota se esforçaram para fazer florescer glicínias em jardins e pátios. Mas enfrentaram percalços.


4 Comentários para “Elegância Sóbria da Florada das Glicínias”

  1. jorge h. sato
    1  escreveu às 13:21 em 13 de julho de 2012:

    Dr.Paulo,
    Gostaria de visitar a florada de fuji e sakura no Japão, quais são os locais e
    a melhor época , sem ser golden week,
    é melhor antes ou depois?
    Grato

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 22:50 em 13 de julho de 2012:

    Caro Jorge H. Sato,

    A florada do sakura é no inicio da primavera, mas dependendo da temperatura em cada ano pode ser antecipada (se fizer calor). Pode ser apreciado em Tóquio como em Quioto (apesar de ser mais ao sul, cerca de duas semanas depois de Tóquio), portanto, antes do Golden Week. Lamentavelmente, o fuji (glicínia) é para depois do Golden Week, e também pode ser apreciado em Quioto e outras localidades. No último dia 30 de abril, postamos um artigo de Naomi Doy com o título “Elegancia sóbria da florada de glicínia”.

    Paulo Yokota

  3. marcia da silva
    3  escreveu às 20:58 em 5 de agosto de 2012:

    Gostaria de comprar mudas de glicínia. Pode me informar onda achar em São Paulo?
    Agradeço desde já. Muito Obrigada.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 08:46 em 6 de agosto de 2012:

    Cara Marcia da Silva,

    Acredito que pode ser obtido em diversos lugares. Se puder telefonar para o Alberto (55) 11 94648-6797 ou celular (55) 11 99669-9798 certamente ele conseguirá para V., pois não sei onde V. mora.

    Paulo Yokota


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