Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Qual a Orientação Para a Reconstrução Japonesa?

28 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , | 18 Comentários »

Todo o mundo fica impressionado com o ritmo de reconstrução do Japão, mas não se percebe qual a ideia-força que orienta as milhares de ações de reconstrução que estão sendo executadas, por falta de uma liderança de um estadista. A imperiosidade da reconstrução é uma oportunidade para tirar o Japão do marasmo em que se encontrava nas últimas décadas, e numa sociedade que não dispõe de uma forte classe política, a força do trabalho coletivo costuma estar fundamentada numa estratégia clara para todos que estão participando dela, sem necessidade de palpites de analistas estrangeiros. Mas é possível que de fora haja uma perspectiva que nem sempre é perceptível por aqueles que estão envolvidos diretamente com a emergência.

O mundo verifica que o Japão dispõe de uma engenharia de construção respeitável, pois os grandes edifícios resistiram aos fortes tremores que ocorrem numa sequência interminável. A reconstrução ocorre aceleradamente, pois os japoneses estão habituados a utilizar materiais pré-fabricados, mesmo na sua infraestrutura, havendo residências que podem ser montadas em poucos dias, principalmente para atender os seus desabrigados. O estoicismo e a capacidade de aglutinação dos japoneses são admirados.

A necessidade costuma ser a mãe das inovações e muitos alimentos práticos, que utilizam o mínimo de energia, estão com elevada demanda, a partir do oniguiri, o simples bolinho de arroz. Já estavam acostumados para macarrões instantâneos de boa qualidade, como todos os tipos de alimentos pré-preparados, baratos, que estão disponíveis nas muitas lojas de conveniência e que fazem parte do cotidiano japonês. Somente os estrangeiros é que pensam que os japoneses consumem sashimi e sushis todos os dias; o que eles mais consomem diariamente são os populares udons (macarrão ensopado), soba (macarrão sarraceno), raisucare (do inglês rice curry, um arroz com uma mistura de carnes e legumes com molho indiano), algumas vezes com um pouco de missogiru (sopa de soja fermentada) e um tsukemono (conserva de legumes levemente fermentado), que podem ser encontrados nas formas semielaboradas industrialmente.

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O consumo de produtos de luxo, que denotam ostentação, está em baixa. As inovações tecnológicas eletrônicas demonstraram a sua utilidade numa emergência como a japonesa, mas também no apelo aos que eram considerados os mais humildes do mundo árabe. São twitters, facebook, ipod, ipad, tablets, muitos outros produtos e serviços que são quase descartáveis, de uso temporário, pois inovações são lançadas continuamente.

Parece que o mundo se tornou descartável. Roupas, alimentos, casas, eletrodomésticos, veículos e tudo que faz parte do nosso cotidiano parecem que se tornou de uso temporário, não só no Japão. Saíram de moda produtos de longa durabilidade, qualidade apurada e caros. Muitos dos novos produtos japoneses tinham estas características, que se acentuaram com as transformações por que passam.

Tudo isto está sendo disseminado mundo afora, de forma natural, pois os produtos japoneses possuem ainda uma boa imagem que precisa ser reforçada, pois está sendo arranhada. Pelas atuais dificuldades automobilísticas, perda de competitividade com outros asiáticos, e os problemas de suas velhas usinas nucleares e a incapacidade de equacionar rapidamente as dificuldades de radiações. O intercâmbio tecnológico com o exterior parecia baixo, mas agora estão sendo forçados a admitir a dos norte-americanos, franceses e outros estrangeiros. Um pouco de humildade sempre é interessante.

Certamente, isto e muito mais está sendo pensado intensamente pelos japoneses nos seus muitos think tanks, centros acadêmicos, ministérios, mas tudo parece demasiadamente burocratizado e lento para os olhos dos estrangeiros. Os jovens japoneses estão diante do desafio da reconstrução, não só interna, mas de sua posição no mundo. Todos esperam ter uma resposta à altura das tradições e história do Japão.

Eles estão mais preparados que seus antepassados para atuarem de forma integrada com o mundo globalizado. Dominam outros idiomas, conhecem outras formas de viver, e a duras penas estão aprendendo que não se pode continuar com a cultura de Galápagos. Ainda que vivam num arquipélago limitado em recursos naturais, sujeitos a muitos desastres, eles contam com recursos humanos que devem reconhecer não ser as mais respeitáveis do mundo. É preciso que voltem a se empenhar como quando eram pobres e precisavam conquistar mercados no exterior.

É imperativo acelerar a sua miscigenação com outras etnias e culturas, respeitando as qualidades de outros que são tão capazes como eles, e ainda estão dotados de maior capacidade de usufruir a alegria de viver. Os japoneses têm tudo para dar a sua contribuição, abandonando ideias obsoletas e ultrapassadas, que devem ser enterradas com as homenagens que devem aos seus desaparecidos.


18 Comentários para “Qual a Orientação Para a Reconstrução Japonesa?”

  1. Orozimbo Benevides
    1  escreveu às 17:28 em 28 de abril de 2011:

    Caro Escritor:

    Em 2010, o Japão registrou 32.156 patentes, ficando em segundo lugar no ranking da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (atrás apenas dos EUA). Aliás, a PANASONIC foi a empresa líder em registro de patentes. Aquele país tem, outrossim, um dos maiores orçamentos em tecnologia do planeta. Como é cediço, a cultura nipônica sempre valorizou a educação.

    Acho, portanto, que o povo japonês tem totais condições para construir usinas mais seguras no futuro (eólica, solar etc.) e, também, continuar a desenvolver outros produtos competitivos (carros, computadores, televisões, robôs, motos etc.).

    Agora, acho que cada país, cada povo, cada cultura tem suas próprias peculiaridades. Não é pelo fato do Brasil ter um povo mestiço que, obrigatoriamente, os japoneses devam se misturar com outras etnias. Não é pelo fato de gostarmos tanto de futebol, que eles devem “abandonar” o “baseball”. Acho importante preservar a própria cultura, como eles fazem. Taiko, gueixas, sumô, xintoísmo, “ikebana”, “origami”, cerimônia do chá, vinho de arroz, caligrafia, “kenjutsu”, quimono, “Kabuki”, empresas arcaicas (Sudohonke, Toraya, Hoshi Ryokan, Kongo Gumi, Takenaka) etc, ou seja, muitas coisas foram e continuam sendo preservadas.

    Se o Japão chegou onde está, ou seja, potência econômica e tecnológica, é pelo fato de ter extraordinárias qualidades. Defeitos todos temos, sejam norte-americanos, caboverdianos, australianos, alemães, brasileiros etc.

    Aliás, aprecio muito a beleza delicada das japonesas. Mestiças são bonitas também, mas a “puras” são belíssimas.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 21:55 em 28 de abril de 2011:

    Caro Orozimbo Benevides,

    Muito obrigado pelos seus comentários e contribuições. Esteja certo que conheço razoavelmente o que V. está apontando, pois além de ter dupla cidadania, brasileira e japonesa, tenho parentes e muitos amigos no Japão, onde morei e visitei mais de 100 vezes. Esteja certo que conheço de perto muitas coisas que V. apontou, sendo que parte dela os japoneses aperfeiçoaram o que aprenderam dos chineses, via coreanos.
    O Japão está aumentado a sua miscigenação, com a presença de muitos estrangeiros. Sou de uma família de quatro irmãos, um deles casado com não descendente de japoneses. Na geração dos meus filhos e sobrinhos, de 10 somente um tem relações com descendentes de japoneses. Espero que seja um exemplo do nível de integração dos descendentes de japoneses na sociedade brasileira.
    A valorização da educação é uma contribuição de Confúcio, que influenciou muitos os orientais, chineses, coreanos e japoneses, sendo que o atual sistema educacional chinês é mais eficiente que o japonês. Aprendí que cerimônia do chá, ikebana e outras artes eram japonesas, mas verifiquei “in loco” que também existiam antes na China, talvez com menos sofisticação que ocorreu na época que a capital japonesa era em Quioto.
    O problema da miscigenação gerar criatividade não é somente humana, mas ocorre com outros animais e mesmo plantas, é uma questão de genética.
    Esteja certo que, mesmo tardiamente, o Japão está intensificando o seu intercâmbio com o exterior, e o lamentável caso de Fukushima Daiichi está mostrando para os japoneses, dolorosamente, que isto pode acelerar na soluão de alguns problemas.

    Paulo Yokota

  3. MARIANA RESENDE
    3  escreveu às 19:41 em 28 de abril de 2011:

    Prof. Paulo Yokota:

    É mister tomarmos cuidado ao se criticar o Japão, com a nossa visão ocidental de mundo. O oriental (coreano, chinês e japonês) tem, certamente, uma olhar que lhe é peculiar deste planeta.
    Ao acompanhar a conduta dos nipônicos após o trio abalo sísmico, maremoto e crise nuclear, não tive dúvidas sobre a minha afirmativa anterior. A polidez, a delicadeza, a racionalidade e o respeito mútuo dos japoneses foram espetaculares.
    Entendo que um país apaixonado por tecnologia e Internet como o Japão e presente nos cinco continentes com suas multinacionais, procura, sim, aprender com outros países e culturas. Até mesmo para adequar os seus produtos e serviços aos mercados consumidores alienígenas, há, por certo, um estudo pelos japoneses de outras nações.
    Diga-se de passagem, que muitos turistas nipônicos visitam, frequentemente, os EUA, o continente europeu, o Brasil, a África etc. Indubitavelmente, aprendem um pouco sobre costumes estrangeiros. Sei, inclusive, de professores de universidades do Japão realizando pesquisas em instituições de ensino superior no Brasil, na Europa e nos EUA e vice-versa.
    A meu ver, os japoneses, atualmente, não são tão fechados assim. Li, hoje, no O GLOBO uma carta do primeiro ministro japonês agradecendo-nos pela ajuda e solidariedade, o que é uma atitude de humildade e não de isolamento.
    Lembre-se, igualmente, da ajuda humanitária que o Japão presta a paises do continente africano e outros que sofreram com catástrofes como o Haiti e a Indonésia. É ato de amizade, benevolência e não de isolacionismo.
    E a cooperação tecnológica com o Brasil no tocante ao sistema de televisão digital? Há, também, algumas alianças entre japoneses e sul-coreanos em setores como siderurgia e exploração de petróleo. Existem artigos publicados em revistas importantes que foram elaborados, conjuntamente, entre japoneses e estadunidenses. Deveras, o Japão mudou muito nas derradeiras décadas.
    Então, é necessário termos cuidado nas censuras aos japoneses.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 21:36 em 28 de abril de 2011:

    Cara Mariana Resende,

    Muito obrigado pelos seus comentários. Tenho a impressão que não nos conhecemos antes, mas estou tendo o prazer de discutir consigo, mas acho que também V. não me conhece muito. Tenho dupla nacionalidade, a brasileira e a japonesa, pois nascí antes da Guerra e fui registrado no Consulado japonês. Visitei aquele país mais de 100 vezes, morei por lá, onde tenho parentes e amigos. Fui comissário do governo brasileiro para ciência e tecnologia na EXPO TSUKUBA 85, na maior cidade cientifica daquele país. Visitei muitas fábricas japonesas, como os seus laboratórios de pesquisa, possuindo muitos amigos japoneses, acadêmicos, empresários e intelectuais. Ajudei a trazer para o Brasil a tecnologia japonesa de banda larga de alta definição que estamos implantando na televisão brasileira e sul americana.
    A expressão “cultura de Galápagos” não é minha, mas deles japoneses.
    Respeito profundamente os aperfeiçoamentos que fizeram sobre os conhecimentos chineses, que conhecí também “in loco”. Oliveira Lima que citei no comentário anterior, nos ensinou que devemos anotar todas as primeiras impressões que costumam ser boas, mas para ser justo, com um pouco de tempo vamos notando as mazelas, em qualquer país ou região. Isto não desmerece ninguem.
    Estudei nas fábricas japonesas o processo de acumulação da sua tecnologia, e regra geral, decorre do acumulo coletivo de muitas contribuições das observações do dia a dia. É um patrimônio importante, mas e sempre existe o mas, eles pouco conhecem das melhores tecnologias desenvolvidas no exterior, quer seja nos Estados Unidos ou na Europa. Sempre é bom visitar ou conhecer, mesmo superficialmente, o que se faz no exterior, e melhor ainda quando existe um profundo intercâmbio com outros conhecimentos, ou nos termos que V. utilizou, o olhar deles. Melhor ainda conviver com eles, para conhecer seus pontos fortes e até os fracos. Venho fazendo isto há mais de 50 anos.
    Em 1985 tive o privilégio de escolher como tema do Pavilhão Brasileiro a tecnologia do etanol que apresentei pessoalmente ao Principe Herdeiro e senhora, atual Imperador e Imperatriz. Hoje, depois de mais de 25 anos, estamos produzindo em escala comercial o plástico biodegradável, utilizando esta matéria prima. Na enciclopédia de Joseph Needham sobre a China lá está que ele andou numa ambulância em torno de 1940 naquele país, movido a alcool.
    Tive também o privilégio de trazer missões japonesas para visitar o Brasil, sendo que numa delas que tinha os mais importantes empresários japoneses, o último na hieraquia japonesa era Eiji Toyoda, nada menos que o presidente da Toyota, que é meu amigo pessoal, como muitos outros grandes empresários japoneses. O meu guru foi Toshiwo Doko, que foi presidente da Ishikawajima Harima, da Toshiba e do Keidanren, a quem sempre acompanhei nas suas visitas frequentes ao Brasil. Mostrei-lhe Itaipú por dentro, quando da sua construção, e ele registrou no livro de visitas que o Brasil tinha a mais avançada tecnologia de grandes usinas hidroelétricas, ele que em 1914 tinha construido a sua primeira na Coreia.
    Resumindo o que daria um livro, tenho admiração profunda pelas coisas japonesas, mas pesquisei e conhecí o que eles absorveram dos chineses, via coreanos, como a cerâmica de alta temperatura.
    Nos últimos 20 anos os japoneses se atrazaram, mas continuam com um respeitável cabedal de conhecimentos.
    Se for do seu agrado podemos continuar o debate, mais aprofundado, usando o email, pois acho que esta discussão que para mim é prazeirosa, pode ser desinteressante para os outros visitantes do site.
    Paulo Yokota
    email: [email protected]

  5. mestiço
    5  escreveu às 23:35 em 28 de abril de 2011:

    minha familia tem japas q se casaram com negros,indios e nordestinos e muitos sao dekaseguis no jp

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 05:01 em 29 de abril de 2011:

    Caro Visitante que utiliza o nome mestiço,

    Não costumo utilizar expressões como as suas, mas tenho orgulho dos brasileiros que são mestiços. Todas as famílias dos descendentes de japoneses possuem alguns parentes trabalhando no Japão, e sempre considero muito aqueles que tiveram a coragem de se transferir para outras regiões, internamente no Brasil ou no exterior, como no Japão. Eles são uns bravos, pois abandonaram o ambiente em que se encontravam e conheciam, tendo a ousadia de enfrentar situações pouco conhecidas. São pessoas de iniciativa, sofrendo na adaptação para os locais a que se dirigiram, e todos os países desejam a sua colaboração.

    Paulo Yokota

  7. Jose Comessu
    7  escreveu às 02:33 em 29 de abril de 2011:

    Caro Paulo,

    Muito pelo contrario, muitos querem saber das relações bilaterais Brasil Japão quando elas eram fortes em parcerias, nos tempos do milagre economico. USIMINAS, Ind Naval, Soja no Cerrado, etc.

    Hoje se fala nas mesmas coisas, mas com atores diferentes. Eike Batistas, Vale, Estaleiro Atantico Sul,Coreanos, Chineses.

    Esse assunto que poderia virar um livro, quem sabe de memorias.

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 04:53 em 29 de abril de 2011:

    Caro Jose Comessu,

    Não entendí claramente o seu ponto de vista, pois seu comentário começa com um “Muito pelo contrario, …”. Que fizemos bilateralmente muitos projetos, inclusive com minha participação pessoal, não tenho a mínima dúvida.
    Alguns pequenos projetos estão sendo executados, e os maiores estão pouco divulgados, como a recuperação do Rio Tiete, os melhoramentos sanitários e de águas na Baixada Santista e junto ao Guarapiranga, os grandes projetos com a Petrobrás (O JBIC tem financiado mais de US$ 8 bilhões nas plataformas, refinarias e gasodutos) com os japoneses. Quanto aos projetos mencionados, alguns com os chineses, ainda encontram-se nos estágios iniciais, e nem se sabe ao claro o que será executado exatamente. Os chineses adiantaram US$ 10 bilhões para a Petrobrás, para um começo de conversa.
    Mas o artigo que V. comentou trata da reconstrução do Japão.

    Paulo Yokota

  9. Juliana Gomes
    9  escreveu às 07:23 em 29 de abril de 2011:

    A chamada “cultura de Galápagos” é bastante exagerada. Alguns renomados juristas brasileiros fundaram o Instituto de Direito Comparado Brasil-Japão. Eles mantêm contato com professores da Faculdade de Direito da japonesa “Keio University”, ocorrendo um estudo recíproco da lei, doutrina e jurisprudência do Brasil e do Japão. Já teve palestrante nipônico vindo ao Brasil falar do Direito do Consumidor de seu país. O nissei Kazuo Watanabe, desembargador aposentado do TJSP e ex-mestre da USP, também ministrou palestra na “terra dos samurais”. De clareza solar que os japoneses demonstram desejo de aprender com outras culturas.

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 10:24 em 29 de abril de 2011:

    Cara Juliana Gomes,

    Muito obrigado pelos seus comentários. Conheço tanto o pessoal da Faculdade de Direito da Universidade de Keio, como outros dos seus dirigentes, bem como o Professor Kazuo Watanabe, além do Dr. Masato Ninomiya que vem realizando um interessante trabalho de relacionamento, tanto com aquela Universidade como a Universidade de Tokyo.
    Todos costumam fazer considerações muito elegantes, e os aspectos críticos da sociedade e economia japonesa não são discutidos, como também não é de bom tom discutir as mazelas brasileiras. Mas, para ser justo, como nos ensinou Oliveira Lima, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras no seu “No Japão, Impressões da Terra e da Gente”, 1903, é preciso registrar as primeiras impressões que costumam ser positivas, com as dificuldades que podem ser percebidas morando naquela terra, por mais tempo.
    Admiro muitas das qualidades dos japoneses, mas foram eles que desenvolveram este conceito de “cultura de Galápagos”, reconhecendo que dentro da importância internacional que o Japão tem, eles enfrentam nas últimas décadas uma estagnação, sendo ultrapassados até por outros países asiáticos. Aprendí muitas coisas morando no Japão e convivendo com eles por mais de 50 anos, e tenho dupla cidadania.
    As críticas são apresentadas porque o Japão passa por um ponto de inflexão, e as dificuldades dos desastres naturais demonstram que também eles necessitam de um intercâmbio maior com o exterior, principalmente daqueles que possuem maiores experiências no trato dos problemas como os de radiação. Mas eles possuem moeda de troca, com a notável experiência na construção civil que resiste aos tremores, reconstruções rápidas e uma defesa civil (que foi oferecida gratuitamente para os brasileiros, mas recusada pelas autoridades estaduais e municipais) de grande eficiência.
    Eles aprenderam muito com os chineses, e em se tratando de Direito, acho que desconhecemos tudo que os mongois fizeram, como uma zona de livre comércio que ia da China até a Europa, a imunidade diplomática até para os representantes dos seus inimigos, o primeiro correio conhecido na civilização entre muitas outras coisas. Este site tem o objetivo de provocar o maior conhecimento dos sul americanos sobre a Ásia que representa 60% da população e da economia mundial, e dos asiáticos sobre a América do Sul, onde eles pensam que existe somente a Amazônia, carnaval e futebol. Aliás, nas minhas andanças pelos confins da Ásia, a figura mais conhecida deles eram os futebolistas brasileiros.
    Paulo Yokota

    Paulo Yokota

  11. Lucas Capez
    11  escreveu às 14:38 em 29 de abril de 2011:

    Prezado Amigo:

    Nem todo nipônico acha que o Brasil é só futebol, carnaval e Amazônia. A minha prima estudou na Universidade Estadual de Campinas e conheceu universitários japoneses, que faziam intercâmbio. Eles eram extremamente curiosos e visitaram diversos estados brasileiros.
    Com certeza, a reconstrução do Japão se dará de forma mais célere do que a prevista pelo Banco Mundial (no caso, em cinco anos). Até os presidiários do Japão doaram o equivalente a 260 mil dólares.

    Site da NHK:

    Prisioneiros japoneses doam mais de 260 mil dólares para flagelados do terremoto e tsunami

    Prisioneiros de todo o Japão doaram o equivalente a mais de 260 mil dólares para os flagelados da catástrofe do dia 11 de março.

    O ministro da justiça Satsuki Eda disse à imprensa nesta terça-feira que mais de 2,8 mil prisioneiros de todo o país doaram fundos que ganharam nas prisões e centros de detenção.

    Segundo Eda, o dinheiro foi enviado à Sociedade da Cruz Vermelha do Japão e outros grupos que estão aceitando doações.

  12. Paulo Yokota
    12  escreveu às 18:26 em 29 de abril de 2011:

    Caro Lucas Capez,

    Obrigado pelos comentários. Estou consciente que existem muitos japoneses que conhecem o Brasil, como existem brasileiros que conhecem o Japão. Mas, na sua grande maioria, conhecemos-nos reciprocamente pelas coisas exóticas. Quanto aos prisioneiros japoneses, e infelizmente temos cerca de 2.000 jovens brasileiros nesta situação, eles são realmente recuperados, são obrigados a uma grande disciplina educacional, e saem com uma profissão totalmente recuperados como cidadãos.

    Paulo Yokota

  13. Tânia Virginia Gonçalves Cerqueira
    13  escreveu às 20:21 em 29 de abril de 2011:

    Paulo, desculpe minha ignorância; mas, o que seria a “cultura de Galápagos” que criou uma certa polêmica?
    Obrigada e parabéns pelos comentários que elevam o moral de um povo que sofre como qualquer outro do planeta; cada um à sua maneira.

  14. Paulo Yokota
    14  escreveu às 23:53 em 29 de abril de 2011:

    Cara Tânia Virginia,

    Muito obrigado pela pergunta. Como é do seu conhecimento Darwin encontrou este conjunto de ilhas preservando algumas espécies que não se encontravam em outras, num ambiente muito específico e isolado. No Japão, alguns entendem que eles desenvolveram uma particular cultura ajustada ao seu arquipélago, que têm dificuldade de ser ambientada em outros mercados mundo afora, neste processo de globalização. Por exemplo, a Toyota tinha alguns automóveis de qualidade, bem como uma forma específica do chamado “after service” e estava confiante que funcionava em todo o mundo, não entendendo que precisava também absorver tecnologias de outras empresas, sendo uma das últimas que passou a utilizar os chamados “flex fluer”, ou seja, que utiliza outras fontes de energia diferente da gasolina. Depois de sofrer as dificuldades que encontrou nos Estados Unidos está tentando adaptar-se, mas informa que não tem tecnologia para produzirem carros populares para competir com os chineses e indianos, quando no Brasil, por exemplo, existe uma nova classe média que demanda automóveis de qualidade média de preços mais acessíveis.
    Levei um grupo de empresários brasileiros da indústria textil para examinar uma das unidades mais automatizadas do mundo. Tudo funcionava a contento, com o mínimo de mão de obra, mas os empresários brasileiros que conheciam equipamentos alemães e suiços, estranhavam como só existiam equipamentos japoneses, mesmo que outros mais eficientes estavam sendo utilizados na Europa. Os japoneses têm uma particular forma de acumular tecnologia, mas seus ótimos funcionários não conhecem as indústrias alemãs e suiças, lamentavelmente.

    Paulo Yokota

  15. Everaldo S. Diniz
    15  escreveu às 15:55 em 30 de abril de 2011:

    Caro Yokota:

    Li o seu derradeiro comentário e gostaria de tecer algumas considerações.
    Bom, sempre fui um grande admirador de produtos de marcas japonesas. Minha moto, notebook, impressora, televisão, relógio, câmera fotográfica, gravador digital, celular (este nipo-sueco) etc. foram desenvolvidos por multinacionais nipônicas. Se eu sou japonês e sei que o meu país desenvolve produtos de alta qualidade, qual o motivo para não comprá-los? Por que adquirir um VW ou um Samsung, se o “minha” nação sabe fazer tão bem quanto ou até melhor? Canon, Seiko, Kawasaki, Nikon, Mizuno etc. são excelentes e geram, por conseguinte, milhares de empregos e arrecadação de impostos. Conheço muitos norte-americanos que não trocariam os seus Toyota, Honda e Nissan por Ford, GM ou Chrysler. Cansei de observar ianques com computadores Sony Vaio.
    O meu irmão é engenheiro mecânico (pela USP) e conheceu as filiais brasileiras da Yaskawa e da Yokogawa, que são peritas em automação industrial. Estas empresas estão entra as maiores fabricantes de robôs do mundo. Se os produtos que elas desenvolvem e fabricam são extraordinários e se prestam eficazmente aos serviços, por que adquirir um suíço ou alemão?
    A meu ver, o povo só está prestigiando a sua tecnologia e, deste modo, estimulando o desenvolvimento de sua terra.

  16. Paulo Yokota
    16  escreveu às 20:14 em 30 de abril de 2011:

    Caro Everaldo,

    Obrigado pelos seus comentários. Nenhum país no mundo vive mais autarquicamente, intercambiamos matérias primas, produtos semi elaborados, equipamentos e até bens finais. Até a duas decadas passadas o Japão tinha, como V. apontou, muitos produtos considerados os melhores, hoje eles não conseguem competir com seus vizinhos asiáticos. Na eletrônica, por exemplo, a maior parte dos componentes são produzidos no exterior, e eles estão perdendo mercados para coreanos, chineses e outros vizinhos. Não tenho dúvidas que na robótica os japoneses possuem uma elevada potencialidade, mas precisam dos norte-americanos para equacionarem alguns problemas de radiação nas usinas de Fukushima Daiichi. Estamos estimulando os japoneses a se juntarem aos brasileiros, pois necessitaremos de muitos robos no pré-sal, mas até agora, na formação de um grande centro gerador de novas tecnologias no Fundão tivemos adesão de muitas empresas internacionais que já estão instalando os seus laboratórios, mas nada conseguimos ainda dos japoneses.
    Evidentemente, se os produtos nacionais são competitivos, em qualidade e preço, deve-se utilizá-los, mas fazer isto artificialmente com uma proteção do mercado interno acaba gerando ineficiências, criando problemas na OMC. Salvo quando se trata de indústria nascente, onde a tributação e as concorrências permitem uma margem em torno de 15%. Existem muitos equipamentos japoneses que são competitivos, mas outros onde outros países já são mais competentes. Utilizar alguns equipamentos importados não é nenhum demérito.
    Por exemplo, nas usinas atômicas, os da Westinghouse tinham componentes da Toshiba, que acabou ficando com o seu controle, ainda que façam parte do chamado complexo militar industrial dos Estados Unidos. A competição internacional está ficando cada vez mais acirrada, e a indústria textel japonesa que era a maior do mundo, hoje é insignificante, dada a dificuldade que tiveram com o intercâmbio tecnológico. Hoje, os japoneses procuram contratar executivos e técnicos estrangeiros, sendo que Carlos Ghosn (brasileiro nascido em Rondônia) é um dos primeiros exemplos.
    Paulo Yokota

  17. Ana Paula dos Santos Silva
    17  escreveu às 19:10 em 30 de abril de 2011:

    Malgrado alguns digam que o Japão se ocidentalizou demais nas últimas décadas, é evidente que seu povo conservou muitas de suas peculiaridades. Mas não há como negar que o ocidente também acabou sendo influenciado pelos japoneses.
    Exemplificativamente, o uso de palavra tsunami tem sido preferido, ao invés de maremoto. A saudável culinária nipônica se tornou bastante apreciada no Brasil, nos EUA e alguns países europeus. Artes marciais como caratê, judô e, inclusive, sumô ganharam praticantes de diversas nacionalidades. Cerca de 60% dos desenhos animados exibidos no mundo são originários do Japão. A gigante Toyota passou a ser estudada e copiada por rivais. E assim por diante.
    Naquele arquipélago, podemos encontrar alguém consumindo PEPSI, mas sempre se nota uma essência genuinamente japonesa. Em que lugar do mundo teríamos PEPSI com sabor wasabi? E refrigerante sabor “unagi”, produzido por uma estatal do ramo de cigarros? E cerveja sabor peixe ou com adição de algas marinhas (como as da cervejaria ABASHIRI)? E os “Washlets” ?
    Além de serem bastante criativos (“Walkman”, carros híbridos e movidos a hidrogênio, tecnologia para terremotos, eletrodomésticos “high tech” etc.), os nipônicos sempre souberam melhorar tecnologias estrangeiras. O que denota o fato deles estarem antenados ao que sucede no mundo.
    À propósito, li que a empresa Daikin, do ramo de ar condicionado, fez um estudo minucioso sobre o sucesso da sul-coreana Samsung. A Nippon Sheet Glass, a Nissan e a Sony têm presidentes estrangeiros. É forte indício de que os nipônicos estão atentos para absorver culturas empresariais diferentes.
    Alguém acredita que o Japão ficará de braços cruzados vendo o crescimento da China?

  18. Paulo Yokota
    18  escreveu às 19:57 em 30 de abril de 2011:

    Cara Ana Paula,

    No atual mundo globalizado o intercâmbio tecnológico em todo mundo está aumentando e, lamentavelmente, nas duas últimas décadas, o Japão estava se atrasando. Na siderurgia, que é uma indústria básica, os japoneses hoje estão atrás dos chineses, coreanos e indianos. Na indústria automobilística a Nissan era uma das melhores, entrou em dificuldades e acabou como uma espécie de subsidiária da Renault, com o brasileiro nascido em Rondonia, Carlos Ghosn como presidente. Não tenho dúvidas que o Japão está na frente em algumas tecnologias, mas outros países estão avançando mais rapidamente em outras. Ninguem é ótimo em tudo, existem alguns setores em que nos destacamos e outros onde outros países já possuem melhores tecnologias. Intercambiar estes conhecimento é muito importante, e os japoneses, por utilizarem uma lingua menos utilizada no mundo que o português, tendo uma cultura muito diferenciada, encontram algumas dificuldades para aproveitar melhor o que existe de bom no exterior. Estão se esforçando, incorporando executivos e profissionais de outros países, pois as empresas japonesas eram das que menos tinham entre seus recursos humanos. A China esteve na vanguarda das inovações por milênios até a Revolução Industrial (veja os trabalhos de Joseph Needham de Cambridge), e está voltando a ocupar uma posição de destaque. O Japão está procurando criar uma comunidade asiática, como os europeus fizeram com a sua Comunidade Européia, pois sua população e recursos naturais e pequena quando comparada com as dos seus vizinhos asiáticos.

    Paulo Yokota


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