Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

“Cool Biz” nos Rastros do “Cool Japan”

13 de maio de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , ,

Quando foi implantando o racionamento de energia elétrica no Brasil entre junho de 2001 e fevereiro de 2002, brasileiros do sudeste até o norte tivemos um ataque: como vamos fazer agora? Mas logo conseguimos baixar as metas de quilowatts em níveis determinados para cada moradia (drásticos, para algumas famílias). Trocaram-se lâmpadas para fluorescentes econômicas, geladeiras para modelos com certificado de consumo, desligaram-se freezers, micro-ondas; famílias patrulhavam uso de chuveiros, TV e internet. Pela primeira vez estávamos aprendendo a usar racionalmente a energia elétrica. E nem estávamos saindo de uma guerra, tampouco de terremoto ou outras catástrofes: o sistema de geração com alta dependência hidrelétrica aliado à insuficiência de novos empreendimentos tinha sido agravado por longa e crítica estiagem. Além de trazer significativa redução no consumo de energia, o racionamento serviu também para educar o povo brasileiro. Com reflexos benéficos até os dias de hoje.

Com diversos reatores nucleares sendo desligados para verificação, e racionamento programado de energia elétrica ameaçado pela alta de consumo no verão, o Japão pós 11 de março está reavivando a campanha do Cool Biz, moda norte-americana que procura usar roupas informais para o verão. Introduzida no verão de 2005, governo Junichiro Koizumi, era para ajudar na redução da emissão de gases poluentes: propunha-se manter o ar condicionado em locais de trabalho a 28º C, e permitir uso de roupas leves, abolindo-se gravatas e paletós no Japão. Houve muitas resistências por parte dos conservadores homens japoneses, mas em todos os verões vem se tentando popularizar a medida. Este ano, o Cool Biz começou um mês antes e irá até outubro, com adesão até entusiasmada devido à situação. Cartazes na entrada de prédios em Tóquio pedem para residentes e trabalhadores colaborarem com a campanha.

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Em toda a região afetada pelo racionamento programado – áreas de Tóquio (Kantô), Shizuoka (Tokai) e nordeste (Tohoku), pessoas estão adquirindo geradores portáteis, pilhas, bicicletas, ventiladores (estes utilizam metade da energia elétrica consumida pelo ar condicionado). Aquecedores solares residenciais estão em alta. As mesmas medidas adotadas em lares brasileiros em 2001 estão sendo seguidas pelos japoneses. Só que por premência incomparavelmente mais grave, num país que já enfrentou, coletivamente, tantas outras provações.

O governo credita a residências o consumo de mais de 30% do total da energia do país. Mas a lei japonesa não tem autoridade para obrigar a redução do consumo. Entrementes, planeja invocar leis para empresas e fábricas cortarem em 15% o seu consumo. Corporações estão adotando novos turnos de trabalho, escalonando horários. A Associação das Montadoras de Carros comunica que vai abrir linhas de produção nos fins de semana, descansando às quintas e sextas feiras, e conclama para que as empresas adotem medida semelhante, em dias diferentes. A indústria de maquinaria para construção Komatsu é das primeiras a sinalizar que vai aderir.

Em passado recente, o conceito de Cool Japan teve muito da sua influência difundida internacionalmente em termos de cultura pop, moda, gastronomia, artes marciais etc., e plantou ícones ainda cultuados pelo mundo todo. Agora, o país está no limiar de mostrar caminhos ricos em experiências espirituais de fortaleza, perseverança e aglutinação coletiva. A autoconfiança e a vitalidade dentro do país, visando à reconstrução, poderão doravante contribuir positivamente em situações emergenciais que possam a vir ocorrer alhures.



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