Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Antes que Desapareçam os Ryokans no Japão

23 de maio de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais | Tags: , , ,

Vendo uma publicidade de elevadíssima qualidade de um ryokan, um hotel do estilo tradicional do Japão no jornal The Japan Today, aflorou na minha memória experiências incríveis que passei em alguns destes estabelecimentos. Fui procurar um livro que tenho a respeito destas relíquias, mas como sou muito desorganizado não o encontrei, pois deve estar em algum lugar, ou algum amigo esqueceu-se de me devolver.

Na primeira viagem que fiz ao Japão, há muitas décadas, eu estava hospedado num hotel do tipo ocidental e programei para conhecer um ryokan tipicamente japonês. A minha primeira experiência com um terremoto foi numa recepção, quando muitos convidados estrangeiros não percebiam o que estava acontecendo, mas os japoneses olhavam o teto assustados, enquanto um ruído rouco tomava conta do ambiente, fazendo tremer os lustres do salão. Havia ocorrido um terremoto de razoável intensidade. No dia seguinte, estava no ryokan, quando se repetiu um terremoto secundário, mais fraco, num pequeno edifício de madeira, que balançava todo, gerando um assustador ruído da fricção de madeiras, umas contra outras. Informaram-me que era mais seguro, exatamente por que balançava, mas a impressão que dava era que faltava o chão.

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Para quem não conhece um ryokan, eu diria que não se trata somente de um hotel tipo japonês. Além da incrível experiência de dormir sobre acolchoados sobre o tatami, uma placa que utiliza um tipo de vegetação que exala um perfume repousante, costuma-se utilizar um yukata, um confortável tipo de roupão informal. Costuma-se tomar um bom banho, um ofurô, sendo preciso lavar-se e se enxaguar antes da imersão numa confortante água normalmente mais quente. O normal é haver um farto jantar japonês sobre uma mesa colocada no tatami, onde uma anfitriã costuma acompanhar o hóspede, servindo e conversando agradavelmente. Quando o sonho chegar, depois de alguns sakês, bebida alcoólica produzida a partir de arroz fermentado, estende-se alguns futons, acolchoados japoneses sobre o tatami, para um sono repousante.

A decoração destes ryokans costuma ser de uma elegância sóbria, evidentemente com portas e janelas de correr, todas de madeira, com papel japonês que aparentam serem de folhas de seda. É indispensável haver um tokonoma, um canto mais nobre, onde é usual haver uma pintura japonesa da melhor qualidade, com um pequeno ikebana sobre um vaso de cerâmica de elevado bom gosto. As visões externas destes ryokans costumam ser excepcionais, mesmo não havendo grandes jardins, pois a arte de aproveitar pequenos espaços é da essência da cultura japonesa.

Certa vez, eu e minha esposa estávamos hospedados num ryokan nos Alpes japoneses, na rota mais tradicional que liga o Oeste ao Leste do Japão, onde estão preservadas as edificações mais antigas daquele país. Depois de uma noite repousante, quando abri as janelas fui premiado por uma visão inesquecível da neve que tinha caído durante a noite, fazendo com que o cenário acidentado daquela parte do Japão fosse algo raro de se encontrar nos melhores cartões postais.

A diária completa deste ryokan, incluindo o jantar e o café da manhã, que também é vasto no melhor estilo japonês, com direito a todos os serviços desta hospedaria, era uma pequena fração das grandes cidades, mais procuradas pelos turistas estrangeiros. E agora, com a crise que se abate sobre o Japão, existem ofertas imperdíveis, com tipos de atenções raros nas melhores partes do mundo.

Algo de qualidade superior também é encontrado nos onsen, termas japonesas, como a que encontramos com amigos no Norte do Japão, em Yamagata, onde fomos recebidos na entrada com um tipo de cerimônia de chá. São ainda inúmeros os ryokans que podem ser encontrados, mas devido ao cuidado que exigem, tendem a diminuir, e precisam ser aproveitando enquanto se dispõe delas, a custos razoáveis.



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