Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Chá Verde Nosso de Cada Dia

4 de maio de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura | Tags: , , , , , , | 4 Comentários »

A colheita do chá verde de 2011 já começou ao sul de Quioto, região conhecida pelo excelente Uji-cha. A primeira colheita das folhas de chá – shincha ichibancha (chá novo, primeira colheita do ano) – ocorre após meados de abril; este ano atrasou um pouco devido ao longo e rigoroso inverno. O chá levado da China no período Nara (710-794) passou a ser mais consumido no Japão quando se tornou parte de ritual budista, e a cerimônia do chá se difundiu entre a aristocracia japonesa. A partir de fins da era Edo, quase século XX, com a introdução de técnicas de produção em massa, seu uso se popularizou. O chá começou a ser cultivado em Uji, arredores de Quioto, onde o clima tépido era propício. Propagou-se para a região da província de Shizuoka – hoje a maior produtora do chá verde (ryoku-cha) no Japão, seguida por províncias de Kyushiu, mais ao sul (Kagoshima, Miyazaki), que também produzem chás de excelente qualidade. Mas Uji-Quioto ainda é a referência do chá verde.

O chá verde japonês consiste, grosso modo, de gyokuro, matcha, sencha e bancha. Gyokuro é o chá superior produzido com folhas mais tenras cultivadas quase 90% à sombra, protegidas por anteparos feitos de bambu. O matcha, produzido da mesma forma, é processado em pó para uso exclusivo em cerimônias de chá. São bastante caros. O sencha provém de plantação de chá cultivado em pleno sol; suas pequeninas e pontiagudas folhas são de vivo verde dourado, de sabor e fragrância acentuados. Imediatamente após a colheita, as tenras folhas são aquecidas a vapor por uns 30 – 40 segundos para selar o sabor e barrar a fermentação, e são secas, pressionadas, enroladas e armazenadas em lugar fresco. Diferentemente do kôcha (chá preto tipo inglês), oolong ou pu’ehr (chineses), que passam pelo processo de secagem por calor, e podem ser conservados por mais tempo.

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O chá verde shincha ichibancha precisa ser consumido logo. Seria como o Beaujolais Nouveau que celebra a vindima na França e é oferecido verde, sem fermentação, para consumo imediato. O sencha corresponde a 80% da produção do chá verde no Japão, e é o mais consumido pela população. À primeira colheita, segue-se a segunda, ainda na primavera; a terceira colheita, no verão; a quarta quase no outono, em setembro. O bancha é feito com folhas mais velhas após a colheita das folhas para sencha, no fim do verão. É um chá mais acessível, o tipo servido em restaurantes médios, japoneses ou chineses, na cidade de São Paulo. Mas as propriedades medicinais se mantêm. Vale lembrar que todo o chá que conhecemos (chinês ou japonês) provém da mesma espécie de planta, camellia sinensis.

As propriedades preventivas do chá verde são conhecidas há séculos na medicina chinesa: reduz a pressão alta, protege pele e células, antioxidantes combatem radicais livres e colesterol, polifenóis abaixam o nível de glicemia, flavonóides favorecem o sistema imuno-defensivo. Segundo o China Daily, pesquisas no Hospital da Universidade Nacional de Taiwan mostram que o chá verde está ligado a ossos mais fortes, sua ingestão previne a osteoporose. Sabia-se que propriedades do sencha são mais acentuadas quando se macera as folhas em um pouco de água quente antes de preparar a chávena. O programa NHK-Special-Gatten mostrou que elas se tornam ainda mais potentes quando o sencha é processado em pó e ingerido diluído em água quente; e pode-se ativar ainda mais o poder medicinal, preparando o sencha em pó com leite quente ou frio. Isso faz bastante sentido, pois os longevos tibetanos sempre tomaram o chá pu’ehr com manteiga de leite de iaque (bovino tibetano); na Inglaterra é tradição tomar chá preto com leite; no Brasil não dispensamos o café (ou cacau) com leite toda manhã. Um hábito sadio que nossos antepassados já intuíam e incorporaram? Então, para quem o gosto do sencha parece insosso, vale experimentar com leite, sem açúcar: o chá descerá suave, redondo, zen. E só de pensar que o sencha pode contribuir para uma vida saudável até os cem anos de idade… Bendito o chá verde nosso de cada dia!


4 Comentários para “O Chá Verde Nosso de Cada Dia”

  1. Lucas Capez
    1  escreveu às 19:34 em 4 de maio de 2011:

    Ao ler este artigo sobre chá verde, fiquei com vontade de experimentar outros tipos. Conheço apenas bancha, que tomei na casa de um amigo sansei.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 11:02 em 5 de maio de 2011:

    Caro Lucas Capez,

    Obrigado. Existem algumas empresas que trabalham com a importação de chás, principalmente orientais. V. pode procurar pelo http://www.tradbras.com.br, por exemplo, que tem um panfleto explicativo sobre o assunto. Existem em São Paulo, muitos estabelecimentos que trabalham com chás de muitas partes do mundo, como V. encontra no suplemento Paladar do jornal O Estado de S.Paulo.

    Paulo Yokota

  3. edilene
    3  escreveu às 11:29 em 17 de outubro de 2011:

    gosto muito desse chá adorei…. eu tomei uma vez e adorei . . .

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 11:25 em 18 de outubro de 2011:

    Cara Edilene,

    Muitos têem a mesma opinião sua.

    Paulo Yokota


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