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150 Anos de Utagawa Kuniyoshi

5 de junho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais | Tags: , , ,

O prestigioso jornal econômico japonês Nikkei publica um extenso artigo do jornalista Atsuo Ogawa sobre os eventos que estão marcando os 150 anos do desaparecimento de Utagawa Kuniyoshi (1797- 1861), o artista maior do ukiyo-e, a gravura japonesa reconhecida mundialmente. Muitos estudos e exposições estão marcando o evento, mostrando novas facetas do consagrado artista estão sendo apresentadas no Japão e no exterior.

Sob o título “Kuniyoshi: Espetacular Imaginação de Ukiyo-e” (Kuniyoshi: Spectacular Ukiyo-e Imagination), uma exposição está no Osaka City Museum of Art, devendo ser repetido no Shizuoka City Museum of Art em julho próximo, e no Mori Arts Center Gallery em Tóquio, em dezembro. As novas facetas que estão sendo apresentadas mostram um Utagawa com senso de humor, como num trabalho em que ele apresenta 53 gatos como trocadilho dos seus trabalhos que relatam as 53 cenas da estrada de Tokaido, os mais conhecidos em todo o mundo. Outro apresenta um sacerdote budista observando uma cachoeira, com três esqueletos lutando como guerreiros samurais ou uma pessoa com a cabeça de um pardal.

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O ukiyo-e vinha sendo considerado como uma arte já decadente do período final Edo (1603-1867), mas começou a ser reconhecido a partir dos estudos efetuados pela pesquisadora Yuriko Iwakiri nos últimos anos, como uma tendência criativa. Esta reavaliação começou na exposição efetuada cinco anos passados no Museum of Fine Arts em Boston, seguindo-se as exposições em 2009 em Londres e 2010 em Nova Iorque. As pesquisas indicaram que ele e outros artistas de ukiyo-e eram dedicados trabalhadores, concorrendo e atendendo as demandas particulares que recebiam, diferentes dos artistas que atendiam as encomendas oficiais do shogunato Tokugawa. Eles não tinham nem professores nem aprendizes, o que lhes davam a liberdade de produzir uma grande variedade de trabalhos.

Nestas exposições atuais serão apresentados trabalhos de Utagawa que refletem influências ocidentais, como no “Famous Views of the Eastern Capital: Imado at Asakusa”. O acadêmico Ryota Katsuhara, examinou o trabalho e os registros holandeses “Records of Journey to East Indian and West Land and Sea”, e descobriu figuras que não eram conhecidas no Japão, como um tipo de forno de cerâmica e um elefante, que constavam de suas obras. Chegou à conclusão que gravuras feitas em cobre por um viajante do século XVII foram incorporadas por Utagawa em seus trabalhos, mostrando a disposição de aprender novas técnicas.

Para os que não estão familiarizados com a história japonesa, no período Tokugawa ficou isolado do resto do mundo, pois entendiam que os jesuítas procuravam transformar em colônias onde conseguiam converter as populações locais para o cristianismo. Desta perseguição aos cristãos, resultaram muitos santos japoneses reconhecidos pelo Vaticano. Somente a Holanda mantinha um entreposto no porto de Nagasaki, que continuou sendo por séculos o único meio de intercâmbio com o Ocidente.

Segundo Ryota Katsuhara, das 15 gravuras produzidas por mais de 20 anos, 14 trabalhos estavam influenciados por estrangeiros. Shinichi Inagaki, curador da exposição, é um designer gráfico e chegou à conclusão que Utagawa como outros artistas de ukiyo-e atenderam a demanda com flexibilidade, como fazem os designers atuais. As exposições atuais podem aprofundar estes estudos.



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