Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Verão Japonês do Super Cool Biz Chegou!

17 de junho de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, Editoriais, webtown | Tags: , , , , , ,

Quando a então ministra do Meio Ambiente do Japão, Yuriko Koike, introduziu o cool biz em 2005, como reforço para combater aquecimento global (baixar o grau do ar condicionado e usar roupas frescas nos locais de trabalho), a ideia foi vista por conservadores como mania de mulher mandona querendo aparecer na onda do Protocolo de Quioto. Mas, mesmo o Conselho Brasil Japão para o Século XXI, do qual fez parte Paulo Yokota, quando foi recebido pelo primeiro-ministro Junichiro Koizumi, todos estavam com camisa esporte, sem gravatas, no gabinete dele. A ideia veio dos norte-americanos que já adotavam o casual Friday, quando nas sextas-feiras o traje tornou-se informal. Neste verão, com o Japão enfrentando crise energética pós-desastres naturais e nucleares, autoridades decidiram levar a campanha muito seriamente. O público, que já estava se acostumando após seis verões, parece disposto a cooperar. Afinal, mulheres tiveram que queimar sutiãs para conquistar alguma liberdade no passado – agora os homens japoneses têm a chance de se livrar das gravatas sem nem precisar desfilar por Ginza queimando as mesmas.

Paulo Yokota informa da Alemanha, onde se encontra no momento, que também lá os estabelecimentos comerciais estão reduzindo o uso do ar condicionado, pois os alemães decidiram abolir o uso da energia nuclear dentro de alguns anos e algumas usinas mais antigas já estão em revisão. E lembra, também, que o presidente Janio Quadros também havia introduzido em Brasília um traje do tipo usado na Ásia, mais adequado para regiões tropicais.

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Sisudas empresas japonesas e repartições públicas, sob a diretriz complacente do Ministério do Meio Ambiente, agora aceitam que funcionários adentrem escritórios, bancos, lojas, restaurantes etc., em camisas pólo, camisetas T-shirt, calças informais. Em vez de ajustados Hugo Boss ou equivalentes, os ternos agora são em tecidos leves, as calças em estilo chino (tipo cargo). Marcas como Uniqlo estão com tudo. Em áreas onde há jovens, veem-se até camisas karyushi, a versão okinawana da aloha havaiana. Alguns descolam, em cadeias de lojas como a Aoki Inc., bermudões ultra cools – no Japão são versões coloridas de suteteko, ceroulas até abaixo dos joelhos que nossos tios usavam por baixo dos quimonos masculinos. Apesar de quererem se mostrar inovadores, jovens confessam que ficam meio sem jeito com os modelitos. Os mais maduros, que se sentem desnudos em camisas de mangas curtas, sem gravatas nem paletós, olham de viés desconfiado esse novo estilo dos colegas mais jovens. Ryu Matsumoto, atual ministro do Meio Ambiente, aposta que isso não é apenas ajuste temporário para sobreviver ao verão pós-desastre. “Vai ser uma grande virada no modo japonês de viver”.

As mulheres, que já vinham aderindo ao cool biz desde sempre, aproveitam para renovar o guarda-roupa. Lojas oferecem mil opções de tailleurs, vestidos, saias, calças, sandálias, em modelos e materiais refrescantes e irresistíveis, impossível não consumir. Se suteteko é moda para rapazes, os monpe (calças largas de trabalho usadas por camponesas e que hoje mulheres usam para jardinagem ou trabalhos caseiros) estão querendo virar fashion. São calças apreciadas por europeias e americanas, turistas ou residentes no Japão. Consideram-nas confortáveis: amarradas na cintura, com aberturas laterais em vez de zíper, são em tecido de algodão flexível, ventiladas e frescas. A atriz Mao Inoue, no papel da professora Yoko Sudo na novela da Era Showa, Ohisama/NHK, está usando monpe estilizados, lindos, em estampas bordô – a cool e elegante fuji-iro, cor da glicínia. Se não virar hit entre as japonesas, americanas vão consumir sem pestanejar.

As kawaii gals (pronuncia-se gyaru) – meninas cute, bonitinhas, pós-adolescentes – surpreendem com seu estilo vanguarda-bizarro-além Harajuku: dez entre dez gyaru usam sandálias e botinhas de verão com megaplataformas, meias-calças combinando, saias míni míni. Incrementam com lencinhos finos amarrando cabelos, tranças, rabos de cavalo, tiras de bolsas. Mil penduricalhos pendem das bolsas. Para enfrentar sol ou lua, chapéus ultra-kawaii em leve palha, de imensas abas. Acompanham óculos de gigantescas armações, que “fazem o rosto parecer menor e mais kawaii”. Detalhe: são só armações, vazadas, sem lentes. Por serem mais arejadas e refrescantes? Acertou. Mas também porque os longos cílios postiços batem nas lentes e incomodam… Os fabricantes, já prevendo isso, montam lentes flexíveis de plásticos que são retiradas antes de gals e óculos saírem das lojas.

Estão certas as garotas. Para adotar o super cool biz dos tempos incertos, é preciso assumir o espírito da coisa.



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