Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Investimentos Chineses nos Insumos Agrícolas

27 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: , ,

A longa experiência no Brasil fez com que os grupos estrangeiros como as estatais procurassem sair da produção agrícola direta, mas trabalham na sua periferia para assegurar o acesso à produção efetuada pelos agricultores, que são mais eficientes nas atividades produtivas que exigem uma presença cotidiana. A maioria dos insumos agrícolas hoje é produzida pelos grupos estrangeiros que, fornecidos financiados aos produtores, procuram assegurar o acesso às suas produções. Os japoneses, que ajudaram no desenvolvimento dos cerrados, acabaram sem ter um acesso importante à sua produção, mesmo nas sojas consumidas no Japão, por serem irrelevantes nestas atividades. Muitas multinacionais que no passado se envolveram diretamente na produção acabaram se restringindo às suas comercializações ou no máximo nas atividades agroindustriais.

Agora os chineses estão entrando na produção de alguns insumos agrícolas, como as grandes empresas como a Vale e a Petrobras, que decidiram fazer vultosos investimentos na produção do potássio. O Brasil demanda outros fertilizantes como nitrogenados e fosfatados, calcários para correção de muitos dos seus solos ácidos, além de muitos defensivos e sementes selecionadas. As indústrias para tanto costumam ser de grande porte, e o financiamento do seu fornecimento é extremamente estratégico para assegurar o acesso às produções agrícolas.

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Potássio, fósforo e um ciclo do nitrogênio

No passado, o crédito rural subsidiado fornecia os recursos para os agricultores obterem estes insumos no mercado. Com as decisões políticas nas restrições destes créditos, as multinacionais produtoras destes insumos passaram a fornecê-los, de forma financiada, mas ficando com a garantia do fornecimento da produção para amortização destes créditos.

O desejável é que estes insumos fossem de fornecimento pulverizado, mas tanto os investimentos para a sua produção como as economias de escala acabaram por restringir o seu fornecimento para gigantescas multinacionais, que, além de terem a capacidade de financiamento, também estão fortemente envolvidas nas comercializações internacionais destas commodities.

Os volumes operados por estas empresas são gigantescas, que atuam em todo o mundo, adquirindo seus produtos nas regiões e países produtores, dispondo de um complexo sistema logístico para colocarem nos mercados consumidores, contando com cotações em mercados spot e futuros nas bolsas como a de Chicago. Algumas possuem experiências centenárias, sendo chamadas de “majors ou sisters” por serem poucas e de grande projeção.

As autoridades chinesas, reconhecendo que não podem adquirir terras no Brasil, ingressam nos setores de insumos agrícolas, considerando que são os maiores compradores mundiais, com o governo comandando o mercado, tanto pelas suas estatais como privadas que se sujeitam às regras das autoridades.

Quando os governos estão nas retaguardas destas grandes operadoras, o Brasil tem que considerar também que seus produtores não podem depender somente das multinacionais ou de estatais que comandam o mercado. É preciso que tenha mecanismos para contrapor-se a estes interesses estrangeiros, no mínimo para equilibrar as condições.



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