Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Artigo de Thais Oyama Sobre a China na Veja

25 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , ,

A experiente e competente jornalista brasileira Thais Oyama publicou um artigo especial na revista Veja sobre a China, com o título “China, a próxima revolução”. Baseado em leituras, viagem à China, entrevistas com personalidades, e usando toda a sua experiência no trato de coberturas complexas, ela aponta que existem duas tendências básicas em disputa naquele país que deverão conviver dentro do Partido Comunista Chinês, que controla tudo que é relevante naquele país, nos próximos anos.

Como amplamente divulgado na imprensa mundial, inclusive nos jornais oficiais da China, ela informa que no próximo ano haverá grandes mudanças na liderança política chinesa, com Xi Jianping, atual vice-presidente substituindo o presidente Hu Jintao. E o vice-primeiro-ministro Li Keqiang substituindo o titular atual Wen Jiabao. Segundo a jornalista Thais Oyama, duas personalidades deverão ganhar destaque na China: Bo Xilai, de Chongqing, que é um dos responsáveis pela nova onda de tendência maoísta, e o seu oponente ideológico Wang Yang, de Guangdong, que teria uma tendência mais liberal, da linha de Deng Xiaping.

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Xi Jianping, Li Keqiang, do Bo Xilai e Wang Yang

A autora relata que depois de muito tempo duas facções rivais conviverão no Comitê Permanente do Politburo do PCC, pois no passado sempre se teria excluído uma delas. O que parece real é que hoje as posições políticas estão mais explícitas na China, ainda que, no final do longo e competente artigo, Thais Oyama admita que o PCC sempre experimentasse regionalmente modelos que seriam adotados nacionalmente. No passado, parece que algumas tendências se mantinham reservadas, como a de Deng Xiaping sobrevivendo ao período radical da Revolução Cultural, para depois efetuar uma profunda mudança de orientação, com a disseminação dos mecanismos de mercado, dentro do que chamam de socialismo chinês.

Segundo a jornalista, o modelo de Chongqing seria uma reação à piora da distribuição de renda na China, diferenciando os centros dinâmicos baseados nas iniciativas industriais e de mercado dos padrões ainda pobres do meio rural e do interior daquele país continente. Aspecto que já estaria sendo corrigido pelo atual Plano Quinquenal, mais preocupado com a melhoria do padrão de vida dos chineses menos privilegiados e ampliação do mercado interno, diante da crise enfrentada pelo resto do mundo. Mas este modelo estaria arraigado nas antigas tradições maoístas que estariam sendo ressaltadas até para os jovens estudantes cujos pais teriam se transferido para as indústrias como assalariados, trabalhando de forma intensiva.

Guangdong, vizinha de Hong Kong, representaria a consagração das atuais formas capitalistas de atuação econômica, predominante na região mais próxima do litoral, incluindo Xangai, onde ocorreu o recente desenvolvimento econômico chinês, voltado para a forte competição internacional. Reflete-se nas construções de edifícios atualizados que rivalizam com os centros mais avançados do mundo, com a disseminação das grifes internacionais e instalações de hotéis e restaurantes que nada se diferenciam com os melhores do Ocidente.

Fico com a impressão que a jornalista tomou dois exemplos extremos, entre os quais se situam as muitas regiões chinesas que apresentam acentuadas diferenças regionais, de etnias, de desenvolvimento industrial e rural, como é inevitável num país de dimensões continentais, com populações nas províncias que chegam a ser maiores que de muitos países. Parece-me que a China é como a Comunidade Europeia, que se de um lado tem uma Alemanha, de outro tem um Portugal ou uma Grécia, havendo entre eles muitos países em situações intermediárias.

O desenvolvimento econômico acelerado como está ocorrendo na China nas últimas décadas, como já ocorreu em outros países como nos Estados Unidos com seu capitalismo selvagem, na Inglaterra com a revolução industrial ou na Índia atual, lamentavelmente, não se efetua de forma uniforme e com a distribuição de renda de forma equitativa, como seria desejável.

Nem o desenvolvimento político ocorre sem avanços e retrocessos, como ocorreram nas revoluções americanas ou francesas. É sempre difícil para os que aspiram aconvivência dos mecanismos de mercado com as liberdades políticas aceitar que podem existir sistemas que tenham valores diferentes como os asiáticos, onde os homens não são necessariamente iguais, como no confucionismo. Mas se diferenciam pela idade, pelos conhecimentos e experiências.

Os desenvolvimentos da social democracia nos países escandinavos também tiveram fases de vida muito difícil para os segmentos mais pobres da população, mas chegaram a um elevado padrão de vida com liberdade política. O que não significa necessariamente um elevado padrão de satisfação psicológica de toda a sua população.

Parece que parte desta evolução ocorre de forma dialética e a própria autora destaca que alguns analistas admitem que os atuais e futuros dirigentes chineses contem com uma sólida formação, forjada não somente na melhor educação, como nas amplas experiências pelas quais passaram ao longo de suas carreiras, em regiões de diferentes estágios do desenvolvimento, ao longo das diversas fases históricas recentes da China.

Sempre haverá problemas a serem apontados, mas parece justo que balanços sejam efetuados com as vantagens e desvantagens, analisando os avanços que estão ocorrendo, com a mente mais aberta para admitir fatores que nem sempre são destacados pelos nossos valores que sempre são decorrentes das nossas opções.



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