Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entendendo as Contribuições de Estrangeiros no Japão

5 de setembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , | 16 Comentários »

Muitos analistas ficam impressionados com as notícias sobre os casos de políticos japoneses acusados de terem recebidos contribuições de estrangeiros. O jornal japonês The Japan Times de hoje informa que o porta-voz do governo, ministro Osamu Fujimura, explicou que o novo primeiro-ministro Yoshihiko Noda está devolvendo a importância relatada. Isto ocorre, pois muitos coreanos que foram para o Japão quando seu país era colônia nipônica, e que vivem gerações no arquipélago, usam nomes japoneses, mas não possuem a cidadania local.

Como se trata de uma comunidade que vive com certa insegurança, os coreanos procuram se relacionar com a classe política, efetuando contribuições para as campanhas eleitorais. Não podem ser facilmente identificados, mesmo pelas grandes empresas que evitam contratá-los, sem uma investigação acurada. O ministro Osamu Fujimura mostrou-se a favor da mudança da legislação para que eles possam ser considerados, também, cidadãos japoneses.

Yoshihiko-Noda-japans-prime-minister-231x300Naoto_Kanseiji maehara

Premiê Yoshihiko Noda, ex-premiêNaoto Kan e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Seiji Maehara

Destes muitos coreanos residentes no Japão há muitas gerações, alguns foram levados compulsoriamente, como os que trabalharam nas indústrias de armamento durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a legislação do Japão não permite que eles sejam considerados cidadãos japoneses, ainda que seus nomes sejam japoneses. É extremamente difícil distingui-los dos japoneses, mas os opositores políticos acabam conseguindo levantar estes casos.

Esta legislação não reconhece, também, os descendentes de brasileiros que residem no Japão, ainda que sejam nascidos naquele país. Se não forem devidamente registrados no Consulado Brasileiro, acabam ficando como apátridas, pois existem diferenças nos princípios jurídicos utilizados nestes países. Aqui, quem nasce no Brasil é brasileiro, e no Japão somente os que possuem sangue japonês, com seus pais tendo cidadania japonesa, é que podem ser considerados japoneses.

Com o mundo globalizado, e a presença de um elevado número de brasileiros descendentes de japoneses no Japão, bem como de outras nacionalidades, espera-se que haja uma evolução na legislação japonesa, o que é sempre difícil dado os fundamentos jurídicos adotados por cada país.

No Japão, com a devolução destas contribuições, os políticos não são considerados como estando em situação irregular, mas sempre acabam sendo explorados pela mídia, atraindo as atenções. É uma situação que necessita de uma solução adequada pelos legisladores daquele país.


16 Comentários para “Entendendo as Contribuições de Estrangeiros no Japão”

  1. Raphael
    1  escreveu às 15:22 em 5 de setembro de 2011:

    Mesmo os naturalizados sofrem discriminação, sr. Paulo?
    Por exemplo o roqueiro Tomoyasu Hotei, que não é tratado como “gringo” e é bastante admirado lá no Japão, mas tem pai coreano e mãe metade russa.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 19:28 em 5 de setembro de 2011:

    Caro Raphael,

    Numa sociedade como a japonesa existem pessoas de diversas tendências. Por exemplo, hoje muitos atores de novelas coreanas gozam de grande prestígio popular no Japão. Os que conseguem sucesso tem muitos seguidores, ainda que existam pessoas que tenham restrição mesmo a eles. Só conseguem naturalização aqueles que são ídolos, entre eles até jogadores de futebol do Brasil, como os que chegaram a defender a seleção japonesa. Não existe uma regra muito clara.

    Paulo Yokota

  3. Maria Rosenvald
    3  escreveu às 19:29 em 5 de setembro de 2011:

    Querido blogueiro:
    Há como distinguir japoneses, chineses e coreanos por alguma característica física? Na Liberdade, em São Paulo, já passei por certos constrangimentos, por não saber distinguir. Por exemplo, um senhor chinês ficou irritado por eu achar que ele era japonês. Não tive intenção de desrespeitar ninguém. Beijos.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 21:25 em 5 de setembro de 2011:

    Cara Maria Rosenvald,

    No passado havia diferenças de comportamento, vestuários, gestos. Hoje, com a globalização, há maior uniformização, sendo praticamente impossível distinguir, na maioria dos casos. Somente quando estão em grupos, nos casos de pessoas do meio rural. Mesmo entre os orientais estas distinções estão cada vez mais difíceis.

    Paulo Yokota

  5. abilio
    5  escreveu às 21:49 em 5 de setembro de 2011:

    O número de dekasseguis brasileiros só diminui e os de chineses e coreanos só aumenta por que eles ganham menos.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 22:56 em 5 de setembro de 2011:

    Caro Abilio,

    Há certa confusão nas suas observações. Só se chama dekasseguis os estrangeiros com ascendência japonesa que possuem licenças temporárias de trabalhos no Japão. Existem muitos chineses que vão ao Japão para estudarem ou estagiarem. Os coreanos foram ao Japão no período em que Coreia era colonia do Japão, e pouquíssimos vão para o Japão atualmente, a não ser como executivos e seus salários não são baixos. Há necessidade de aprofundar as informações evitando comentários que nem sempre correspondem à realidade.

    Paulo Yokota

  7. vagner
    7  escreveu às 22:43 em 5 de setembro de 2011:

    Produtos chineses e coreanos ja dominam mundo por que são mais baratos e ainda tem os indianos.

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 23:05 em 5 de setembro de 2011:

    Caro Vagner,

    É preciso uma análise um pouco mais profunda. Os chineses conseguem exportar porque contam com muitos recursos humanos e estão aumentando a sua eficiência. Os coreanos não contam com tantos recursos humanos, mas são eficientes em muitos setores, e competitivos. Os indianos estão especializados em setores como a informática e possuem grandes grupos que atuam também no exterior. Parece que seria interessante saber melhor por que V. os considera mais baratos, pois diversos fatores influem na chamada competitividade, como o câmbio, entre muitos outros.

    Paulo Yokota

  9. abilio
    9  escreveu às 23:21 em 5 de setembro de 2011:

    Tem dekassegui coreano e chines, pergunta para qualquer dekassegui brasileiro. Na empresa onde eu trabalhava tinha dekassegui chines e coreano que ganhava menos do que eu no Japão.

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 09:16 em 6 de setembro de 2011:

    Caro Abilio,

    A expressão dekassegui é anterior o da ida de estrangeiros para o Japão. No passado, das regiões frias do Japão, eles iam trabalhar temporariamente no sul, e isto gerou a expressão dekasseguis. Portanto, trabalhadores estrangeiros residentes no Japão não deveriam ser conhecidos por esta expressão, que tem algo de pejorativo. Que existem trabalhadores chineses no Japão, não há dúvidas, como de outros asiáticos. Quanto aos coreanos residentes no Japão, de que trata a matéria original, vivem muitas gerações naquele país. Pelo visto, V. teve a oportunidade de trabalhar no Japão, e precisa aproveitar a experiência que acumulou na sua vivência no exterior, mas não é necessário atribuir aos outros suas dificuldades.

    Paulo Yokota

  11. vagner
    11  escreveu às 23:23 em 5 de setembro de 2011:

    Brasileiros estao abrindo empresas na China.

  12. Paulo Yokota
    12  escreveu às 09:10 em 6 de setembro de 2011:

    Caro Vagner,

    Realmente, muitas empresas brasileiras estão abrindo empresas na China, como também do resto do mundo. Mas, a China também está desacelerando o seu crescimento, mas continua melhor que os outros.

    Paulo Yokota

  13. Erika
    13  escreveu às 00:37 em 7 de setembro de 2011:

    Sr. Paulo Yokota,
    Admiro muito a vossa pessoa pela paciência e sobriedade com a qual sempre responde os comentários.
    Atualmente resido no Japão e compreendo perfeitamente as colocações que o sr. faz em todos os seus artigos e também em resposta aos comentários de leitores.
    Acredito que muitas pessoas que lêem os artigos, por vezes são leigos em certos assuntos, embora não haja nenhum mal em ser leigo (pois ninguém sabe tudo), o pior que ser leigo é presumir por sí, sem fundamentos e não procurar se informar antes de fazer qualquer tipo de comentário.
    Acredito que serei “bombardeada” por ter escrito isso…
    Aprendi que devemos saber escutar as pessoas, tentar compreender o que esta sendo passado e nunca dizer nada do que possa se arrepender depois…depois de procurar se aprofundar no conhecimento.
    A vida é uma escola e quando se é jovem deixam passar muita coisa e acabam sendo “perdoados”, porém espero que os futuros idosos do Brasil cheguem à velhice com sabedoria e dignidade.
    Espero que o sr. esteja sempre por aqui para nos esclarecer.

  14. Paulo Yokota
    14  escreveu às 05:21 em 7 de setembro de 2011:

    Cara Erika,

    Muitíssimo obrigado pelos seus comentários que são de grande alívio. Precisamos ter um mínimo de humildade, mesmo com as pessoas que estão iniciando suas vidas e terão que aprender muito. Mas, sempre que possível, devemos estimular até as pessoas mais humildes, pois eles também refletem uma sabedoria que muitos acadêmicos não conseguem captar. O Brasil teve a sorte de contar com um operário como Presidente da República. E grandes empresários como Sebastião Camargo ou Amador Aguiar mal tinham o curso fundamental.
    Se dedico algum tempo para um site como este é que estou convencido que os ocidentais como um todo sabem muito pouco sobre as realidades asiáticas, o mesmo acontecendo com os asiáticos sobre a América do Sul. Desde os grandes assuntos até os que afetam o cotidiano das pessoas. E a minha experiência ensinou-me que o que afeta diretamente as pessoas é mais relevante que toda a “cultura” que muitos intelectuais imaginam possuir. E, lamentavelmente, muitos conhecimentos superficiais acabam gerando preconceitos, como os que continuam existindo, até entre os asiáticos ou entre os brasileiros.

    Paulo Yokota

  15. Carlos Silva
    15  escreveu às 14:12 em 10 de setembro de 2011:

    Ao ler o comentário da leitora Erika, pensei, prontamente, numa frase que o meu professor sempre me dizia: a única pergunta idiota é aquela que você não fez. Naturalmente, há exceções. Não nego, outrossim, que sempre tive curiosidade, mas nunca coragem, de realizar a pergunta da Sra. Rosenvald. Os não descendentes de nipônicos sabem do que estou dizendo e não podem negar.
    Tenho ascendência portuguesa e confesso que tinha uma visão estereotipada dos japoneses. Li diversos textos publicados pelo prof. economista Paulo Yokota e aprendi muito sobre o Japão e o seu povo.
    Conheço diversos amigos e parentes que têm constrangimento em realizar indagações para nipo-brasileiros, acerca da cultura e dos costumes da Terra do Sol Nascente. Qual o motivo? As pessoas têm receio em parecer deselegantes, grosseiras.
    Notei que muitas comentaristas deste blog possuem sobrenomes que não são nipônicos, o que demonstra interesse, por parte dos “não nikkeis”, em aprender uma nova cultura. Não é de se elogiar? Qual o problema? Os imigrantes japoneses contribuíram muito para esta nação, não é mesmo?
    Com certeza, existem muitos sites na Internet falando sobre os mais variados assuntos. Contudo, brasileiros descendentes de árabes, europeus e africanos, muitas vezes, não têm condições de avaliar se as informações sobre o Japão, em determinada página, são confiáveis. Um amigo coreano-brasileiro (para variar Kim) me disse revoltado que encontrou um site que afirmava que a cultura coreana era idêntica à japonesa. Aliás, o Sr. Kim acompanha este blog, sem jamais comentar, mas sempre elogia a imparcialidade do autor do “Ásia Comentada”.
    É este o perigo! Assim, temos sorte, sim, em contar com a cooperação do simpático e paciente professor Yokota para esclarecer as nossas dúvidas. Ele é uma fonte infindável de conhecimento sobre o Japão, a China, a Coreia, a Índia, o Brasil, os EUA etc.
    Certa vez, li, num outro blog, um rapaz fazer comentários sobre as catástrofes que ocorreram no Japão. Meu Deus! Quantas asneiras! E se um leigo sobre Japão ler aquele texto? Numa outra página, fiquei horrorizado com um artigo de um integrante do movimento negro que dizia que as maiores vítimas das bombas atômicas foram os afro-brasileiros. Por qual razão? O indivíduo sustentava que se o Japão tivesse vencido a guerra, os imigrantes retornariam ao seu país e as terras por estes ocupadas seriam dadas aos negros… E o leigo que absorver este conteúdo?

    Doutor Yokota, não estou querendo desrespeitá-lo, mas é só um ponto de vista. O senhor tem a liberdade de não publicar o meu comentário.

    Obrigado.

  16. Paulo Yokota
    16  escreveu às 14:50 em 10 de setembro de 2011:

    Caro Carlos Silva,

    Muito obrigado pelos comentários. Todos nós ignoramos muitas coisas que deveríamos saber mas, infelizmente, não temos oportunidade de conhecer. Existe num novo museu em Paris que tem como acervo culturas que não são muito conhecidas, e com o governo da Guatemala realizaram uma excepcional exposição sobre o maias. Eu ignorava que metade da população daquele país continua sendo descendentes de maias, onde ajudei num projeto. E pouco conhecia que os mais tinham um tipo de escrita e uma matemática avançada. Todos nós temos muitas coisas para continuar aprendendo, e o site tenta suprir parte do desconhecimento sobre a Ásia que adquirir uma importância grande no mundo atual. E também os asiáticos conhecem pouco da América do Sul, um continente emergente.

    Paulo Yokota


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