Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Argos ou Hachikô, Cachorro é Tudo de Bom

29 de outubro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: , ,

No dia 10 de novembro comemoram-se os 88 anos do nascimento de Hachikô, o lendário, mais famoso e querido cachorro que já existiu no Japão. Em sua cidade natal, Odate, província de Akita, já começaram as homenagens e festas pela data, ao redor da estátua de bronze em frente à estação da Japan Railway. A idade de 88 anos é chamada beiju em japonês, bastante auspicioso; assim como yakudoshi (40 anos) ou kanreki (60 anos), marca um divisor na vida das pessoas. No caso do Hachikô, também por repetir duas vezes o número 8: hachi significa oito; é indicador de afeição; assim, “pequeno Hachi”, “Oitozinho”. A estátua é cópia de original existente próxima a uma das entradas da estação Shibuya, da JR, em Tóquio – local que, pela visibilidade funcional, tornou-se ponto de encontro preferido da população. É onde, entre 1924 e 1925, Hachikô esperava pacientemente, ao fim do dia, a volta do seu dono, professor na Universidade de Tóquio. Este o trouxera para criar, de Odate. Um dia, o professor não retornou; falecera repentinamente (NHK).

Mas Hachikô continuou voltando toda tardezinha à estação, à espera do professor, nos 10 anos seguintes, até morrer doente em 1935. A sua história de lealdade se propagara para além do bairro, muita gente vinha à estação para conhecê-lo. Um ex-aluno do professor postou artigo sobre o fato no jornal Asahi Shinbum, de Tóquio, de grande circulação – o que colocou Hachikô no noticiário nacional, e a raça Akita em destaque. Ele se tornou sensação, herói para crianças, idolatrado como chûken Hachikoh (fiel cão Hachikô). Sua história rendeu muitos livros infantis, canções, mangás, novelas, e dois filmes: Hachikoh no Monogatari (“A história de Hachikô”), 1987, do diretor Seijiro Koyama, grande sucesso da Shochiku Films; e Hachi – A Dog’s Story (“Sempre ao seu lado”), 2009, releitura americana com Richard Gere no papel do professor.

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Cão de raça Akita e imagem da estátua de Hachikô. Gravura e estátua de Ulisses com Argos

Cachorros fazem jus à sua classificação, canis fidelis, com fidelidade à prova de tempo e espaço. Mas eles também são reconhecidos pela sua inteligência, racional ou emocional. Experimentos provam que certas raças são capazes de raciocínio lógico, como escolher uma opção por eliminação – atesta o escritor e semiólogo italiano Umberto Eco em ensaio sobre filósofos antigos e a observação de cães (Folha de S. Paulo, caderno Ilustríssima, 09/10/2011, Da inteligência canina). O que autores da antiguidade clássica como Plutarco, Plínio, e outros já notavam, é possível se observar no dia a dia de quem tem um quatro patas em casa. Eles possuem um logos, ou sabedoria, que os fazem hábeis para arrancar espinhos do corpo e limpar feridas, de manter imóvel a pata machucada, ou de identificar plantas que podem aliviar dores. Essa intuição também os torna capazes de pressentir ameaças ou perigos: quando estão em espaços públicos ao lado dos donos, eles ficam em permanente estado de alerta – parecem se sentir responsáveis pelo bem-estar e segurança de seus donos. Infinitos são os casos de pessoas salvas de calamidades ou bandidos, por seus cães de estimação.

Todos têm uma história de cachorro, triste ou feliz, para contar. Na mitologia ocidental, exemplo de lealdade absoluta foi Argos, da raça galgo: como Hachikô, já idoso e doente, ele ficou quase 20 anos no cais de Ítaca, antiga Grécia, vigiando o horizonte marinho à espera do amo que partira. Quando este finalmente regressou, barbudo e em andrajos, nem mesmo Penélope, a fiel esposa, o reconheceu. Porém, Argos o identificou incontinenti, e como se isso fora o único objetivo pelo qual sobrevivera aqueles longos anos, ato contínuo caiu morto aos pés de Ulisses, não sem antes receber um afago e um sorriso condoído do seu amo.



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