Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Incômodos e Benefícios com a Presença Chinesa no Mundo

12 de outubro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , | 4 Comentários »

Muitos foram surpreendidos pelo aumento da presença da milenar e gigantesca China no mundo, principalmente nas últimas décadas. Além de se tornar o mais importante parceiro comercial de países como os Estados Unidos, o Japão e o Brasil, tanto pelas exportações como importações, transformou-se no maior supridor de recursos financeiros internacionais, até para atender continentes que passam por períodos difíceis como a Europa. Esta nova situação não é fácil de ser absorvida, pois vem acompanhada também do aumento de suas presenças política e militar, que sempre incomodam os que detinham até agora a hegemonia no cenário internacional, com destaque para os norte-americanos.

É uma situação singular, pois sempre existem os beneficiados e os prejudicados em todos os países como os relacionamentos com a China. Os que fornecem, com suas exportações, para este novo mercado que vem substituindo os que perderam dinamismo, como os Estados Unidos, a Europa e o Japão, podem se sentir aliviados, pois sem a demanda chinesa estariam numa situação complicada. Mas os que sofrem com as concorrências de produtos chineses, muitas vezes produzidos com a ajuda de empresas do seu próprio país que utilizam somente os recursos humanos baratos da China, se sentem incomodados. E quando este gigantesco dragão se movimenta militarmente para assegurar o suprimento de energia e matérias-primas que necessitam, mesmo com a incapacidade de fazer frente a estas manobras, as tensões se elevam de forma significativa, com os mais pessimistas prevendo uma inevitável confrontação, que seria catastrófica para todos.

Capitolio (8)IMG_2512

size_590_senado-eua-novaImage

Congresso Norte-americano e o Grande Salão do Povo

Pelo que se observa no noticiário internacional, a China reagiu de forma enfática à decisão do Senado norte-americano que optou por retaliar os chineses com a alegação de que o seu câmbio desvalorizado está inundando os Estados Unidos com produtos chineses, ainda que esta não seja uma decisão final. A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos e Barack Obama, mesmo aceitando que as importações de produtos chineses prejudicam o emprego dos norte-americanos, não acham que a decisão do Senado seja a forma mais conveniente para lidar com o problema.

Quando se examina a questão de forma mais fria, nota-se que muitos destes produtos chineses estão simplesmente utilizando a mão-de-obra barata daquele país, o que vem sendo feito pelas empresas norte-americanas, sendo que os chineses ficam com alguns por centos da operação, sendo os demais valores representados pela logística para fazer estes produtos chegarem aos consumidores americanos, as matérias-primas que costumam ser fornecidas pelos americanos, os seus desenhos e projetos, e todos demais cursos de intermediação que representam quase a totalidade do custo pago pelos consumidores por estes produtos. Isto acontece com as confecções das grifes norte-americanas como os principais produtos eletrônicos, tanto ligados à computação como às comunicações inovadoras.

A triste realidade é que sem a demanda dos chineses, hoje o mundo estaria numa forte depressão, reduzindo ainda mais o nível de atividades econômicas, aumentando o desemprego. Até o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a declarar que o maior risco para o Brasil seria a redução do crescimento chinês, mais que as dificuldades financeiras da Europa.

Os chineses estão aumentando sua incômoda presença militar no Mar do Sul da China, rota principal para o seu abastecimento de energia e muitas matérias-primas dos quais necessitam. Também efetuam pesquisas nestas águas, criando atritos com muitos dos seus vizinhos. Mas os Estados Unidos, que tinham uma forte presença militar na região, ficaram limitados com seus elevados gastos no Iraque, no Afeganistão e as dificuldades com o Irã, podendo somente ficar nos discursos, mas sem a possibilidade da presença maior de sua Marinha nestas áreas.

De forma pragmática, até o Vietnã que teve atritos com a China está se acomodando mediante entendimentos diplomáticos, como também fazem seus vizinhos como o Japão, a Coreia do Sul ou Taiwan, ainda que expressem suas indignações pela imprensa. Trata-se, evidentemente, do uso do poder político e militar da China, sem que haja uma contraposição relevante.

A própria China enfrenta seus problemas, necessitando passar por uma expressiva mudança estrutural, para depender menos de suas exportações para o resto do mundo, ampliando o seu mercado interno, ao mesmo tempo em que enfrenta problemas de inflação e da redução das disparidades econômicas existentes entre suas regiões e sua população. As cifras chinesas são gigantescas, e não podem suportar continuamente seus orçamentos militares bem como as assistências de suas operações no exterior, tanto para investimentos como exportações, visando assegurar o acesso às energias e matérias-primas que necessitam.

São situações incômodas de ajustamentos necessários, sendo conveniente que a veemência retórica seja reduzida, para evitar o agravamento das tensões, ao mesmo tempo em que o mundo vai aumentando a influência de outras potências intermediárias e emergentes, na governança mundial, mesmo com as resistências existentes.


4 Comentários para “Incômodos e Benefícios com a Presença Chinesa no Mundo”

  1. Egregora
    1  escreveu às 04:08 em 13 de outubro de 2011:

    Sr. Yokota,

    Entendo que o senhor, através desse texto, está querendo mostrar a importância e o perigo que a China pode representar ao resto do mundo, se não houver um equilíbiro econômico, militar, etc. de outros países. Apesar de compreender a essência da mensagem, está difícil entender o texto inteiro.

    Abraços,

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 10:37 em 13 de outubro de 2011:

    Caro Egregora,

    Estes assuntos são de grande complexidade, muito difícil para serem resumidos numa simples nota de um site. Um grupo de especialistas, como os reunidos no Foreign Affairs Comission of the 11th National Committee of the Chinese People’s Political Consultative Conference discutiu o assunto no forum “Public Diplomacy in the Age of Globalization”, como pode ser visto no artigo publicado por Wu Jiao no China Daily.

    Paulo Yokota

  3. gerson dias de sousa
    3  escreveu às 00:25 em 16 de abril de 2016:

    Sempre acompanho materias sobre chineses preincipalmente no Brasil. Faço pesquisa sobre a presença chinesa no Brasil e principalmente no meu Estado Piaui, mas tenho dificuldade em encontrar números precisos de chineses no Brasil. V. pode me informar commo ter esses dados de imigrantes chineses no Brasil ao longo do tempo?

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 10:39 em 17 de abril de 2016:

    Caro Gerson Dias de Sousa,

    Sempre existem dificuldades sobre os dados sobre os imigrantes, que são defasados e não muito precisos. Uma parte dos chineses no Brasil chegam sem os vistos, além de provenientes de outros países por que passaram. Muitas chinesas, por exemplo, chegam irregularmente, procuram gerar um filho brasileiro, para não estarem sujeitas à expulsões. A fonte principal continua sendo o Ministério de Relações Exteriores, o Itamaraty.

    Paulo Yokota


Deixe aqui seu comentário

  • Seu nome (obrigatório):
  • Seu email (não será publicado) (obrigatório):
  • Seu site (se tiver):
  • Escreva seu comentário aqui: