Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Kokoro no Kizuna: Laços de Afeto e Vínculos de Fortaleza

21 de outubro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: , , , ,

Kiyu Kobayashi, 43, fotógrafo de publicidade para revistas no eixo Yokohama – Tóquio, jamais deu valor nem se interessava por fotos casuais de família (aniversários, casamentos etc.). Recentemente, porém, a pedido de um casal amigo de Yokohama, ele fez fotos da família com o filhinho, em parques e momentos de aconchego. Após o 11 de março e as consequências da catástrofe sem precedentes, os Hinos se atinaram como o momento presente das famílias podia ser tão especial quanto frágil. A sra. Hino quis então fazer fotos casuais de sua família como algo a que pudesse se aconchegar.

Ao reparar, através de noticiários de TV, a ternura como fotos de família, cobertas de lama e recuperadas do tsunami, eram acariciadas com lágrimas nos olhos por sobreviventes, o fotógrafo também começou a enxergar muito além das sofisticadas fotos de publicidade. Ele se comoveu ao constatar como essas fotos simples eram tão insubstituíveis para cada uma das pessoas, e tinham tal força de vínculos preciosos para as famílias. Então, além de visitar as áreas destroçadas fazendo fotos documentais, Kobayashi começou a aceitar fazer fotos de família – para capturar os momentos de felicidade e de pequenas histórias familiares que só interessam aos envolvidos. Ele mesmo começou a dar muita importância a momentos que consegue passar num parque ou num playground com a filha de 5 anos. Notou que, ao redor, as pessoas estão cada vez mais estreitando laços familiares e comunitários – kazoku no kizuna, tsunagari. E fotos de família, que dão forma a momentos únicos, se tornam mais e mais preciosas depois do terremoto.

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Este é um dos temas tratados na série de reportagens que a emissora NHK vem apresentando ao longo deste mês (NHK-Ohayou), analisando as mudanças comportamentais que vem ocorrendo na vida, na mente, e no coração dos japoneses afetados diretamente ou não pela catástrofe (online em japonês e inglês, http://www.nhk.or.jp/shutoken).

Antes de 11 de março, casamentos estavam em declínio no país. Mas um número crescente de casais está sendo impelido, pelo desastre, a estreitar a união. Que mudanças íntimas ocorrem no coração das pessoas? “Eu me senti assustada e com medo em diversas ocasiões, depois do terremoto; queria ter alguém ao meu lado para dividir medos e alegrias”. “No dia 11 de março, os trens parados, levei seis horas a pé para chegar ao meu apartamento; passar a noite no escuro, sem energia elétrica e outras facilidades, foi uma experiência aterradora, me senti tão só e desamparada” – testemunham mulheres solteiras. Pessoas encaram o casamento com novos olhos e perspectivas. No meio do boom casamenteiro, alianças de noivado voam dos mostruários, com aumento de 90% a mais nas vendas, comparadas a 2010.

Jovens que prestaram serviço voluntário pela primeira vez nas regiões flageladas estão reformulando planos de carreira e focos sobre o que significa trabalhar; revendo o trabalho como algo útil para fazer pelo próximo; trabalhar não visando apenas o lucro, mas para preencher a necessidade das pessoas. Como uma garota se graduando por faculdade, que está contatando prefeituras de cidades do nordeste para estabelecer linhas de vans ligando vilas de casas provisórias de flagelados (kasetsu jutaku), a hospitais, supermercados, e afins. O lucro vai ser pequeno, mas o alívio para as pessoas afetadas – sem carros nem linhas regulares de ônibus – será incalculável.

No Japão desde setembro onde, por amor ao país, pretende viver para sempre como cidadão naturalizado, Donald Keene, professor emérito da Universidade Colúmbia, Nova Iorque, está visitando o Nordeste do país, observando o que se salvou da destruição e como os sobreviventes estão enfrentando a recuperação. Em palestra em Sendai, província de Miyagui, o professor atestou que enxerga milagres acontecendo nessas regiões, quando conversa com as pessoas diretamente afetadas ou com outras envolvidas com a reconstrução. “Certamente, o milagre da renovação de vínculos e fortaleza espiritual já está ocorrendo, de coração a coração. Daí a ocorrer milagres de recuperação material e revitalização econômica será só um passo”, afirma. Se o professor permitir, a gente também gostaria de juntar ao seu, os nossos corações.



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