Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Voluntariado, Ações que Reverberam como Ecos

5 de dezembro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: , , , , , , ,

“…soshite ato de samishiku natte,

gomen ne te iuto, gomen ne te iu;

kodama deshôka, iie dare demo” (Misuzu Kaneko, 1903-1930)

(… então, sentindo-me triste e só, perdoe-me, disse; perdoe-me, respondeu. Será um eco? Não, quem sabe alguém).

“Kodama deshôka” (será um eco?), é a frase do poema repetida várias vezes em comercial de serviço público, produzido pela Advertising Council of Japan – que congrega órgãos de publicidade e comunicação no Japão. O jingle foi transmitido dia e noite por TVs japonesas nas semanas que se seguiram ao desastre de 11 de março: para dizer que pessoas respondem com gentileza quando tratadas gentilmente, que atos solidários se reproduzem como ecos.

Gente, organizações, países que acorreram para se solidarizar com o povo japonês foram unânimes: quando precisamos de ajuda, fomos socorridos incontinenti; agora é a nossa vez. Do Haiti, da Indonésia, da Nova Zelândia, das Américas, da Europa, de todo o Oriente. Nunca o mundo se organizou em tamanha cruzada de ajuda humanitária e voluntária – individualmente, em grupos, através de ONGs ou governos. Dentro do Japão, o desastre provocou uma consciência coletiva que o país não via desde a II Guerra Mundial.

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Em 1995, o grande terremoto de Hanshin, Kobe, já mobilizara as pessoas enormemente. Mas 11 de março de 2011 parece ter mudado definitivamente o pensar dos japoneses sobre trabalho voluntário, e consagrar-se ao “fazer parte”. Empresas e grandes conglomerados facilitaram horários de folga, engajamento, e transporte para que seus funcionários pudessem ajudar flagelados. Houve uma tomada de consciência sem precedentes, de indivíduo para indivíduo, e entre empresas e organizações. Centenas de ONGs do mundo inteiro se mobilizaram. A Câmara de Comércio Brasileira no Japão (CCBJ), que associa empresas brasileiras no Japão, serviu como ponte para ligar pessoas, consulados e embaixadas do Brasil e do Japão, e empresas de todos os portes – da Petrobras, Vale, Bancos (do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco) a médias e pequenas, para fazer chegar ajuda aos locais.

O engajamento rápido e eficiente de empresários nipo-brasileiros foi marcante: a comunidade brasileira no Japão criou o movimento Brasil Solidário, que promoveu ações voluntárias nas diversas regiões do Tohoku atingidas pela catástrofe. A revista Brasil, da CCBJ, de junho-julho/2011, traz reportagem de empresários que se mobilizaram doando todo seu tempo, energia e dedicação para fazer chegar alimentos, roupas, artigos de higiene etc. às cidades do Nordeste, já nos dias seguintes ao tsunami. Com a via expressa ainda bloqueada, eles mesmos transportaram as doações enfrentando falta de gasolina e longa jornada através de rotas secundárias. O cenário de destruição os motivou a organizar mais ajuda ainda. A revista destaca os seguintes empresários: Fábio Okamoto (Shizuoka), Jorge Imai (Ota), Norberto Mogi (Yokohama) e Walter Saito (Saitama).

A Conferência Internacional do Voluntariado, que ocorrerá de 15 a 17 de dezembro de 2011, em São Paulo, é um evento organizado pela Rede Brasil Voluntário e pelo Programa VNU-Brasil/Voluntários das Nações Unidas, em parceria com o PNUD-Brasil/Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O evento tem um caráter especial, pois marca a celebração do décimo aniversário do Ano Internacional do Voluntariado-AIV+10, instituído pela ONU como Década do Voluntariado (2001-2011). Será um encontro das redes de voluntariado para, entre outros objetivos, avaliar o trabalho que vem sendo feito no Brasil.

O Brasil tem a sorte de ter contado com mulheres extraordinárias que dedicaram seu talento, carisma e poder de persuasão na promoção de ações sociais humanitárias e voluntárias, criando e coordenando entidades que reúnem milhares de voluntários brasileiros de Norte a Sul: a médica Dra. Zilda Arns (1934-2010) – fundadora do Pastoral da Criança e do Pastoral do Idoso; a socióloga profª. Ruth Cardoso (1930-2008), presidente-coordenadora da Comúnitas – entidade que deu continuidade ao programa Comunidade Solidária que ela presidira quando primeira-dama do país. E, entre muitas mulheres de valor, se destaca a empresária Milú Villela: em meio a mil outras atividades a que se dedica, ela criou o Faça Parte-Instituto Brasil Solidário, em 2001, ano em que comandou também o Ano Internacional do Voluntário no Brasil. De tradicional família paulista, Milú abraçou a causa social como uma religião, e representa a elite que faz. Não seria exagero afirmar que, no Brasil, o despertar de consciência do voluntariado se deve e muito a estas três braves femmes (honradas mulheres).



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