Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Crise da Democracia Japonesa Segundo Steven K. Vogel

27 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , ,

Tenho alguns amigos no Japão especialistas em América Latina. Muitos moraram e trabalharam no Brasil exercendo muitas tarefas importantes. Um deles enviou-me este artigo do Steve K. Vogel, professor da UCLA, especializado em Extremo Oriente. Ele foi publicado em japonês no Nikkei no último dia 24 de fevereiro. Como eles também se preocupam com o que vem acontecendo no Japão, e o que eles me remetem deve ser considerado com a máxima atenção. O artigo é relevante, ainda que complexo para os que não acompanham de perto a política japonesa.

Steve K. Vogel mostra no magistral artigo com o título “A Crisis of Japanese Democracy?” que está profundamente informado sobre os dilemas em que os japoneses estão envolvidos atualmente. Principalmente depois do triplo desastre em março do ano passado. Se de um lado o governo necessita estimular a economia japonesa, além de recuperar o que aconteceu na sua região nordestina, enfrenta um crescimento de sua dívida pública. Isto exige o aumento dos seus impostos e cortes dos dispêndios do governo, que são recessivos para a sua economia.

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Steven K. Vogel

Steve K. Vogel lança mão dos estudos efetuados pelo seu mestre Harold Wilensky para analisar o Japão e outras democracias consideradas ricas. Ele afirma que estas economias não devem se mover tão rapidamente e mal no sentido do corte dos seus gastos, citando especificamente a japonesa, correndo o risco de uma nova queda de sua economia. Mal porque eles têm gastos elevados para salvar os seus sistemas bancários, mas não conseguem estimular o crescimento dos empregos nestes países.

No artigo, o autor explicita que o Japão precisa manter os seus gastos na difusão das pesquisas de alta tecnologia, e investir em recursos humanos. Precisa preservar e reforçar a segurança social da economia e das pessoas. Se o povo japonês não se sente seguro, não consumirá, e sem isto não existe um crescimento sustentável.

Ele informa que a grande discussão atual no mundo é que a maioria dos debates hoje assume que elevados gastos governamentais e altos impostos prejudicam o desempenho econômico, quando não é necessariamente assim. Harold Wilensky estudou política, economia política e a performance dela em 19 economias hoje desenvolvidas. A interelação entre as variáveis é complexa, mas o limite inferior é relativamente simples.

Os países de elevados impostos e gastos públicos conseguem consistentemente resultados superiores quando comparados com os de baixos impostos e gastos baixos, quando medidos pelo bem-estar amplamente definido. Ou seja, pelos indicadores de melhor distribuição de renda, menos violência, melhores resultados em saúde e melhor saúde efetiva, segurança e regulamentação do meio ambiente.

WilenskyConHead

Harold Wilensky durante entrevista sobre ospaíses ricos

Ele dividiu os países em cinco grupos: corporativa de esquerda – left corporatist (Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca); corporativa de esquerda católica – left catholic corporatist (Holanda, Bélgica, Áustria); corporativa católica – catholic corporatist (Itália e Alemanha); menos corporativa – least corporatist (Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Irlanda), ainda que estas classificações possam ser discutidas por envolverem algum viés ideológico. O artigo esclarece que Wilensky se refere como a corporativa (corporatist) aos países que sistematicamente incorporam as suas mais importantes associações de empresas e trabalhadores ao nível de decisão do governo, produzindo uma política de estilo consensual. Ele considera que a política corporativa encoraja as empresas e os trabalhadores a formularem um compromisso mutuamente benéfico, como a relação entre salários e estabilidade de preços. Combina o econômico com o social, o crescimento com a igualdade.

Wilensky considera o Japão como uma corporativa sem os trabalhadores, pois integra as empresas no processo político, mas sem os trabalhadores. O LDP – Partido Liberal Democrata japonês sempre considerou o interesse das empresas nos seus conselhos políticos, até com um excesso no longo período em que esteve no poder. O DPJ – Partido Democrata do Japão, atualmente no poder, teve a oportunidade de promover maior equilíbrio, consultando a população de forma mais ampla. Mas não conseguiu estimular alguns elementos positivos do sistema corporativo do Japão ao reduzir o poder da burocracia, que negociava com os grupos de interesse.

Vogel considera que no mundo atual as economias desenvolvidas não conseguem enfrentar as suas insuficiências políticas, já levantadas por alguns autores em 1975, exatamente no momento que mais se necessitam de políticas econômicas efetivas, ainda que haja muitas diferenças entre os países.

Para o caso japonês, ele apresenta duas propostas que podem parecer conflitantes. Restaurar o poder da burocracia e estimular a competição política. Ele aponta que o declínio do poder da burocracia no Japão foi mais importante na perda da coerência na política econômica que a volatilidade na política.

O PDJ trouxe a alternância ao poder no país, mas ficou focado em superar os políticos do LDP, do que formular a sua própria política. Apesar dos dois partidos terem apresentado suas plataformas nas ultimas eleições, os atuais situacionistas não foram capazes de mostrar claramente para os eleitores qual a diferença de sua política no gerenciamento da política econômica com relação aos atuais opositores, que antes estavam no poder. Na opinião do autor, uma competição saudável na política no Japão seria os dois partidos apresentarem as melhores soluções para os reais problemas econômicos do país.

O que Stevan K. Vogel apresenta como solução para o Japão, mesmo considerando as diferenças com relação aos outros países, e ainda que não sejam classificados como desenvolvidos, emergentes ou em desenvolvimento, parece uma proposição válida para muitos outros, com algumas adaptações. Sempre parece necessário uma entidade para a negociação eficiente entre os diversos grupos de interesse, e que as diversas representações políticas tenham a capacidade de apresentar aos seus eleitores suas políticas econômicas efetivas, para um amplo julgamento nos pleitos eleitorais, mesmo que eles sejam indiretos.

Evidente que alguns países não são considerados democráticos, mas mesmo nos chamados autoritários, existem grupos de pressão internos que acabam determinando as personagens que se situam nos cargos mais relevantes. Hoje, dificilmente um pequeno grupo detém todo o poder para decidir tudo em qualquer país.



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