Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Contrastes Gritantes Sobre o Valor da Vida

3 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

 

Estou terminando de ler o pequeno livro escrito por Eliana Zagui, “Pulmão de Aço”, sobre o qual já postamos um artigo neste site no dia 10 de abril último. É algo comovente como poucos livros que li, mostrando que, em condições extremamente limitadas, uma jovem de rara inteligência nos mostrou que é capaz de dar uma lição inesquecível para todos nós que vivemos nos queixando dos pequenos problemas do cotidiano. Vítima da pólio, vive há 36 anos na UTI do Hospital das Clínicas em São Paulo, no IOT – Instituto de Ortopedia e Traumatologia, podendo somente mover a sua cabeça e falar. Descreve a sua longa e penosa vida destes anos todos, mostrando uma tenacidade que nos deixa todos diminuídos diante de sua grandeza. Conseguiu sobreviver ao lado do seu amigo Paulo Henrique Machado, tendo se alfabetizado, aprendeu a pintar com a boca, usa a internet e faz quase tudo que mesmo uma pessoa normal tem dificuldades, usando somente a sua cabeça e a boca. Gostaria de contribuir modestamente para a divulgação do seu exemplo.

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Eliana Zagui pinta segurando o pincel com a boca. Foto: Folhapress

Como um violento contraste neste Golden Week japonês, o The Japan Today divulga um conjunto de artigos publicados na revista Sukan Shincho sobre “Estilos de vida que levam ao colapso pela doença”, abrangendo nove temas diferentes, entre eles: as dietas espartanas que levam ao AVC – Acidente Vascular Cerebral e doenças cardíacas, atividades extenuantes como montanhismos e maratonas que podem ser fatais para pessoas de meia idade, perigos de alimentos considerados orgânicos, ingestões exageradas de líquidos perniciosos para os corpos, perigos dos trabalhos exagerados à noite, relação entre doenças dentárias e AVC.

Discutem-se hoje no Japão o aumento dos aposentados divorciados masculinos vivendo sozinho e morrendo isolados, fenômeno conhecido como “shi kodoku”, que vem triplicando em poucos anos. Entre suas causas estão às deteriorações das relações familiares que eram fortes entre os japoneses no passado, a falta de novas relações de amizade fora dos antigos empregos, as resistências na procura de ajuda médica mesmo com alguns sintomas, o uso exagerado de bebidas alcoólicas, o uso de alimentações inconvenientes como tipos de fast food etc.

A revista recomenda que estes divorciados aposentados procurem restabelecer as suas relações ou se empenhem em conseguir outras novas.

O fato concreto é que faz parte da cultura japonesa dar pouca importância à vida de cada indivíduo valorizando exageradamente a importância do coletivo. Mas precisamos aprender com Eliana Zagui a fundamental importância da vida, mostrando que mesmo em condições extremas de limitações ela contribui de forma expressiva para que outros, que se consideram normais, possam fazer ainda que uma pequena parte do que ela faz, enriquecendo-nos a todos.

Precisamos aprender com ela que existem anjos que nos ajudam desinteressadamente, realizando-se como seres humanos com trabalhos voluntários ou que excedem as obrigações dos seus empregos. Mas que, infelizmente, mesmo nas condições extremas como de uma UTI e pacientes fragilizados como ela, existem aqueles se aproveitam da situação.

Eliana Zagui, muito obrigado por nos mostrar como é a vida nas condições extremas. Esteja certa de que vamos tentar ajudar, com os meios que nos forem possíveis, para que a sua mensagem chegue a todo o mundo, com a tradução do seu fabuloso livro para outros idiomas.



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