Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Desarticulação Mundial e não só Brasileira

30 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Lamentavelmente, são inúmeros os exemplos das desarticulações que estão ocorrendo recentemente no mundo. Tudo indica que no surto do desenvolvimento que ocorreu até 2008 no mundo globalizado, muitos entenderam que sua continuidade seria uma tendência natural e, devido ao acaso, nada poderia interromper estas tendências. Os fatos estão mostrando que há necessidade de uma melhor articulação das principais forças que sustentam este crescimento, que dependem de um mínimo de entendimento de suas lideranças, pois não são obras do acaso.

No caso brasileiro, o desenvolvimento recente foi beneficiado pelo que ocorreu no resto do mundo, mas também se deve ao mérito de sua consolidação democrática e melhoria sensível da distribuição de renda, que antecipou a expansão do seu mercado interno. Há que se lamentar a falta de uma compreensão adequada de muitos que deveriam ser estadistas para liderar o seu desenvolvimento, que ocorre simultaneamente em diversos setores, que não se resumem aos seus aspectos econômicos.

No caso Europeu, vamos utilizar o exemplo decorrente dos relacionamentos da Comunidade Europeia com a China, que vêm ajudando o resto do mundo, apesar de contar com inúmeros problemas internos. O Financial Times reporta um lamentável caso de desarticulação de suas lideranças nos seus entendimentos com as autoridades chinesas.

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Enquanto José Manuel Barroso e Herman Van Rompuy, representando a Comunidade Europeia, solicitavam a ajuda de dezenas de bilhões de euros da China encontrando-se com o premiê chinês Wen Jiabao para ajudar a resolver os problemas de muitos dos seus países, os burocratas de Bruxelas colocavam as suas divergências com os chineses sobre questões de tecnologia, aumentando as tensões entre ambos os lados.

Os europeus alegam que a China subsidia o crescimento acelerado dos equipamentos de telecomunicações, ajudando empresas chinesas como a Huawei Technologies e ZTE, em prejuízo as rivais europeias Nokia e Alcatel. As divergências deixaram a área dos produtos de baixa tecnologia como as têxteis e de cerâmicas, para entrar na área das novas e avançadas tecnologias. Os chineses entenderam que a questão é uma declaração de guerra.

Quando a China e outros países asiáticos começaram a intensificar o uso dos mecanismos de mercado, atraindo investidores estrangeiros para as suas zonas especiais de exportação, empregando a mão de obra de bilhões de trabalhadores que se encontram subutilizados, era de se esperar que os que estavam empregados no Ocidente, com elevados salários, teriam que se ajustar. Inicialmente, forçou-se a China ingressar na Organização Mundial do Comércio, cujas regras nem sempre foram obedecidas.

Com a ampliação significativa do mercado interno chinês nas últimas décadas, registrou-se uma tendência para a melhoria das tecnologias copiadas dos investidores estrangeiros, além de utilizar toda a habilidade da China desenvolvida ao longo de sua história. Hoje, em muitos setores, suas tecnologias são competitivas com as mais avançadas do mundo, ao mesmo tempo em que suas universidades e centros de pesquisas acabam aperfeiçoando o domínio de novos conhecimentos.

O fato concreto é que povos que passaram por longos períodos de sacrifícios acabam se dedicando com afinco para a melhoria do seu padrão de vida, e os países asiáticos continuam contando com grandes contingentes na pobreza absoluta. Os países chamados desenvolvidos reduziram sua gana na obtenção de eficiências mais elevadas, salvo em determinados setores.

A falta de sua competitividade vem provocando desequilíbrios, ao mesmo tempo em que muitas das atividades produtivas transferiram seus benefícios para os setores relacionados com as atividades financeiras, que provocaram desastres como o de 2008, e cuja superação completa não ocorre até hoje.

Alguns países, como o Brasil, mesmo contando com uma constelação de recursos para um desenvolvimento mais acelerado, não contaram com articulações para aproveitar todas as suas oportunidades, e muitos foram iludidos com os aumentos das suas exportações de produtos primários com preços compensadores. Hoje, amargam a estagnação de suas tecnologias e competitividade do setor industrial.

Sem uma consciência mais clara de seus problemas, com a devida articulação de suas diversas forças, se ficarem disputando privilégios sem a mentalidade de estadistas, aproveitando o empreendedorismo dos seus novos segmentos, podem voltar a perder o bonde da história. Os problemas que se multiplicam pelo mundo devem servir de desafios para uma melhor articulação dos seus esforços, dentro de um regime democrático e aberto, utilizando a força da miscigenação de etnias e culturas, que resultam em criatividades.


2 Comentários para “Desarticulação Mundial e não só Brasileira”

  1. Yoshio Hinata
    1  escreveu às 09:22 em 31 de maio de 2012:

    Prezado Senhor Yokota!
    Sera que a situação brasileira ira deteriorar mais ainda?
    As montadoras que são referencias já estão preparando para demissões, segundo informações não oficiais?
    As medidas tomadas pelo governo não foram tarde demais e sempre somente maquiagens?
    Parodiando a frase ´´Desde Cabral´´, nunca vi nenhum sacrificio do governo, só e somente dos empresarios e consequentemente o povo.
    Favor, existe luz no fim do tunel?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 17:27 em 31 de maio de 2012:

    Caro Yoshio Hirata,

    Apesar da situação atual não ser confortável para ninguem, o governo brasileiro como o hindu, o chinês e outros mais, estão tomando as medidas possíveis para a sua recuperação. As medidas de política econômica não apresentam resultados imediatos, e tudo indica que no segundo semestre o quadro pode ser um pouco melhor. Comparando com a Europa e o Japão, o Brasil apresenta um quadro mais otimista, tanto por ter consolidado o quadro político, como ampliado o seu mercado interno para depender menos do exterior. A retomada deve ser lenta e pequena, mas já tivemos situações mais complexas no passado, e conseguimos superá-los. Quanto ao governo, seria desejável a redução do seu custeio, que não está crescendo (a redução atual dos juros faz com que os gastos com a dívida publica sejam menores), poderia ser mais expressiva, permitindo maiores investimentos, como está se propondo também para os países europeus.

    Paulo Yokota


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