Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Filme Japonês que Agrada Muitos Críticos e o Público

21 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Alguns frequentadores de cinemas podem achar que o filme “O que mais desejo” (kiseki – milagre), do cineasta japonês já consagrado Horikazu Kore-eda, seja de uma poesia ingênua. Mas ele está agradando a muitos críticos e certamente ao público, mesmo aqueles que não têm a completa compreensão de todas as nuances da atual cultura japonesa que são captadas. O drama dos filhos de pais separados é universal, mas acaba ganhando conotações mais profundas numa sociedade como a japonesa, onde o divorcio é mais numeroso entre idosos aposentados, sendo raro que irmãos pequenos sejam separados.

O filme reflete uma realidade das crianças na região sul do Japão, na província tradicional de Kagoshima, onde vive o irmão mais velho que tem um tratamento específico “onisan” no idioma japonês, junto com a mãe e os avós, separado do irmão mais novo que vive com o pai em Fukuoka, uma província vizinha. Somente numa sociedade hierarquizada como a japonesa existe este tipo de tratamento respeitoso com relação a um simples irmão mais velho com uma palavra específica. Ele que sonha por juntar a família separada.

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No filme, observa-se parte do cotidiano das crianças numa escola primária, de uma cidade que fica junto a um vulcão cujas cinzas precisam ser constantemente limpas, tanto nas residências como nas escolas, tarefa que fica com as crianças. O tipo de ensino está em mudança também no Japão, mas ainda há um respeito maior pelos professores, dentro das influências recebidas dos ensinamentos confucionistas.

Kagoshima se prepara para receber os benefícios do Shinkansen (trem rápido), e como é uma região menos dinâmica a sua população mais idosa vive um cotidiano rotineiro, que só se encontra no interior que melhorou de qualidade de vida, mas continua pacata. Mas mesmo os idosos aspiram tirar o proveito da nova situação, procurando recuperar uma das marcas locais é um tipo de doce feito de cará. Como os japoneses possuem o costume do “omiyague”, uma lembrançinha para seus familiares e amigos com um produto típico da cidade, o avô tenta recuperar, de forma econômica, a sua produção. A matéria-prima é um cará barato, e ele utiliza um açúcar cristal mais em conta, mas o resultado não atende as lembranças simples e passadas do confeito que restaram na memória, com um sabor mais delicado, não conhecido pelas crianças.

O diretor do filme, estabelecido o seu roteiro, efetuou uma ampla seleção pública dos atores infantis, e os dois principais escolhidos são os irmãos Maeda, cujas espontaneidades impressionam os espectadres. Os detalhes do Japão interiorano são captados na película, como o guarda que faz uma ronda pelas ruas de pouco movimento. Lembram os grandes cineastas japoneses do passado, que retiravam da vida cotidiana profundos sentimentos que movem os seres humanos.

Dois grupos de colegas dos irmãos combinam uma viagem até uma cidade próxima onde já passa o trem rápido, pois acreditam que expressando seus desejos variados no cruzamento de dois comboios concretizam-se milagres. Juntam o que podem, pois as passagens são dispendiosas, além do mínimo necessário para os lanches. Sem um lugar determinado para dormirem, acabam sendo acolhidos por um casal de idosos, cuja filha também foi atraída pelas grandes metrópoles. Eles se sentem gratificados pelas presenças das crianças.

Muitos detalhes ricos são recolhidos dos problemas que os japoneses enfrentam atualmente no cotidiano das pessoas comuns, com poesia, sem colocações piegas ou melodramáticas. Seriam interessantes que discussões sobre este trabalho fossem efetuadas para que os jovens de hoje, bem como admiradores do cinema japonês, tenham compreensão de todos os detalhes e as suas nuances, que são mais ricas do que aparecem.

Tudo isto é narrado com poesia, enriquecido pelo desempenho de atores infantis de grandes potencialidades expressivas. Há esperanças para a volta, com novas leituras, da capacidade de captação das importantes relações entre seres humanos reais.



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