Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Habilidade na Mudança da Caderneta de Poupança

4 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

O governo Dilma Rousseff vem desenvolvendo uma verdadeira campanha para reduzir os custos dos financiamentos no Brasil, que estavam entre os mais altos do mundo e não tinha correspondência com a solidez conquistada pela sua economia. Todos entendem que os juros altos reduzem as possibilidades de expansão das atividades das empresas, inibem os consumidores a utilizarem o financiamento para adquirir bens de valor mais alto e deveriam estimular as poupanças. Mas, no Brasil, pela sua longa histórica de inflações elevadas e um oligopólio de instituições bancárias, ao que se somam outros fatores, os juros sempre foram elevados, não se conseguindo os efeitos desejados.

Atualmente, com a inflação razoavelmente comportada em todo o mundo e no Brasil, e a necessidade de estimular o crescimento econômico diante de um desaquecimento generalizado das economias, as autoridades optaram por uma redução substantiva dos juros de todos os tipos. Dentro deste esforço, a tradicional caderneta de poupança teria que ser também alterada na sua remuneração, uma operação delicada que poderia provocar uma reação adversa dos que a utilizam para manter as suas economias, de forma popular.

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As autoridades conseguiram uma forma criativa e adequada para a mudança. Os saldos decorrentes das operações efetuadas nas cadernetas de poupança até hoje continuariam gozando do mesmo sistema de remuneração e somente os novos seriam alterados ligeiramente para baixo quando a taxa básica chamada de Selic, fixada pelo Banco Central, chegasse a igual ou inferior a 8,5% ao ano (atualmente é de 9,0%), o que se espera que venha a acontecer nas próximas semanas. Mas as alterações seriam pequenas, pois elas foram estabelecidas em 70% da Selic para as novas poupanças, o que manteriam uma proximidade com as remunerações proporcionadas por outros mecanismos semelhantes utilizados pelo mercado. Por ser uma mudança gradual, atingindo somente as novas operações, não assustariam os pequenos poupadores, ao mesmo tempo em que não haveriam transferências de recursos de outras aplicações para a caderneta de poupança, como já ocorreu em poucos momentos no passado.

Tudo indica que esta habilidade das autoridades acabou sendo reconhecida pelo chamado “mercado” financeiro, cujas operações futuras já indicam uma ligeira redução de juros, denotando uma tranquilidade. Os poupadores que possuem tradicionalmente suas cadernetas de poupança devem absorver a mudança sem maiores problemas.

Mesmo que as autoridades monetárias venham recebendo críticas contínuas de tradicionais analistas que concentram suas atenções nos interesses do sistema financeiro, as mudanças que estão sendo feitas parecem estar sendo acompanhadas pelas instituições privadas, que sofrem concorrência com as iniciativas das públicas como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, que vêm se antecipando às reduções dos juros do setor privado.

O governo entende que com a inflação comportada e a necessidade de ativação da economia, os juros no Brasil precisam se aproximar dos praticados no resto do mundo, mas vem promovendo as baixas de forma gradualista e cautelosa. Os utilizadores de financiamentos gostariam que as quedas fossem mais rápidas, mas existem resistências por parte dos bancos que solicitam outras compensações das autoridades. O fato concreto é que os “spreads”, ou seja, as diferenças entre os juros pagos na captação de recursos e os que necessitam ser arcados pelos tomadores de recursos ainda não acusam quedas substanciais, continuando bem mais amplos que no exterior.

A forma cautelosa com que o governo vem lidando com este problema crucial, mesmo com as pressões dos discursos veementes, principalmente da presidente Dilma Rousseff, está colhendo lentamente os seus efeitos.

Os bancos alegam que os mesmo são elevados por causa das inadimplências dos devedores, que os obrigam a manter reservas elevadas para os “devedores duvidosos”. Esta cautela é necessária e recomendável para manter todo o sistema bancário hígido, mas a alegação dos bancos é somente em parte verdade, pois depois de alguns atrasos a maioria das obrigações acaba sendo honradas, havendo por vezes uma renegociação dos bancos com os que utilizam seus empréstimos.

Isto é que explica porque os bancos vêm registrando lucros expressivos, mesmo nos períodos em que outros setores da economia passam por dificuldades cíclicas ou decorrentes de políticas econômicas incorretas adotadas por muitos países, principalmente os desenvolvidos.

É claro que tudo poderia ser melhor, mas o governo vem acertando na maioria das suas ações econômicas, e poderá promover reformas mais profundas na medida em que ganhar maior credibilidade, mesmo com a resistência de alguns setores, inclusive políticos.

Os que são críticos à política econômica sempre existirão, mas parece que o seu número vem se reduzindo, permitindo que o Brasil tenha um crescimento econômico mais expressivo, sem muitas dificuldades colaterais.



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