Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Idiossincrasias e Herança Cultural Barram Fluência em Inglês

11 de maio de 2012
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura, Depoimentos, webtown | Tags: , ,

Nos meios acadêmicos esclarecidos, cada vez mais se reforça a ideia da internacionalização do ensino superior brasileiro. Mas a língua portuguesa ainda barra o intercâmbio de estudantes e professores estrangeiros, pois a maioria das aulas e exames de pós-graduação é ministrada somente em português. O ministro Aloísio Mercadante (ex-Ciência e Tecnologia, hoje Educação) já afirmou que a internacionalização é necessária para troca de experiências entre países e seria positiva para a ciência nacional: “Defendo a ideia de atrairmos pesquisadores de excelência do exterior”, diz. Aulas em inglês, por enquanto, existem por conta de professores e pesquisadores estrangeiros, brasileiros nem as levam em consideração. Para especialistas em direito à educação, é uma postura provinciana, mas tem fundamento, pois ofertas em inglês privilegiaria o acesso dos mais favorecidos.

Na verdade, há um quê de ideológico – para não dizer hipersensível xenofobia e chauvinismo, ou complexo de colonialismo – na resistência ao inglês não só no Brasil, como em Portugal, França, e alhures. Em países bem resolvidos, como Alemanha, Suécia ou Finlândia, cuja língua materna não é a inglesa, mas a maioria dos jovens já é bilíngue, as universidades, desde há muito tempo, têm aulas nesse idioma. Na comunidade europeia começa a procurar-se o domínio de três idiomas.

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Para muitos brasileiros, como para portugueses e franceses, a língua da Albion (ou melhor, do Tio Sam) parece exercer ameaça imperialista linguística: de tempos em tempos baixam-se leis para restringir ou proibir o uso de estrangeirismos (leia-se: anglicismos). Não conseguem admitir que o inglês se tornasse o que o grego representava para o período helenístico, ou o latim na Idade Média: uma língua franca que possibilita falantes de diferentes idiomas se comunicarem na Europa. Essa fobia sempre preocupou intelectuais no Brasil. Pelos anos 1920-40, era a prevalência do francês que incomodava. Após II Guerra, o inglês se tornou predador. Alunos tinham notas rebaixadas se escrevessem, por exemplo, piquenique, futebol, basquete, vôlei. O correto era convescote, pé-de-bola, bola ao cesto, bola ao ar. Na Espanha, prevalece até hoje baloncesto, e balonvolea. Na França, quando a bola toca as redes, grita-se but! but! (alvo) – pois lá, centenas de “barbarismes”, como a palavra goal/gol, foram um dia banidos do país. Assim, estudantes estrangeiros na França penam para se familiarizar com expressões comuns, como na informática, por exemplo: ordinateur para computer, ou logiciel para software etc.

Em 1999, projeto de lei concebido sob a égide do Partido Comunista do Brasil, propunha banir todos os estrangeirismos da língua portuguesa e obrigar brasileiros natos e naturalizados, e pessoas de quaisquer nacionalidades no país, a utilizar somente a língua portuguesa, sob pena de multas. Teríamos que inventar infindáveis expressões portuguesas condizentes para gol, roaming, pen drive, site, e-mail, sushi, pizza,…

Muitos se esquecem de que nenhuma língua moderna é 100% pura. Idiomas evoluem adaptando palavras uns dos outros, se simplificam com o tempo, perdendo a rigidez arcaica. Basta comparar o inglês de Shakespeare com o inglês falado hoje nos EUA, ou o português de Camões com o falado no Brasil: palavras e estruturas cada vez mais compactas, e regras mais simplificadas e leves. Recusar-se a adotar palavras de outras línguas ou a aceitar influências externas é herança de chauvinismo linguístico. Pela sua flexibilidade, o inglês evoluiu e se tornou língua adotada como universal.

Para Amy Chavez, do The Japan Times, no Japão o aprendizado e fluência em inglês, além das inerentes dificuldades causadas por fonética, estrutura, idiossincrasias, esbarra ainda em forte herança cultural. Em contundente e corajoso artigo, a colunista, também professora de inglês em universidade japonesa, analisa os fatores da cultura do hazukashii (timidez) como traços de boas maneiras e polidez. Timidez e kawaii (bonitinho, fofo), fazem do japonês dócil, paciente e tolerante: nada de críticas ácidas, violências verbais, impor exigências, ou contra-argumentar e desafiar professores. Ao se propor aprender outras línguas, uma “oclusão” psicológica ou “barreira” cultural impede a pessoa de pular de uma língua para outra, de ousar debater ou discordar, de aceitar franca e naturalmente um simples elogio, e de se livrar dos arraigados conceitos e preconceitos da esdrúxula noção kawaii que se tem da submissão, timidez, e da aparente concordância passiva. Para Amy Chavez, para ter sucesso no ensino de línguas entre alunos japoneses, o professor precisa também passar-lhes conceitos de cultural skills – habilidades culturais – que os levem a atingir proficiência também no modo de agir e pensar do povo em cuja língua se quer aprimorar.



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