Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Novo Normal na Atual Economia Mundial

23 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Dois artigos de autores diferentes, um de R.Daniel Kelemen, professor de Ciência Política e Diretor do Centro para Estudos Europeus da Rutgers University, New Jersey, USA, outro de Noeleen Heyzer, de Cingapura, subsecretária geral das Nações Unidas e secretária executiva da Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico, utilizam a mesma expressão “novo normal” para países europeus e do Sudeste Asiático. O primeiro foi publicado no Foreign Affairs e o segundo no Project Syndicate, ambas as instituições são respeitáveis e se dedicam à divulgação de estudos de profundidade. Os dois credenciados autores informam sobre as instabilidades dos países europeus e asiáticos no atual quadro internacional. Como isto também ocorre na América Latina, notadamente no Brasil, pode-se deduzir que se trata de um fenômeno praticamente universal, sendo necessário se adaptar ao novo quadro.

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Noeleen Heyzer e R.Daniel Kelemen

R.Daniel Kelemen refere-se aos problemas enfrentados pelos países europeus informando que os problemas existem antes da atual crise grega e que devem levar muito tempo para serem resolvidos, tanto pela alternativa da saída da Grécia da zona do Euro, como pela sua permanência com a ajuda dos grandes países como a Alemanha, por intermédio do Banco Central Europeu. O artigo que tem o título “Europe’s New Normal” trata dos problemas com muita profundidade, valendo a pena a sua leitura completa podendo ser acessado pelo: www.foreignaffairs.com/print/134894 .

O artigo de Noeleen Heyzer, uma experiente ocupante de importantes cargos em organismos internacionais, informa que o impacto do que vem acontecendo no mundo, principalmente na Europa, afeta os países asiáticos, trazendo incertezas e volatilidade, mas que os efeitos sobre eles são o da redução das exportações e do seu crescimento, que ainda continuará sendo mais elevado que no resto do mundo. O seu artigo completo, cuja leitura é extremamente proveitosa, tem o título “Shock-Proofing Asia’s Economies” pode ser acessado pelo: www.project-syndicate.org/print/shock-proofing-asia-s-economies .

Sempre existe a tendência dos brasileiros, que habitam um país de dimensões continentais, a olharem somente para o que acontece no Brasil, mas lendo estes artigos, pode-se ter uma boa noção comparativa dos problemas enfrentados por todos.

No caso da Europa, o artigo de Kelemen deixa claro que a Alemanha foi a grande beneficiária da introdução do euro, e que a alternativa da saída da Grécia só vai agravar a situação dos demais membros, principalmente da Irlanda, Portugal e Espanha. Mas na lista pode ainda se acrescentar outros como a Itália que foram agrupadas no bloco que ficou conhecido como PIIGS. Os países considerados como do “Norte” também enfrentarão longos problemas de ajustamento, como ressalta o autor, mesmo que tenham que suportar a Grécia.

Ele trata desde o acordo de Maastrich que tentou um mínimo de regra para que os países membros controlassem os seus problemas fiscais, notadamente do seu endividamento. Até chegar as atuais regras para utilização dos fundos do ESM – Mecanismo de Estabilidade Europeia. Todos foram incapazes de uniformizar as diferenças profundas que existem nas realidades das economias dos diversos países membros. Quando existiam abundâncias de recursos, os problemas ficaram camuflados, tendo eclodido depois da crise de 2008, e qualquer solução vai demandar muito sacrifício e tempo de todos, segundo o autor.

Heyzer informa que a incerteza e a volatilidade tornou-se o “new normal” na economia global, e por muitas razões elas vão afetar de forma significativa o crescimento de 2012 da área da Ásia-Pacifico. Esperava-se que a crise de 2008 tivesse um comportamento do tipo V, mas a crise europeia continua afetando até os Estados Unidos. O assunto está sendo tratado no relatório das Nações Unidas para 2012, que se refere ao Economic and Social Survey of Asia and the Pacific. O crescimento que vinha se observando deverá ser reduzido.

Além de diminuir as exportações, haverá um aumento do custo do capital, que, combinado com as políticas monetárias de alguns países desenvolvidos, poderá gerar medidas protecionistas que contribuirão para a redução do crescimento, ainda que continuem mais elevadas que o resto do mundo.

Esperam que os crescimentos chinês e hindu continuem elevados, funcionando como âncoras e um novo polo de desenvolvimento da economia mundial, ainda que sofram uma desaceleração. O crescimento interno entre os países do Sudeste Asiático devem servir de ajuda, ao mesmo tempo em que se prevê um decréscimo das pressões inflacionárias.

O grande risco para eles seria uma tendência desordenada dos problemas dos débitos soberanos na Europa, que pode reduzir em cerca de 10% de suas exportações que somam US$ 390 bilhões em um ano. Isto poderá reduzir o seu crescimento em 1,3% e deixar que 22 milhões de pessoas não tenham condições de deixar a faixa da pobreza, estabelecida como de US$ 2,00 por dia.

Os preços das commodities exportadas devem passar por uma volatilidade, e isto se tornará o “new normal”, exigindo os ajustamentos nacionais e regionais. Os países da região devem resistir à tendência de especialização em poucas commodities, segundo a autora.

A criação do emprego será um problema a ser enfrentado, dentro do que ela chama de “shock-proofing”, incluindo a piora na distribuição de renda. Muitos outros problemas surgirão, como a necessidade de estabilidade monetária, influxo de capitais, volatilidade da taxa de câmbio, além dos desastres naturais. Mas a autora entende que enfrentar estes problemas que chegam num período de elevado crescimento acaba sendo razoável. Eles esperam que seja possível manter a sustentabilidade compartilhada com a prosperidade, ajudando o resto do mundo.

São aspectos que os países da América Latina teriam que aprender com a experiência dos asiáticos, neste período generalizado de incertezas e instabilidades.


2 Comentários para “O Novo Normal na Atual Economia Mundial”

  1. O Novo Normal na Atual Economia Mundial » Asia comentada | Info Brasil
    1  escreveu às 20:06 em 23 de maio de 2012:

    […] Original post: O Novo Normal na Atual Economia Mundial » Asia comentada […]

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 00:04 em 24 de maio de 2012:

    Obrigado pela menção.

    Paulo Yokota


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