Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Questionando a Meritocracia Chinesa

14 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

Certamente, a China atual ainda se encontra num estágio de desenvolvimento político em que as suas próprias autoridades máximas reconhecem que existem reformas a serem efetuadas para dar continuidade ao seu processo, mais destacado do ponto de vista econômico. Um país com a complexidade da China, com longa história e cultura, ampla diversidade étnica e cultural, acentuadas disparidades regionais e pessoais de renda, não poderia ter um quadro muito diferente, e as críticas às suas dificuldades se acentuam nos momentos cruciais de suas mudanças para uma nova geração de dirigentes.

Minxin Pei, professor de governo no Claremont Mc Kenna College, vem se destacando nas críticas, como no artigo distribuído pelo Project Syndicate, informando que o sistema de meritocracia da China era somente um mito, como ficou claro no escândalo envolvendo a queda do Bo Xilai, o antigo chefe do Partido Comunista de Chongqing. Muitas de suas imperfeições foram explicitadas, segundo o autor.

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Minxin Pei, professor do Clearemont Mc Kenna College

O autor esclarece que escândalos políticos podem provocar limpezas nos governos, destruindo duvidosas carreiras políticas, mas também derrubar mitos políticos que consagram alguns regimes, como da atual China. Bo Xilai personificava, segundo ele, a meritocracia da China, apesar dele ser um filho de um antigo vice-premiê. A região de Chongqing passou por um surpreendente desenvolvimento, mas hoje ficou claro que nos seus porões aconteceram fatos tenebrosos.

Segundo Minxin Pei, que é muito crítico ao que vem acontecendo na China, muitos dos atuais líderes afirmam possuir títulos acadêmicos e trabalhos importantes executados no desenvolvimento em áreas específicas, que podem ser questionados por terem sido fraudulentos ou duvidosos. Na aparência, podem refletir méritos, mas muitos podem ser duvidosos ou maleáveis.

Todos sabem que os dados estatísticos são precários na China como em muitos países emergentes, não contando com metodologias consagradas e passíveis de serem conferidos. Grandes resultados são alardeados, quando foram inflados por empréstimos duvidosos de retornos questionáveis.

Na China, muito se depende do que denominam “guanxi”, ou conexões que algumas personalidades possuem com os detentores do poder, não havendo nenhuma transparência no processo. O mesmo ocorre em outros países, e são constantes as denúncias, tanto em países emergentes como até desenvolvidos.

Ainda que isto seja parte da verdade, o fato é que na China, desde os tempos imemoriais, os chamados “mandarins” que auxiliavam as ações dos imperadores eram escolhidos fora dos quadros dos nobres, supostamente pelos seus méritos. Em muitas sociedades ocidentais, os nobres tinham direitos sobre terras somente pelas suas ascendências, pouco se relacionando com os seus méritos pessoais.

No Japão, depois da chamada Revolução Meiji, foram formadas as universidades imperiais para a formação de quadros para a administração pública. Mas acreditar que um simples diploma os qualifica adequadamente parece ser também um extremo.

O atual sistema eleitoral também tem as suas imperfeições, principalmente quando não existe a possibilidade de uma adequada “accountability” entre representantes e representados. Muitas das escolhas derivam da capacidade de arrecadação de recursos e de comunicação com os eleitores.

Mesmo relativizando a meritocracia, ainda parece que os concursos públicos e as carreiras continuam sendo meios menos distorcidos para a ascensão dos que ocuparão posições de líderes. Sobreviver a longas disputas políticas mostram qualidades, ainda que não sejam suficientes.

Enquanto forem sociedades de seres humanos, tudo indica que a perfeição não existe, mas pode procurar formas que permitam o seu continuo aperfeiçoamento, com o máximo de transparência possível.



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