Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Considerações Sobre a Economia do Pós-Crescimento

1 de junho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Sem pretender análises mais profundas, as interessantes colocações exploratórias que foram efetuadas no artigo elaborado por Carlos Eduardo Lins da Silva para o Valor Econômico, publicado no suplemento Eu & Fim de Semana com o título “A economia do pós-crescimento”, estimulam algumas reflexões. O autor se baseia na experiência pela qual passou recentemente em Osaka e Tóquio e aventa a possibilidade do Japão estar atravessando por um novo ponto de inflexão na sua evolução, diante dos dilemas energéticos por que passa depois da contaminação provocada por Fukushima Daiichi. Considera o passado histórico do primeiro povo que sofreu bombardeios atômicos em Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundia, mantendo este trauma coletivo.

Ele observou a renovação do “Cool Biz” que vem sendo usado desde o período de governo do Junichiro Koizumi, muito antes dos recentes acidentes que atingiram o Nordeste do Japão, como forma de economia de energia. Todos sabem que o verão nas zonas temperadas pode ser mais desagradável que nos trópicos, tanto pelas suas elevadas temperaturas como o grau de umidade, sem uma ventilação adequada. Cheguei a experimentar no Japão o mesmo que enfrentei muitas vezes em Belém, Manaus, Teresina ou Cuiabá, locais conhecidos pelas condições climáticas adversas em determinados verões.

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Carlos Eduardo Lins da Silva

Nas reuniões que mantivemos no gabinete do premiê Junichiro Koizumi, mesmo com a conhecida formalidade dos japoneses, estávamos sem paletó e gravata, somente de camisa com mangas curtas. Portanto, esta prática atual não é decorrente somente da necessidade de economia de energia. Aliás, Jânio Quadros já tentou evoluir para vestimentas brasileiras que fugissem dos padrões europeus, como também é utilizado em muitos países tropicais da Ásia.

O que não se divulga publicamente é que a Usina de Fukushima Daiichi foi projetada e construída pela empresa norte-americana General Eletric na época da sua implementação, pois todas as japonesas contam com sistemas de emergência de energia situados em níveis bem mais elevados do que os afetados pelos tsunamis recentes no Nordeste do Japão.

Os movimentos contrários ao uso da energia atômica sempre foram importantes entre os japoneses, como se observava a cada lembrança do aniversário da bomba de Hiroshima, nas cerimônias silenciosas junto aos marcos ali existentes, principalmente no museu que expõe os horrores sofridos pelos habitantes daquela cidade. Alguns sobreviventes daquela tragédia moram no Brasil, bem como na Coreia, cujos habitantes foram forçados a trabalhar nas fábricas japonesas de armamentos naquele lamentável período de guerra.

As dificuldades com as perspectivas futuras dos japoneses, que desenvolveram uma cultura insular, decorrem não somente do envelhecimento relativo de sua população, como com o declínio de sua população pouco afeito à miscigenação com imigrantes estrangeiros. O drama agrava-se com a necessidade de muitos aposentados terem que transferir suas residências para países estrangeiros, pois não contam com condições de sobrevivência no Japão, onde o custo de vida é mais elevado. Ao mesmo tempo, houve uma desagregação do conceito familiar que era tradicional naquele país, com os jovens se dirigindo para os grandes centros urbanos a procura de trabalho.

As atuais empresas japonesas, dentro do processo acentuado de globalização, são obrigadas a transferir muitas das suas unidades produtivas para países onde os custos da mão de obra são baixos, para manter sua competitividade. O problema não se resume, portanto, em manter o nível de vida que os japoneses já conquistaram, sempre medido pelas suas médias. Mas o da criação de empregos no Japão para atender os jovens que chegam ao mercado.

O conceito de “pós-crescimento” que é discutido no artigo com base nas contribuições de James Gustave Speth, da Universidade de Yale, e parece apoiado por Norihiro Kato da Universidade de Waseda, apresenta alguns problemas. Em economia, quando a qualidade de vida implica em diversificações das necessidades humanas, ela está dentro do conceito de desenvolvimento econômico. Parece natural que se aspire por outras demandas culturais ou de liberdade política, não se resumindo nas necessidades materiais.

Ainda que questões como os problemas de crescimento da dívida pública sejam também discutidos, deve lembrar-se que parte delas decorre dos dispêndios públicos com as necessidades sociais, como do amparo dos aposentados e assistência médica dos idosos, que tende a ser mais elevada que a dos moços. Sem que haja população suficiente em idade de trabalho para proporcionar os recursos necessários para estes encargos.

Observações como as colhidas pela Célia Sakurai, notadamente nas contribuições de Ruth Benedict, não parecem as mais adequadas neste contexto. O que parece que a antropóloga contribuiu mais com o seu “Crisântemo e a Espada” foi na compreensão das autoridades norte-americanas sobre a preservação da figura do Imperador, símbolo do Estado japonês, que, apesar de poder ser responsabilizado por crimes de guerra, entendeu-se que poderia ajudar na reconstrução do pós-guerra, destituído do seu caráter sagrado de antes da Guerra.

No que se refere ao intercâmbio bilateral Brasil e Japão, parece que se continua mantendo o sentido da complementaridade, quando a história econômica recente vem comprovando que os intercâmbios entre países com condições semelhantes parecem mais eficazes. O Brasil não pode ser condenado a continuar como simples fornecedor de matérias-primas agrícolas ou minerais, mas as dimensões do seu mercado interno devem permitir a sua evolução no sentido da industrialização competitiva de alguns setores, como também vem ocorrendo na China e na Índia, inclusive com a expansão dos seus serviços. A observação é a mesma do embaixador brasileiro Marcos Galvão no Japão, como de muitos outros analistas. Hoje se persegue o intercâmbio nas pesquisas tecnológicas e nos aperfeiçoamentos nos ensinos universitários.

O que se pode observar é que cada país, com as suas limitações, condicionamentos histórico-culturais e políticos, procura se adaptar a este mundo globalizado, encontrando formas de manter o seu desenvolvimento de forma sustentável. A ampla discussão destes temas nos enriquece a todos.



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