Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Reação Japonesa Inclusive em Pesquisas Científicas

14 de junho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , | 21 Comentários »

Começaram a surgir vários sinais que o Japão, pressionado pelas suas necessidades, reage positivamente em diversos setores introduzindo inovações que não eram frequentes numa sociedade e economia como a japonesa, tradicional, mas já desenvolvida, considerada industrializada. Um deles é a mudança da Japan Society for the Promotion of Science, criada em 1932 como entidade quase governamental, mas que a partir de 2003 entrou numa nova fase, passando a ser independente. Empenham-se atualmente em aperfeiçoar a eficiência, oferecendo serviços de qualidade para pesquisadores, universidades, indústrias e institutos de pesquisa.

Eles organizaram a WPI – World Premier International Research Center Initiative dentro desta instituição, congregando o chamado AIMR on material science da Universidade de Tohoku, o chamado Kavli IPMU on physics and mathematics da Universidade de Tokyo, o chamado iCeMS on materials science and stern cells da Universidade de Kyoto, o chamado IFReC da Universidade de Osaka, o chamado I²CNER on carbon-neutral energy da Universidade de Kyushu e o chamado MANA on nanotechnology do National Institute for Material Science que está localizado na cidade científica de Tsukuba. Estes nomes são estranhos para os leigos, com letras maiúsculas e minúsculas, mas com grande significado para os cientistas.

wpi_logo

Os japoneses, reconhecendo que suas pesquisas não eram competitivas no mundo, com exagero na estruturação hierárquica com a idade (influência do confucionismo), sem contar com pesquisadores estrangeiros e de mulheres em postos de comando, mantendo-se isolados, procuraram alterar os seus comportamentos, introduzindo inovações raras no mundo para os cientistas que costumam ser estranhos. Uma das inovações foi a criação de um novo ambiente que propicie o intercâmbio entre os pesquisadores, introduzindo um chá da tarde ou um happy hours onde eles são estimulados a trocar informações.

Muitos pesquisadores estrangeiros foram envolvidos, valorizou-se a produção individual, quando os trabalhos no Japão tendiam a um exagero de coletivismo. Foram estimuladas as apresentações de “papers”, inclusive individuais para as revistas internacionais especializadas, e os resultados foram surpreendentes.

Estas organizações que formam o chamado WPI Centers já conseguiram, entre 2007 a 2010, publicar 2.497 artigos, atingindo a faixa top de 1% em termos de citação, segundo dados da entidade especializada Thomson Reuters. Ficaram somente abaixo da Rockfeller University, superando as consagradas MIT, Princeton, Harvard, Caltech, Stanford, UCLA-Berkley, Max Plank, Cambridge, Washington e Oxford, as mais renomadas do mundo.

Dos 700 papers apresentados pela IFReC, 12 tiveram mais de 150 citações e 4 tiveram mais de 300 citações. Isto significa que a comunidade científica internacional está utilizando estes conhecimentos para elaborar os seus próprios, reconhecendo as contribuições das quais se beneficiaram.

Eles estão trabalhando nos setores de ponta do conhecimento científico, tendo como orientação prestigiar os pesquisadores jovens, o intercâmbio científico internacional, conceder bolsas para pesquisadores científicos, cooperação com a comunidade científica e a indústria, coletar e distribuir informações científicas e as atividades de pesquisa, dentro da orientação governamental do Japão.

Para conseguirem estes resultados, as liberdades para os pesquisadores são amplas, como não conhecidas no Japão no passado. Os salários podem ser elevados livremente, dependendo da competência dos pesquisadores e de acordo com o mercado internacional. Alguns pesquisadores podem exercer outras tarefas em instituições no Japão ou no exterior. A unidade da Universidade de Tohoku é comandada por uma mulher, Motoko Kotani.

Estas inovações estão revigorando as pesquisas científicas no Japão, como foi publicado como advertisement feature num dos suplementos da prestigiosa revista Science, mundialmente reconhecida como uma das fontes básicas para a transmissão dos conhecimentos científicos de ponta.

Além deste empenho na pesquisa básica, nota-se hoje no Japão um grande esforço de internacionalização ou globalização de suas principais empresas. Os japoneses estão se destacando no mundo como os maiores investidores no exterior, adquirindo organizações empresariais tradicionais em outros países.

Isto não ocorre somente na Ásia, mas está se estendendo não somente pela Europa e Estados Unidos, como na Austrália, América do Sul e África. Os que imaginavam que o Japão tinha entrado em decadência precisam observar o que está acontecendo de relevante, para superar as dificuldades a que estão sujeitos.

O que ainda parece defasado no Japão é a sua classe política e as lideranças das entidades empresariais. Certamente ,está ocorrendo dentro da sociedade e economia japonesa algumas coisas que merecem ser observadas.


21 Comentários para “Reação Japonesa Inclusive em Pesquisas Científicas”

  1. Gabriel Abdenur
    1  escreveu às 17:35 em 14 de junho de 2012:

    Querido Paulo,
    Jamais duvidei da capacidade criativa do povo do Japão. Nunca questionei a habilidade de se reinventar desta nação. Sou descendente de árabes, mas sempre tive muitos amigos nipo-brasileiros, em São Paulo.

    Acho que os japoneses são capazes de produzir quase tudo com, no mínimo, boa qualidade, até vinho e whisky. Já provei garrafas da Kirin/Mercian e da Suntory/Yamazaki . Simplesmente, excelentes! As cervejas Sapporo são deliciosas!

    O “Ásia Comentada” é nota 1000!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 19:07 em 14 de junho de 2012:

    Caro Gabriel Abdenur,

    Muito obrigado pelos comentários. Os árabes também deram grandes contribuições ligando a Ásia com a Europa, pela Rota da Seda. O Império Otomano trouxe grandes contribuições culturais para o desenvolvimento da Europa.

    Paulo Yokota

  3. Juliana Gomes
    3  escreveu às 17:12 em 15 de junho de 2012:

    Doutor Paulo Yokota:

    Peço, por gentileza, que o senhor leia a matéria “Why are Japanese buying Swiss companies?” no seguinte link:

    http://www.swissinfo.ch/eng/business/Why_are_Japanese_buying_Swiss_companies.html?cid=32904110

    Obs.: indubitavelmente, o texto complementa um dos seus recentes artigos.

    Beijos!
    Juliana

  4. Juliana Gomes
    4  escreveu às 17:21 em 15 de junho de 2012:

    Só para complementar:

    Swiss firm opens doors for Japanese

    http://www.swissinfo.ch/eng/business/Swiss_firm_opens_doors_for_Japanese.html?cid=32897758

  5. Paulo Yokota
    5  escreveu às 18:36 em 15 de junho de 2012:

    Cara Juliana Gomes,

    Agradeço a suas observações e já tinha lido esta matéria que é uma entrevista interessante. Tenho a impressão que as empresas asiáticas, não só japonesas, mas as chinesas, indianas e coreanas estão aproveitando o câmbio, como foi explicado, na aquisição de empresas européias que são consideradas estratégicas, tanto pelas suas penetrações nos mercados externos (principalmente emergentes) que continuam com a demanda crescente. Elas estão se globalizando, e fica mais rápido adquirir as redes já existentes, e devem promover algumas ampliações, utilizando o pessoal europeu disponível, de alto nível.
    No entanto, existem muitos problemas. Os lucros que podem ser obtidos com estas aquisições demoram um tempo, e nem sempre todas serão bem sucedidas. As empresas japonesas costumam possuir um relacionamento com muitos fornecedores do Japão, de pequeno e médio porte, que não contam todas com condições de acompanhar este processo de globalização.
    Como vai se compatibilizar tudo isto, depende de caso a caso. Os chineses estão procurando empresas no exterior cujas marcas são consagradas e que atendem, inicialmente, os turistas da própria China que estãoo “invadindo” o Japão, os Estados Unidos e a Europa. Como bons empresários e com tradição milenar de comércio (desde a Rota da Seda, que mantinham contatos com os finícios, veja V.), além de uma forte dispersão de sua população como imigrantes, como se observa no Reino Unido, no Canadá, na Austrália e nos Estados Unidos. Até para o Brasil está aumentando a imigração chinesa. Em escala menor, isto acontece com os indianos, e os coreanos não contam com tantas populações, mas também estão presentes na maior parte do mundo.
    Parece que este processo vai durar muitas décadas, e eles têm paciência para aguardar a superação da atual crise que deverá demorar alguns anos.
    É um processo interessante de ser acompanhado, mas espera-se que proporcione benefícios para todas as partes, sem o que não é sustentável.

    Paulo Yokota

  6. Mayra Pinto Peixoto
    6  escreveu às 12:31 em 16 de junho de 2012:

    Acidentalmente, encontrei este blog e gostei de coração. Eu pesquisava sobre a rede Seven Eleven (EUA) e, para o meu espanto, acabei descobrindo que foi comprada por uma empresa do Japão. Li inúmeros textos e estou aprendendo muito sobre a Ásia.
    Sou leitora de jornais especializados em economia e já sabia que os nipônicos estavam comprando muitas corporações por aqui e no exterior. Tenho um parente que labora na brasileira Produmaster que foi adquirida por uma transnacional japonesa. Por muitas décadas, é provável que a Terra do Sol Nascente continue a ser uma grande força econômica e tecnológica.

    Bom dia.

  7. Paulo Yokota
    7  escreveu às 15:44 em 17 de junho de 2012:

    Cara Mayra Pinto Peixoto,

    Obrigado pelos seus comentários. Em qualquer país, só na medida em que nos tornamos competitivos no exterior é que podemos afirmar que estas empresas são realmente eficientes. Nós brasileiros também pecisamos aumentar a nossa presença no exterior, que ainda é modesta. Estando no exterior temos maiores oportunidades para conhecer o que se faz de eficiente em termos internacionais.

    Paulo Yokota

  8. João Cruz Trindade
    8  escreveu às 12:38 em 17 de junho de 2012:

    Não concordo com o seu Yokota. As empresas japonesas, chinesas e coreanas só querem explorar países como o Brasil e do continente africano, a nossa querida mãe África. Eles exploram os recursos naturais e enriquecem, ao contrário do que se costuma dizer. Salários altos só nos seus países de origem. O Brasil poderia viver sem os exploradores do capital nacional.

  9. Paulo Yokota
    9  escreveu às 15:39 em 17 de junho de 2012:

    Caro João Cruz Trindade,

    Lamento que V. ainda pense desta forma, que parece muito defazada no tempo, coisa de antes da Segunda Guerra Mundial, com qualquer tipo de investimento estrangeiro, como nós também fazemos no exterior.

    Paulo Yokota

  10. Jose Comessu
    10  escreveu às 12:48 em 17 de junho de 2012:

    Caro Paulo.
    Vendo o acervo do Estadão, reparei nessa matéria de exatos 40 anos atrás onde você como diretor do Banco CEntral falava dos investimentos japoneses na infraestrutura de exportação. O Japão atualmente tem interesse nessa área como tinha no passado?
    Como curiosidade na mesma página tem um anúncio de exportação de sardinhas em lata Alcyon para o Japão.
    A página do Estadão é de 30 de junho de 72.
    http://tinyurl.com/7hvzdss

  11. Paulo Yokota
    11  escreveu às 15:05 em 17 de junho de 2012:

    Caro Jose Comessu,

    Obrigado pelo comentário. Naquela época o próprio governo japonês, por intermédio de agência como o JICA – Japan International Cooperation Agency, e o estão Eximbank do Japão, tinha interesses e ofereciam assistência e financiamento. Hoje os interesses são mais limitados, e as iniciativas necessitam ser privadas.

    Paulo Yokota

  12. Suzane Câmara de Paula
    12  escreveu às 19:46 em 17 de junho de 2012:

    Colega, por mim, recebo de braços abertos todas as empresas japonesas que desejarem investir no meu Brasil. É bom ler este texto e notar que o Japão continua sempre muito sério e preocupado em produzir novas tecnologias. O seu leitor João Cruz Trindade tem uma visão deveras preconceituosa. Infelizmente.

  13. Paulo Yokota
    13  escreveu às 19:18 em 18 de junho de 2012:

    Cara Suzane Câmara de Paula,

    Muito obrigado pelo comentário. No atual mundo globalizado, as empresas brasileiras também estão efetuando investimentos em outros países, e desejamos que os estrangeiros também venham a criar empregos aquí no Brasil.

    Paulo Yokota

  14. Tiklos
    14  escreveu às 21:12 em 17 de junho de 2012:

    Faço um esforço enorme para acreditar que os países asiáticos, principalmente a China, queiram, pura e simplesmente, apenas o intercâmbio comercial. Uma troca de serviços e conhecimentos. Fica difícil de acreditar observando o passado dos chineses, que ainda hoje, falsificam muitas coisas, preferencialmente as japonesas. Bonecos (Pokemon, Ultraman, etc.), carros e até lojas de conveniências são discaradamente falsificadas no intuito de ludibriar o povo. Ainda acho que tem muito de exploração e pouco de intercâmbio.

  15. Paulo Yokota
    15  escreveu às 19:04 em 18 de junho de 2012:

    Caro Tiklos,

    Parece que está na hora de V. viajar um pouco pelo mundo. Não existe na China mais falsificações que em outros países. Se V. for a Nova Iorque vai encontrar Rolex, Vitton ou outros produtos falsificados, como também na Europa. Não precisa acreditar em mim, veja com os seus próprios olhos. Por favor, não seja preconceituoso, pois existem muitos produtos hoje considerados chineses que são fabricados em outros países, como também se encontram cópias na China.

    Paulo Yokota

  16. Alzira Gutierrez
    16  escreveu às 12:13 em 19 de junho de 2012:

    Conversei com um professor universitário de São Paulo e ele me disse que as universidades japonesas estão sendo privatizadas. Antigamente, segundo este senhor, as patentes eram de propriedade do Estado japonês. Agora, muitos mestres no Japão estariam abrindo empresas com as tecnologias que estão desenvolvendo nas instituições de nível superior (não mais controladas pelo governo nipônico).

    Parece-me algo muito esquisito. O responsável pelo site sabe me dizer se esta informação procede? Se for verdadeira, acha funcionaria no Brasil?

  17. Paulo Yokota
    17  escreveu às 18:17 em 19 de junho de 2012:

    Cara Alzira Gutierrez,

    Existem no Japão as chamadas universidades imperiais, como a de Kyoto e de Tokyo, tradicionais na formação de uma elite para o setor público e privado. Também existem universidades privadas tradicionais como a de Keio e Waseda. O que está acontecendo, como postei no artigo, em que os diversos institutos de pesquisas estão mudando de comportamento. Isto acontece também no Brasil, onde existem mesmo na Universidade de São Paulo, diversas Fundações e Institutos de Pesquisas que atuam como entidades privadas, contando com maior flexibilidade. O governo, no caso japonês como o brasileiro, estimula pesquisas que são feitas em conjunto com indústrias e outros interessados, como as estatais Petrobrás ou privatizadas como a Vale e Embraer que contam com o chamado “golden share”, que em caso de necessidade, o governo pode exigir que seus trabalhos estejam alinhados com os propósitos do país.
    Em todo o mundo, mesmo na China e na Rússia, o comportamento do Estado vem se alterando, e muitos dos trabalhos educacionais, de saúde e pesquisas estão sendo feito no esquema público-privado, como no Brasil.

    Paulo Yokota

  18. Raphael
    18  escreveu às 14:53 em 19 de junho de 2012:

    Falando em defasagem dos políticos, o homem que mais tem conseguido destaque é o liberal Toru Hashimoto, prefeito de Osaka, adepto do conceito que o Estado tem que “desinchar”.
    É o favorito dos jovens e tem trabalhado para subir no âmbito nacional e não só em Kansai. Seus detratores o comparam a Hitler (exagero, claro), abusando do seu perfil menos ortodoxo.

    O Sr. acredita que ele possa realmente ser a tal “atualização” do executivo japonês? Será que ele é só mais um demagogo?Acredito que não, senão ele não seria eleito para prefeito, logo depois de ter sido governador da província.

  19. Paulo Yokota
    19  escreveu às 18:08 em 19 de junho de 2012:

    Caro Raphael,

    Realmente, existem alguns políticos japoneses que estão procurando novos caminhos, pois os tradicionais estão com baixo prestígio. Acompanhamos as tentativas deste prefeito de Osaka e tudo indica que ele está apresentando alternativas, que agradam os seus eleitores. Também muitas política do sexo feminino tentam expressar o que as donas de casa comuns desejariam. Até o momento não parece ter surgido um “Estadista” capaz de mobilizar a população japonesa e muitos estão recomendando atenção ao novo ministro da Defesa, Satoshi Morimoto, que não é um político, e vou postar uma matéria sobre ele no site.

    Paulo Yokota

  20. Karine Bernat Brasil
    20  escreveu às 18:10 em 19 de junho de 2012:

    Após dar uma olhadela no artigo, já noto que, no futuro, mais marcas japonesas de refinada tecnologia ficarão famosas a nível mundial. Beijinhos.

  21. Paulo Yokota
    21  escreveu às 05:44 em 20 de junho de 2012:

    Cara Karine Bernat Brasil,

    Obrigado pelo comentário. O que parece é que a concorrência vai continuar aumentando no mundo, beneficiando a todos.

    Paulo Yokota


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