Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Imprecisão dos Dados Estatísticos Chineses e Brasileiros

18 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , | 2 Comentários »

O Valor Econômico publica hoje, em português, um artigo originalmente publicado por Dexter Roberts, do Bloomberg Businessweek, comentando as dificuldades dos analistas com os dados relacionados com o PIB chinês. O assunto já teria sido colocado por Li Keqiang em 2007 e ganha maior importância, pois ele é o futuro primeiro-ministro na próxima renovação da liderança política da China. Os dados divulgados regionalmente na China podem estar viciados, pois, dentro da meritocracia daquele país, as performances dos líderes consideram os resultados obtidos nas suas administrações das províncias. O artigo informa que a correlação feita com os consumos de energia não corresponde ao crescimento de 7,6% no PIB do segundo semestre, socorrendo-se de opiniões abalizadas como da GK Dragonomics, considerada uma das qualificadas em análises sobre a economia chinesa.

Muitos analistas chineses já admitiam a precariedade dos dados estatísticos chineses, que poderiam estar superestimados, havendo um esforço para a sua melhoria com a colaboração de organismos internacionais. Mas fazendo um paralelo com os dados brasileiros, é preciso admitir que poucos analistas se dedicam à adequada compreensão de suas precariedades que, ao contrário, podem estar subestimados. Credenciados analistas brasileiros também utilizam os dados de consumo de energia, como uma “proxy” da variação do PIB, pois os mesmos estão mais rapidamente disponíveis.

grafico_china

Há muitas décadas procuramos analisar as metodologias que são utilizadas para a elaboração destas estatísticas brasileiras, reconhecendo que vem se fazendo um esforço para o seu aperfeiçoamento, mas, igualmente, podem somente ser usados como aproximações, sem a segurança que muitos atribuem às suas sofisticadas elaborações econométricas, cujas hipóteses nem sempre são conhecidas. É o caso do produto potencial, por exemplo, muito utilizado pelos analistas do setor financeiro, que chega a beirar vigarice.

Os dados originais são fornecidos para o IBGE pelas empresas, onde muitas sonegam impostos e eles temem que os tributários possam ser confrontados com os estatísticos. Como o fornecimento destes dados estatísticos representam somente encargos para as empresas, sem proporcionar-lhe nenhuma vantagem, a tendência é encarregar os funcionários menos qualificados para o seu preenchimento.

Os mesmos são enviados para os setores encarregados de variadas estatísticas dos municípios, como os educacionais, demográficos, agrícolas, comerciais, industriais e os relacionados com os muitos do setor terciário da localidade. Os que podem proporcionar participações na divisão dos tributos estaduais e federais, como os demográficos, chegam a estar inflados, mas é preciso admitir que os demais sejam precários.

Vamos utilizar alguns exemplos. A produção animal necessitaria ser avaliada pelos abates e pelo aumento do rebanho, sendo que o primeiro se serve dos dados da fiscalização sanitária, cujo veterinário é funcionário público, mas reside no frigorífico dependendo muito do seu proprietário propenso à sonegação. Os rebanhos deveriam ser recenseados a cada cinco anos, o que nem sempre é feito corretamente, e suas estimativas acabam ocorrendo por extrapolação, e depois corrigidos por interpolação. Observaram-se casos de décadas de contínuo crescimento a uma taxa fixa, difícil de ser aceita, pois os rebanhos acabam flutuando dependendo do preço da carne. Utiliza-se nas técnicas estatísticas a hipótese que nos grandes números os erros se compensam, mas em determinados casos poderiam ocorrer vieses sistemáticos.

Num outro exemplo, as propriedades urbanas como rurais acabam sendo valorizadas pelas melhorias de infraestrutura e deveriam ser tributadas pelos ganhos de capital, ao mesmo tempo em que incorporadas no aumento do capital nacional quando agregado para o país todo. Dificilmente esta correção está sendo feita adequadamente, levando a uma subestimação do PIB brasileiro.

É evidente que o IBGE corrige a sonegação, utilizando um coeficiente, mas mesmo uma amostragem para tanto dificilmente proporciona uma estimativa crível do seu nível, que também varia no tempo. O que pode ser afirmar é que as estatísticas chinesas possam contar com maiores imperfeições, mas dificilmente que a metodologia originalmente elaborada pelas Nações Unidas esteja eficientemente aplicadas em todos os países. Tem razão Li Keqiang quando afirma que elas são apenas referências.


2 Comentários para “Imprecisão dos Dados Estatísticos Chineses e Brasileiros”

  1. Genival Brito
    1  escreveu às 19:06 em 19 de julho de 2012:

    Ou seja, o PIB chinês poderia ser, por exemplo, menos que o japonês? E o PIB nacional poderia ser maior que o divulgado pelo nosso governo? Será que eu entendi bem este artigo? Com a sua palavra, o blogueiro.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 03:28 em 20 de julho de 2012:

    Caro Genival Brito,

    O que estou afirmando que há possibilidade de divergências, havendo condições para as suas hipóteses. No entanto, mesmos os dados dos outros países apresentam problemas, ainda que menores. Os países desenvolvidos e pequenos geograficamente, onde as sonegações são menores, os dados podem corresponder mais à realidade. A dificuldade não é somente o seu valor absoluto, e os economistas utilizam muito os chamados PPP – Poder de Paridade de Compra, pois os preços expressos, por exemplo, em dólares, nem sempre possuem a mesma importância nos diversos países. Certamente com a mesma quantidade de dólares, adquirem-se mais produtos na China, pois habitações, alimentações, vestuários podem ser mais baratos naquele país. Houve períodos em que com US$ 4O na China um operário conseguia um padrão de vida de US$ 400 no Brasil. O relevante pode ser a taxa de crescimento que vem se observando no tempo, se os critérios não sofrerem maiores mudanças no tempo. Os erros seriam sempre no mesmo sentido. As comparações internacionais sempre apresentam maiores dificuldades.

    Paulo Yokota


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