Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Câmbio e o Salário Real

16 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Um dos conhecimentos sobre economia que apresenta dificuldade até para a adequada compreensão de profissionais com pouca experiência no assunto é sobre o efeito do câmbio sobre o salário real. Muitos leigos acham que economia é uma das coisas mais simples, quase intuitiva, não entendendo adequadamente o efeito de algumas variações como a cambial. É mais fácil compreender que uma desvalorização cambial, que no Brasil ocorre quando é preciso mais reais para adquirir, por exemplo, um dólar norte-americano, ajuda a promover a exportação e dificultar a importação de produtos, como os industrializados. Mas é mais difícil explicar que está havendo uma mudança de preços relativos, que é um conceito mais complexo e fundamental, provocando uma redução do salário real no Brasil. Isto afeta mais profundamente o maior segmento da economia que é o de serviços, onde os salários possuem uma participação mais relevante nos seus custos.

A revista The Economist desta semana publica um importante artigo sobre as reativações que estão ocorrendo na economia dos Estados Unidos, citando que serviços como o de arquitetura e elaboração de grandes projetos de imobiliários estão, como a nova torre de Xangai na China, sendo realizados pelas empresas americanas. A Embraer do Brasil construiu uma unidade na Flórida, Estados Unidos, pois a decoração dos seus jatos executivos acaba ficando mais competitivo por lá do que por aqui, pois os salários dos norte-americanos estão mais baixos do que o dos brasileiros.

dolar1real

Muitos estrangeiros que vêm ao Brasil se queixavam e continuam se queixando que tudo é muito caro neste país e eles utilizam muitos serviços como de restaurantes, de transporte, de comunicação etc., principalmente porque costumam ser remunerados em moeda estrangeira. Ainda que os brasileiros também o sintam, como suas remunerações são em reais, são menos impactados pelo câmbio, que começou a ser corrigido mais recentemente.

O fato concreto é que os Estados Unidos continuam desvalorizando o seu dólar, aumentando a sua oferta, simplesmente emitindo-os e facilitando a expansão dos empréstimos dos seus bancos, afirmando que isto é importante para recuperar a sua economia e poder concorrer com produtos importados como os da China. Ao mesmo tempo, o Brasil veio corrigindo recentemente uma parte do seu câmbio, tendo passado para um novo patamar, ainda que insuficiente para compensar toda a desvalorização do dólar norte-americano.

Muitos analistas interpretaram que esta desvalorização provocaria uma inflação, num mundo globalizado que passa por um processo recessivo, e se enganaram. Outros temem que haja um refluxo exagerado de recursos financeiros que vieram aproveitar os juros elevados no Brasil, criando dificuldades para o financiamento das necessidades brasileiras. No entanto, na realidade, além deste novo câmbio ajudar nas exportações e dificultar as importações, tende a tornar os salários brasileiros mais razoáveis, fazendo com que os serviços no Brasil fiquem um pouco melhores. Isto tende a tornar os serviços brasileiros competitivos no exterior, ao mesmo tempo em que corrige parte dos serviços estrangeiros que se tornaram menos custosos.

Isto provoca também uma redução do exagero do turismo de brasileiros no exterior ao mesmo tempo em que tendem a promover o turismo interno, tanto para os brasileiros como para os estrangeiros, cujos custos são eminentemente de serviços, afetados pelos salários reais.

As moedas valorizadas, como o iene japonês, provoca um custo dos produtos japoneses pouco competitivos, e até empresas japonesas adquirem empresas no exterior onde pretendem aumentar suas produções. Com a redução da produção no Japão, evidentemente o emprego naquele país acaba se reduzindo. É isto que significa mudança de preços relativos, fazendo com que algumas atividades acabam se beneficiando e outras prejudicadas. Lamentavelmente, até os responsáveis pelas análises econômicas nos meios de comunicação acabam compreendendo inadequadamente o que está acontecendo, criticando injustamente algumas autoridades brasileiras responsáveis por parte da política econômica.

Acaba se concluindo que economia é um tipo de conhecimento um pouco mais complexo do que pode ser aplicado na administração, por exemplo, de uma padaria, por envolver relacionamentos com o exterior.



Deixe aqui seu comentário

  • Seu nome (obrigatório):
  • Seu email (não será publicado) (obrigatório):
  • Seu site (se tiver):
  • Escreva seu comentário aqui: