Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Conciliação dos Conhecimentos Acadêmicos com a Prática

25 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , ,

Na sua coluna semanal no Valor Econômico, o professor Antonio Delfim Netto faz uma análise da invejável carreira do economista Stanley Fischer, que na vida acadêmica, no FMI – Fundo Monetário Internacional, num banco privado e depois como presidente do Banco Central de Israel acumulou uma excepcional experiência com visões de muitos e diferentes ângulos. Isto permite que ele faça comentários evidenciando que muitos analistas, ainda que bem aparelhados, não conseguem compreender adequadamente todos os constrangimentos a que estão sujeitos os que formulam a política econômica em qualquer país.

O artigo informa, ainda que num economês nem sempre acessível, que Stanley Fischer “depois de mostrar que um sistema de metas de inflação relativamente ‘flexível’, no qual o banco central usa cuidadosa política monetária que leva em conta seus efeitos sobre o nível de atividade para decidir se a velocidade de retorno à meta é capaz de produzir o resultado esperado de estabilizar a expectativa de inflação no longo prazo”, resume, com base na sua longa experiência, os problemas em quatro itens: 1) o de um único instrumento com dois objetivos; 2) o “trade off” nulo no longo prazo entre inflação e crescimento que toma a mesma forma no curto prazo; 3) da taxa de câmbio para as pequenas economias abertas e; 4) dos preços dos ativos, da estabilidade financeira e da supervisão macroprudencial.

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Delfim Netto                                                          Stanley Fischer

Vamos tentar explicar estas complexas questões de forma que os leitores comuns tenham uma noção do que está sendo discutido. Muitos economistas, baseados no que aprenderam na teoria, imaginam que a política monetária destina-se exclusivamente ao controle da inflação, como se vê em muitos comentários veiculados pela mídia. Mas sempre as autoridades a utilizam mantendo um olho também sobre o nível da atividade econômica, ou seja, preocupam-se também com o emprego e o que acontece com os produtores. Isto é interpretado muitas vezes como falta de independência do Banco Central, que está sofrendo interferência do governo.

Na maioria dos países hoje se utilizam metas inflacionárias, mas elas não são rígidas, e são perseguidas ao longo de alguns prazos. Pode haver desvios, desde que num período mais longo, o processo tenda às metas estabelecidas. É comum a imprensa criticar todos os meses que a inflação superou a meta, e que só chegará a atingir a estabelecida no ano seguinte. Ainda que a meta seja importante, ela não é sagrada, e existem países onde eventos fortuitos, fora do controle das autoridades, são eliminados. Mas muitos críticos brasileiros acabaram chamando-os de “expurgos”, como se o as autoridades estivessem prejudicando a população. Sem esta correção, acaba havendo uma espécie de indexação, fazendo com que uma alta eventual de um preço acabe deixando efeitos acumulados para o futuro, prejudicando ainda mais a população. Normalmente, quando o preço do chuchu ou do tomate sobe devido a problemas climáticos, os consumidores acabam substituindo-os por produtos alternativos. E quando o preço do milho subiu no mercado internacional com a seca nos Estados Unidos, não adianta nada elevar os juros no Brasil, pois não vai aumentar a sua oferta.

Ninguém acredita mais que a inflação ajuda no crescimento econômico, mas há ocasiões em que a inflação não se deve somente em decorrência do consumo estimulado pelo crédito. Sempre existe uma defasagem na reação do aumento da produção, quando, por exemplo, as demandas de alguns produtos aumentam com a melhoria da distribuição de renda.

As economias, principalmente as pequenas, que mantém um grande intercâmbio com o exterior sofrem uma forte influência dos estímulos que são provocados pelas economias desenvolvidas, como está ocorrendo agora com os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Torna-se necessário, ainda que indesejável, que sejam tomadas medidas restritivas, para que não haja um ingresso exagerado de recursos financeiros de curto prazo, provocando uma valorização do real, por exemplo, que acaba prejudicando as exportações brasileiras e facilitando as importações.

Os aumentos dos preços de imóveis ou as flutuações dos valores das ações nas bolsas de valores acabam exigindo medidas de política monetária quando acabam prejudicando estes importantes setores. O Brasil veio reduzindo os chamados depósitos compulsórios de forma a permitir que os bancos aumentassem a sua capacidade de empréstimos.

Mas, em todo o mundo, apesar do chamado “monetary easy”, aumentando a disponibilidade de recursos financeiros, as empresas, com a falta de confiança numa evolução positiva da economia, procuram manter ativos financeiros com a aquisição de títulos públicos, ao mesmo tempo em que se aumenta o fluxo financeiro para aplicações nas economias que ainda remuneram melhor os recursos financeiros, mesmo de curto prazo.

Todas as medidas de política econômica, além de dependerem do exterior no atual mundo globalizado, contam com restrições internas, principalmente de natureza política. Não são somente os de atendimento das necessidades eleitorais, como de fortes corporações que se encontram, tanto dentro da administração pública como em diversas estatais e agências governamentais em todos os países.

Portanto, além da política monetária, há uma necessidade de uma adequada coordenação com a política fiscal, havendo também algumas flexibilidades cambiais, além de medidas que tornem as atividades econômicas competitivas com relação a outros países concorrentes.

Tudo isto acaba transformando a política econômica numa arte, que utiliza conhecimentos teóricos, respeita as restrições existentes, e veja o todo de forma sistêmica com todas as suas circunstâncias, pois as suas repercussões costumam ser diferenciadas para os diversos segmentos da sociedade.



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