Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Percepção dos Correspondentes Estrangeiros Sobre o Brasil

3 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Um artigo publicado por Jeff Fick, Luciana Magalhães e John Lyons no influente The Wall Street Journal é um exemplo do que os correspondentes estrangeiros que atuam no Brasil estão enviando para o exterior de notícias sobre o Brasil. Muitos outros veículos, como a Folha de S.Paulo/TV Cultura e o Globo News, também continuam divulgando estes pontos de vista dos correspondentes estrangeiros, que aumentaram a sua presença no país, muitos falando um português ainda precário. Mas, tudo indica, eles só podem contar com a percepção do que veem nos meios de comunicação do Brasil, sem uma capacidade de investigação mais aprofundada sobre as tendências de longo prazo, exagerando nas informações superficiais de curto prazo. Parece que há uma tendência universal que acaba dando prioridade à velocidade das notícias, do que uma análise mais profunda das informações, com o exagero das notícias telegráficas que são postados pela internet.

O artigo do The Wall Street Journal poderia ter o título, numa tradução livre, que o crescimento do Brasil continua apático, com os dados do primeiro semestre deste ano. Inicialmente, parece que houve um exagero na expectativa que o mundo emergente, com maior dinamismo, compensasse a desaceleração que se observou no mundo industrializado, sem se questionar o que provocou este processo, com o exagero da importância que o setor financeiro adquiriu em todo mundo, estimulando um movimento de manada.

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É evidente que todos gostariam que o primeiro semestre de 2012 tivesse sido mais brilhante para a economia brasileira. Mas a sua pobre performance ocorreu com o atraso na redução dos juros e outras medidas de estímulo ao aquecimento da economia, porque muitos analistas econômicos se opunham a reconhecer a profundidade da crise mundial, como o Banco Central do Brasil, mais informado, procurava informar. E a expectativa que as medidas de política econômica tenham resultados imediatos, parece que aprofunda o equívoco. Os correspondentes estrangeiros, como maior nível de informações do que ocorre no mundo, deveriam ser os primeiros a perceberem estes fenômenos.

Ainda que os efeitos dos preços elevados das commodities agrícolas já provoquem impactos na economia brasileira nos últimos meses, tanto porque a “safrinha” de milho foi uma “safrona”, como as acentuadas demandas de fertilizantes, sementes, equipamentos agrícolas que já ocorreram para o preparo da nova safra 2012/2013 são simplesmente ignorados. Valeria a pena que estes jornalistas percorressem o interior brasileiro para constatar com seus olhos o que já está ocorrendo e terá impacto tanto no segundo semestre de 2012 como em 2013. O crescimento da economia brasileira não ocorrerá somente pelas medidas de estímulos que estão sendo tomadas pelas autoridades locais.

O conjunto da redução dos juros, melhoria na taxa cambial, investimentos na infraestrutura, estímulo aos investimentos industriais demandam um tempo para provocarem efeitos sensíveis. Mas, como já foram tomadas há meses, no mínimo minoraram as desacelerações que poderiam ser mais profundas, como os que se observaram em muitas economias no mundo.

Quando as noticias se referem a crescimentos mais robustos em outras economias emergentes, nem sempre se atenta ao nível atual da renda per capita como a dimensão das populações e de suas economias. Parece evidente que economias que ainda estão nos seus estágios iniciais de desenvolvimento apresentam menores dificuldades do que uma que já está entre as maiores do mundo.

Ao mesmo tempo, parece que subestimam os avanços políticos e sociais, a melhoria sensível na distribuição de renda que ainda continua precária, a antecipação na consolidação do mercado interno, até os esforços para a redução da corrupção no atual julgamento na Suprema Corte. Estes avanços institucionais são mais difíceis que as simples melhorias dos ganhos dos que especulam no setor financeiro, que passa por um ajuste necessário, mas continuam apresentando suas resistências.



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