Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Paralelos Sobre os Compositores e Opiniões Políticas

11 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

A Osesp – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sem dúvida a melhor orquestra do Brasil, na sua programação deste ano de 2012 destacou os importantes trabalhos do compositor russo Dmitri Shostakovich. Ainda que suas obras venham sendo reconhecidas mais recentemente, mesmo hoje as opiniões dos apreciadores de obras clássicas são influenciadas pelas suas posições políticas, infelizmente. Muitos críticos o consideram um verdadeiro gênio, que sutilmente introduziu importantes inovações pessoais superando as censuras do período stalinista da antiga URSS, chegando a considerá-lo o Beethoven russo. Outros o consideram um compositor que aceitou as imposições das autoridades soviéticas da época, sendo a sua 7ª Sinfonia executada em 5 de março de 1942 em Leningrado, quando as tropas nazistas se encontravam nas suas proximidades. Não consideram até hoje a sua genialidade. Ainda que estas execuções tenham sido repetidas em Londres e nos Estados Unidos, quando os russos eram aliados na guerra contra Hitler. Constata-se que as posições políticas sempre influenciaram até a música clássica, o que perdura até hoje.

Executado na Sala São Paulo, a Osesp, que conta com a regular participação de 14 músicos russos, regida pela Marin Alsop mereceu uma ovação da plateia, mas alguns que compareceram ao concerto mostravam o seu desagrado, não aplaudindo a execução por causa do seu compositor. Algo similar parece acontecer com a avaliação de líderes políticos, lamentavelmente, mesmo hoje. Ainda que na atual crise mundial poucos países estejam colhendo resultados positivos, alguns críticos não concordando com o atual governo brasileiro pelas suas origens, não conseguem admitir os esforços que estão se fazendo para a consolidação da democracia, e a sensível melhoria na distribuição de renda no país, com todas as suas limitações, inclusive de capacidade gerencial.

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Dmitri Shostakovich e                                           Dilma Rousseff

A Osesp é hoje uma orquestra que começa a ser reconhecida no mundo, até porque cerca de metade dos seus músicos é estrangeira radicada no Brasil. Vem contando com regentes com prestígio internacional, com uma programação com ampla participação mundial das mais variadas origens. Faz parte do mundo globalizado, como está se tentando fazer tanto na política como na economia, às duras penas.

Que poderia ser melhor, não há dúvidas, mas há que conceder que o Brasil não conta com a tradição de uma significativa contribuição internacional, que sempre tem ocorrido de forma eventual ou de alguns gênios locais. Ainda não temos esta importância mundial, mas estamos lutando para ter um lugar ao sol.

Com todas as críticas que possam ser efetuadas, num país continental com todas as diferenças regionais, étnicas e culturais, consolida-se a criadora miscigenação, na tentativa de consolidar uma nova civilização, que tenha uma contribuição relevante no plano internacional.

Difícil imaginar um país que saiu do subdesenvolvimento, do autoritarismo e da precariedade política para consolidar um sistema democrático, onde os mandatos presidenciais sempre têm sido por períodos determinados, onde um operário e uma antiga terrorista possam chegar ao poder máximo, sem uma contestação sangrenta. Muitos gostariam que a história brasileira fosse mais brilhante e procura-se o diálogo para a sua melhoria.

O caminho a ser perseguido no futuro ainda apresenta cenários pouco claros, com muitos desafios a serem superados. Mas para quem tem olhos para ver o mundo e muitos que vieram do exterior preferem fincar as suas raízes por aqui, inclusive para os seus descendentes. As esperanças são grandes, não se exigindo a unanimidade, que não costuma ser inteligente.



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