Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Acordo dos Estados Unidos com a União Europeia

28 de fevereiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

Muitas análises estão sendo feitas depois que o presidente Barack Obama oficializou o início das conversações com a União Europeia visando um amplo acordo econômico transatlântico, que tem como aspecto básico as eliminações das tarifas alfandegárias no comércio entre as duas regiões. A de Tyson Barker, diretor das relações transatlânticas da Fundação Bertelsmann, publicado no site do Foreign Affairs, parece dos mais lúcidos e didáticos, exigindo que todos os analistas do mundo debrucem sobre o mesmo e as argumentações apresentadas. Se o entendimento se consolidar, ao que o autor atribui elevadas chances, o mundo será outro, exigindo que países como o Brasil mudem radicalmente suas posições atuais que concedem baixas prioridades para acordos desta natureza, restringindo-se as modestas iniciativas do Mercosul.

Muitas tentativas semelhantes já foram efetuadas no passado, mas não prosperaram. O autor lista um conjunto de razões que atribuem a atual tentativa maiores chances, tanto diante das dificuldades que todos enfrentam para uma recuperação econômica mais rápida como a necessidade de se contraporem ao aumento do poderio que ocorreu na Ásia, com a liderança da China, que acaba estimulando os demais países do continente, onde as populações chinesas são influentes.

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As tarifas médias entre as duas regiões estão em torno de quatro por cento, e removeria montantes de US$ 24 bilhões, num volume total de investimentos e comércio estimados em US$ 5 trilhões anuais, que juntos somam a metade do PIB do mundo. Segundo o autor, as duas economias poderiam ser beneficiadas com um crescimento de 0,5 a 2% do PIB, criando até dois milhões de empregos.

O artigo descreve as tentativas anteriores e as possíveis causas da impossibilidade de acordo, destacando-se as diferenças de postura com relação ao desenvolvimento. Existem diferenças com relação à agricultura, as regulamentações das tecnologias, os problemas de preservação das privacidades dos indivíduos.

O autor afirma que o Reino Unido, a Holanda e a Alemanha estão olhando a economia europeia com uma visão de longo prazo, considerando a necessidade de ganhar competitividade. Washington pensa que alguma tentativa preliminar é necessária para que os europeus possam remover os focos de resistência existentes.

O acordo poderia estimular as economias que se encontram com tendências de queda em ambos os lados do Atlântico, o que é atualmente mais grave que no passado, principalmente com o nível de desemprego na Europa. O assunto deixou de ser meramente econômico para ser político.

No nível das grandes estratégias estreitarem-se os laços dos Estados Unidos com a Europa seria aumentar o peso do Ocidente no mundo com relação ao que está ocorrendo na Ásia, liderada pela China. Os norte-americanos tentam estabelecer com seus principais aliados no Pacífico algo idêntico, estabelecendo um movimento como de uma pinça.

Quando as economias dos dois lados do Atlântico eram inquestionáveis, como no período 1995 a 2007, ambos podiam se dar ao luxo de adiar as negociações. Naquela época, o tamanho da economia chinesa correspondia à da Alemanha. Agora, a OCDE estima que em 2016 ela possa se tornar a maior economia do mundo, dando-lhe uma enorme capacidade de definir os termos do comércio global.

Uma aliança dos Estados Unidos com a Europa permitiria que continuassem mantendo as suas influências sobre a governança global, que está se deslocando para a Ásia e o Pacífico. Nenhum país poderá conduzir a agenda internacional na próxima década, mas a combinação transatlântica poderá manter as rédeas da ordem econômica mundial.

Segundo o autor, o período de lua de mel oferecido pelas crises financeiras e ascensão da China, quando as decisões podiam ser adiadas, está se esgotando. Agora a agenda está apertada e as prioridades políticas estão mutantes. Os políticos necessitam aproveitar o atual clima propício, e o Brasil precisa estar consciente que tudo isto está caminhando, havendo necessidade de se engajar numa política mais agressiva de entendimentos bilaterais ou multilaterais.



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