Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Mudanças que se Observam no Fundão do Nordeste

2 de março de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

O suplemento Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico deste fim de semana apresenta dois artigos que merecem ser analisados. Um de Murillo Camarotto, que visitou a pequena localidade de Cocal no Estado do Piauí, que era considerada das mais pobres no país, e outra de Diego Viana baseado numa pesquisa de Anilson Favoreto e outros da Universidade Federal do ABC e do CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento feito em Monteiro, na microregião do Cariri paraibano. Diante de muitos trabalhos que vim realizando desde fins dos anos cinquenta do século passado no nordeste brasileiro, sinto-me qualificado para uma análise do que está se constatando.

O primeiro trabalho do qual participei foi no Vale do Açu, no Estado do Rio Grande do Norte, um dos primeiros de irrigação fora dos moldes do DNOCS – Departamento de Obras Contra a Seca, que visavam construir açudes no nordeste brasileiro, diante do diagnóstico que os rios da região não tinham a capacidade de regularizar as águas decorrentes das precipitações baixas e irregulares. O organismo, infelizmente, estava somente a serviço dos políticos locais, conseguindo poucos resultados. Mas, com a perspectiva de quase cinquenta anos, é possível perceber mudanças radicais ocorreram na região nordeste como um todo, com mais destaque em algumas áreas e menores em outras.

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Críticas sempre existirão, como a do professor Flavio Comim, da Universidade Cambridge e outros acadêmicos brasileiros, que também são bem vindas, pois ninguém imagina que tudo que está sendo feito seria o desejável, mas os dados da reportagem e as viagens pelas diversas localidades do nordeste constatam que mudanças relevantes estão ocorrendo. Muitos aperfeiçoamentos ainda são indispensáveis, e a eliminação da miséria absoluta é só o começo, como afirmou a presidente Dilma Rousseff.

O desenvolvimento regional, econômico, social e político é um processo complexo, e na medida em que algumas dificuldades são superadas, outras surgirão. O aumento da produção agropecuária da região, inclusive com o cultivo da soja em grande escala, tende a provocar uma piora na distribuição de renda. Mas um dos exemplos mencionados com a produção da apicultura, por exemplo, trazem aumentos reais de renda, fora dos mínimos subsídios dados pelo governo.

A quantidade de áreas irrigadas do nordeste está permitindo a produção de frutas que abastecem parte importante do Brasil, e permitem até algumas exportações. Num pequeno projeto do Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, constatei o progresso social dos beneficiados que produziam o cará, que somente necessitava de terras pobres arenosas, nenhum fertilizante ou defensivo, e permitia a sua exportação para a Suíça e a Alemanha, para a produção do melhor purê que se conhece. Podem dizer que se trata de um caso isolado, mas muitos destes tipos hoje estão disseminados no nordeste.

Os vales hoje úmidos, as serras de climas amenos, as irrigações, com intensa assistência técnica permitem produções de elevado valor adicionado que permitem o progresso social de muitas famílias. Mas, também existem problemas, como os exageros de água utilizada nas irrigações que criam os problemas das terríveis salinizações dos solos, que precisam ser evitados.

Junto com agrônomos estrangeiros visitamos algumas irrigações do São Francisco para a produção de uvas finas. A quantidade desejada de água seria a de 300 milímetros por ano, e estava sendo gastos mais que 3.000 milímetros, com grande desperdício deste precioso líquido, numa exploração empresarial.

Na região de Mossoró, no Rio Grande do Norte, perfurações foram efetuadas à procura do petróleo, mas o que se conseguiu foram águas termais de alta temperatura. Passaram a ser utilizadas para a produção de caju em grande escala, aproveitando os seus sucos como as amêndoas que encontram mercados promissores.

As produções de caprinos e carneiros deslanados permitem não somente o aproveitamento de seus leites, carnes como couros, nas condições climáticas mais adversas, mas precisam do suporte das pesquisas e assistências técnicas.

O que pode se aprender é que mesmo o meio rural do nordeste brasileiro não está condenado por um determinismo geográfico, mas adaptando tecnologias como as aplicadas em Israel nos kibuts, até com técnicas de gotejamento, existem amplas possibilidades que aos poucos vão sendo disseminada por esta ampla região.

Ainda há muito que se fazer, mas os primeiros caminhos já foram abertos, e muitas críticas podem ser aproveitadas para se transformar o “limão em limonada”. Nas minhas primeiras visitas à região eram professoras primárias as que sabiam escrever os seus nomes, mas hoje já temos novas situações.



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