Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Arrogância dos Desenvolvidos que Ajuda Pouco o Mundo

11 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

Um artigo publicado por Dani Rodrik, da Universidade de Harvard, no site do Project Syndicate, infelizmente, continua dando uma mostra da arrogância de alguns acadêmicos do mundo desenvolvido, ignorando os seus próprios aspectos que deveriam ser condenados. Ele lamenta que a reunião de cúpula dos BRICS na África do Sul resultou numa “obsoleta” proposição da criação de um novo banco de desenvolvimento para financiar os projetos de infraestrutura, algo que se assemelha a proposição dos idos 1950, informando que se esperava que os países emergentes assumissem maior importância desempenhando um papel mais relevante no mundo contemporâneo, o que pode ser uma parte pequena da discutível verdade. Adicionalmente, teria se criado uma reserva de US$ 100 bilhões de dólares para lidar com os problemas de liquidez que porventura se apresentem, originária do mundo desenvolvido.

Segundo este autor, a economia global tem operado até agora sob um conjunto de ideias e instituições que emanaram dos países avançados do Ocidente, o que não parece uma colocação das mais corretas e felizes. Arrogantemente, ele atribui aos Estados Unidos a doutrina liberal oferecida ao mundo, o multilateralismo em cujas regras o sistema mundial vem funcionando, ao que poderia ser acrescentar mal. E a Europa trouxe os valores democráticos, a solidariedade social e a engenharia institucional que permitiu criar a União Europeia. Parecem ideias parciais e uma desconsideração pela longa história da humanidade que ainda mal começava a se formar, quando outras civilizações asiáticas já tinham registrado avanços expressivos. Suas declarações poderiam gerar inúmeras contestações, dos mais variados ângulos, mesmo não se desejando gerar mais polêmicas.

VISIONI
Palazzo della Provincia Sala Depero
IL FUTURO DELLA GLOBALIZZAZIONE
Nella foto: Dani RODRIK

Festival dell'Economia
Trento 02 giugno 2011
Hugo Munozproject syndicate

Dani Rodrik

Estas contribuições ocidentais foram criadas para as conveniências daqueles que tinham uma importância preponderante até fins do século passado, que utilizaram o resto do mundo ao seu bel prazer. Os Estados Unidos eram liberais no que se ajustavam aos seus interesses, pois o desenvolvimento é datado, e aqueles que chegaram antes gozavam de vantagens sobre os que chegaram depois, dentro de uma concepção liberal. Seus sistemas financeiros e os monopólios como os relacionados aos controles petrolíferos, importante fonte de energia para o mundo, provocaram sensíveis danos no meio ambiente mundial, não aceitando até hoje alguns controles e metas que seriam estabelecidos nos fóruns internacionais para condições de sobrevivência para todos.

Para romper esta situação não isonômica, os países emergentes foram obrigados a conquistar o seu espaço com a ajuda de suas autoridades, até atingirem um mínimo de escala para se tornarem competitivos internacionalmente. Ainda necessitam de medidas protecionistas para se defenderem das inundações de recursos especulativos, que exaurem as economias menos avançadas.

Os valores democráticos tão decantados permitem a continuidade de barbaridades com as prisões em Guantánamo, sem que os mínimos direitos dos acusados sejam respeitados, nem possibilitando as suas defesas adequadas. Os tais direitos são válidos para os que são considerados seus aliados, mas não para os que são considerados inimigos, mesmo sem acusações comprovadas, sem direito a julgamentos mínimos como os que seriam aceitáveis dentro dos critérios de Haia.

Quem teria criado os paraísos fiscais senão os desenvolvidos, deixando vastos segmentos fora dos controles das próprias autoridades, que continuam rejeitando qualquer tipo de regulação razoável sobre os sistemas financeiros que continuam recebendo vultosos subsídios para sustentarem o que deveria já estar falido. Não é preciso ser um radical para rejeitar estas colocações que são consideradas absurdas até por minorias que não possuem o poder de alterar este quadro, mesmo no mundo desenvolvido.

A falta de expressivas lideranças de estadistas para oferecer soluções plausíveis para o mundo não parece ser privilégio do mundo emergente. Os elevados prejuízos registrados no Iraque e no Afeganistão com intervenções absurdas, com alegações que não conseguiram ser comprovadas, com os gastos de trilhões de dólares que continuarão a crescer no futuro e que agora acabam transferindo encargos para o resto do mundo.

Imaginar que os desenvolvidos deram suas contribuições parece parcial, pois os fizeram para atender as suas conveniências, pouco se preocupando com a miséria de amplos segmentos da população mundial, que continua carente de educação, saúde, alimentação adequada, inclusive de infraestrutura para sustentar os sistemas monopolísticos ou oligopolísticos existentes no mundo.

Não parece que o tradicional liberalismo econômico sobreviverá sem expressivos aperfeiçoamentos que dependem dos acadêmicos como o autor, além do suporte de suas populações que ainda parecem pensar somente nos seus privilégios. O mundo emergente não precisa suplicar por migalhas de concessões. Hoje, sem as nossas massas que estão sendo incluídas no mundo globalizado, os esclerosados desenvolvidos não ganham o dinamismo necessário sequer para sustentar suas populações cada vez mais idosas, e menos empenhadas ao trabalho construtivo. Sem os estudantes e imigrantes dos países emergentes eles parecem condenados a uma longa decadência.

Fica muito difícil condenar as falhas na preservação dos direitos humanos nos países emergentes, que certamente existem, enquanto os desenvolvidos não resolverem seus próprios problemas também nestas facetas. Não parece inteligente atribuir aos outros as falhas, quando todos nós temos as nossas.



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