Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Cultura de Negócios do Japão

2 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

Muitos analistas afirmam que a cultura de negócios do Japão é das mais diferenciadas no mundo, como está no interessante artigo de Andrew Miller, publicado no Japan Today. O autor destaca cinco tópicos, mas a nossa longa experiência no assunto nos autoriza a fazer algumas considerações sobre eles. Ele escreve que estes itens decorreram dos contatos que teve com variados empresários estrangeiros que se encontravam no Japão, dois franceses, um inglês e um norte-americano, que normalmente passam uma temporada no país, sendo deslocados posteriormente para outros. Na realidade, parece que entender a cultura empresarial japonesa exige um estudo mais demorado, passando por diversas experiências concretas, pois também existem diferenças entre empresas e organizações, como é natural.

Ele listou cinco itens que achou mais interessante, começando por observar que quando um japonês afirma que é capaz de concluir uma tarefa deve-se levar isto a sério, o que parece natural, mas em muitos países seria usual os interlocutores afirmarem o que estaria acima de sua capacidade. Um empresário inglês afirmou que os japoneses costumam ter o claro conhecimento da sua escala de produção e o tempo necessário para tanto, estando capacitado a cumprir o prometido, como a entrega de uma encomenda num prazo certo. Em muitos países, quando não é possível cumprir o prometido, coloca-se a responsabilidade nos outros, mas no Japão o problema passa a ser também uma questão de honra pessoal.

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O segundo aspecto destacado pelo autor é que para o japonês o cliente é Deus. Muitos ocidentais, como os franceses, tendem a considerar que os fornecedores como compradores estão em pé de igualdade, segundo o autor do artigo. Para os japoneses, o serviço ao cliente é primordial, tendo o objetivo de mantê-lo satisfeito. O autor acrescenta que seria conveniente salvar a face do interlocutor, podendo se acrescentar que isto é um princípio chinês, também adotado pelos japoneses. Não é conveniente encurralar o interlocutor, deixando-o sem alternativa, com uma saída honrosa.

Segundo o autor, para os japoneses a sala de conferência não é um lugar para a discussão, mas sim para relatar o progresso nos entendimentos. A experiência ensina que as decisões dos japoneses dependem de um consenso de diversos setores de uma organização, e as reuniões são mais para formalização dos entendimentos efetuados anteriormente. Os japoneses dificilmente são individualistas, e as decisões são mais coletivas, de uma empresa ou organização.

Outro aspecto é que o para os japoneses o atraso nas decisões não é um reflexo da ineficiência, segundo o autor. Tudo indica que ele não entendeu completamente que as decisões japonesas são coletivas, dependendo do consenso de diversos setores, o que explica parte da demora nas decisões, que uma vez tomada, dificilmente será alterada. O autor demora-se em considerações de alguns exemplos indicando diferenças com outras culturas, mas parece que as lições necessitam de mais que algumas reuniões ou experiências, pois os japoneses, como a maioria dos orientais, não se descobrem totalmente, reservando alternativas tanto para si como para os interlocutores.

Outra constatação do autor é que o álcool permite a muitos japoneses expressarem seus verdadeiros pensamentos, e beber junto também com seus colegas é parte do trabalho. Novamente, este entendimento parece precário, pois as conversas fora do ambiente de trabalho são mecanismos para se negociar o consenso, que decorre do aceitável pelos diversos setores envolvidos numa operação, e não necessariamente a preferência de alguém que se situa no topo da pirâmide da organização, que é mais um confirmador das contribuições recebidas dos diversos setores.

Evidentemente, existem diferenças entre as empresas japonesas e seus executivos. As grandes são mais burocratizadas, enquanto as pequenas e médias podem contar com um proprietário individual que possui, como no Ocidente, um poder de decisão pessoal, dotado que é de uma sensibilidade que lhe permite compreender a tendência que se observa no mercado, tomando a melhor decisão para os seus interesses.

Generalizar todas estas amplas diversidades parece ser um risco elevado.



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