Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Paiter Suruí Até no Washington Post

1 de abril de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

Ainda que se alegue hoje que se procurou tomar o cuidado possível com as reservas indígenas identificadas quando se executou o programa Polonoroeste, que tinha como eixo principal a rodovia Cuiabá – Porto Velho, há que se admitir que muitas barbaridades foram cometidas, das quais somos parcialmente corresponsáveis. Quando assumi a presidência do Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária na década dos setenta do século passado, a ocupação do atual Estado de Rondônia estava num ritmo acelerado, causando danos desnecessários neste processo, mas difíceis de serem evitados. Formava-se o que ficou conhecido como Espinha de Peixe, com uma precária rodovia que chegada à capital Porto Velho, e ao seu longo formavam-se as atuais principais cidades do Estado. Dela partiam linhas simplesmente retas, com a divisão de lotes nos quais eram assentados colonos sem maiores cuidados, com mínimas preocupações para a preservação da floresta ou de eventuais reservas indígenas que ainda não estavam todas adequadamente identificadas e demarcadas. Os contatos da Funai – Fundação Nacional dos Índios com os Paiter Surui começaram em 1969, mas também havia outros grupos na Amazônia que somente foram contatados posteriormente.

Há que se esclarecer que toda esta região era o prolongamento do chamado Escudo Amazônico, divisor de águas, da qual alguns rios do atual Estado de Mato Grosso iam em direção sul, contribuindo para a formação do pantanal mato-grossense, para a bacia do rio da Prata. Outros rios iam em direção ao Amazonas, e, portando, não se localizavam na parte central de sua imensa bacia. Parte destas terras era fértil, mas, dada a grande distância dos principais mercados do país, as atividades madeireiras e pecuárias é que eram consideradas as mais viáveis do ponto de vista econômico e muitos se dedicavam a elas de forma predatória. Ainda que a legislação brasileira fosse rigorosa, há que reconhecer que sua fiscalização nunca foi eficiente e muitas áreas que deveriam ser preservadas como florestas acabaram sendo desmatadas de forma criminosa.

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Chefe Almir Narayamoga Suruí. Foto: Juan Forero/TWP

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Grático reproduzido do The Washington Post

Quando alertado sobre os muitos abusos, como por intermédio da minha colega Betty Mindlin, que atuava na área com indígenas, e com a supervisão de Maritta Koch-Wiser, que trabalhava no Banco Mundial, procurava dentro dos limites de minhas possibilidades evitar os sempre danosos contatos dos chamados “civilizados” com os indígenas, que sempre prejudicaram os nativos.

Hoje, é com grande satisfação que noto num artigo no The Washington Post o imenso trabalho de divulgação conseguido pelo chefe Almir Narayamoga Suruí por todo o mundo, sensibilizando até parceiros internacionais na cogitação do uso do mecanismo do crédito de carbono, em beneficio da tribo paiter suruí, fazendo trabalhos que honram os muitos feitos pela Amazônia no desenvolvimento dos indígenas. Sua íntegra em inglês pode ser acessada entrando no site daquele jornal como: Brazilian chief wields high-tech tools in battle to save tribe, forests.

A notícia dá conta com intenso uso de novas tecnologias para preservar suas reservas dos abusos dos madeireiros e outros que invadem suas reservas. Também as ações dos garimpeiros têm sido nocivas nestas regiões. Maritta Koch-Wiser vem insistindo, como divulgado neste site, que só na medida em que a floresta em pé renda mais que ela derrubada haverá condições para a sua preservação sustentável.

O relacionamento com os indígenas sofreram aperfeiçoamentos ao longo da história, desde as primeiras tentativas dos irmãos Villas Boas e a criação da reseva do Xingu. Tudo que se fizer na sua direção, sempre com muito sonho, mas de forma pragmática, contribuirá para esta convivência, como vem sendo tentando pelos mais variados projetos. Eles merecem a mais ampla divulgação e deve ser motivo de orgulho, pois está se fazendo o que muitos outros povos hoje desenvolvidos não conseguiram.

Mantendo a mais ampla biodiversidade do mundo, o Brasil pode demonstrar com projetos concretos que se preocupa objetivamente com a preservação e da sustentabilidade do seu patrimônio natural. Como eles estão sensibilizando grupos internacionais, há que se conseguir um engajamento mais forte da sociedade brasileira, tanto pelos seus órgãos públicos como empresas privadas, dentro de uma orientação mais sadia que vai se consolidando aos poucos. Não parece existir nenhuma forma única para lidar com situações tão diferenciadas, e há que se louvar os esforços que estão sendo feitos, inclusive com líderes excepcionais como o Almir Narayamoga Suruí, e esperamos que o seu exemplo inspirem muitos outros.



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