Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Livro Sobre o Início do Feminismo no Japão

17 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Se existe confusão sobre a cultura japonesa, o papel da mulher no Japão figura certamente entre os seus aspectos mais controvertidos. Muitos confundem as formas com o verdadeiro conteúdo, imaginando que as mulheres no Japão sempre tiveram um papel secundário, quando elas cuidam dos assuntos fundamentais de uma sociedade. São responsáveis pela educação dos filhos que prosseguirão com os destinos de sua comunidade, como das finanças das famílias, sendo a principal figura que decide sobre os investimentos a serem feitos, como a aquisição de uma residência para seus familiares, com os recursos que lhes são entregues integralmente pelos homens quando recebem seus salários. Os homens ficam somente com uma mesada para suas despesas pessoais.

Ainda assim, o Japão é considerado um dos países mais machistas. E um livro escrito por Harumi Setouchi, hoje Jakucho, pois ela se tornou uma monja budista em 1973, cujo título “Beauty in Disarray” poderia ser traduzido como “Beleza em Desordem”, acaba de ser publicado pela Tuttle Pubishing, 2013, com 354 páginas, traduzida por Sanford Goldstein e Kazuji Ninomiya (edição digital). Em 1911, a obra-prima feminista do controverso Henrik Ibsen, “Casa de Bonecas”, foi apresentada em Tóquio. Acabou provocando a formação do Seitosha (Bluestocking Society), onde atuavam a famosa escritora da época Kanako Okamoto e Noe Ito que se tornou ainda adolescente a editora do jornal da organização, até o seu encerramento por perseguição em 1915-1916. Era o símbolo da “Nova Mulher” no Japão, e o livro em questão é uma biografia de Noe Ito. Esta entidade acabou se tornando socialista, como era moda também no Japão da época.

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Defying boundaries: The former Harumi Setouchi, who wrote ‘Beauty in Disarray’ and is known by the Buddhist name Jakucho after taking vows in 1973, visits a school in Kyoto in April. | KYODO

Um artigo publicado por Kris Kosaka no Japan Times informa que este livro ilumina um importante período do Japão, quando era imperialista e fervilhavam ideias como o feminismo e o socialismo numa sociedade ainda patriarcal e tradicional. Detalha a vida de uma mulher numa sociedade turbulenta, sendo ela mesma uma personalidade agitada.

O livro não tem pretensões acadêmicas, mas com uma adequada aclimatação parece um romance atrevido. Alguns dos livros da mesma autora foram considerados até pornográficos. Nele, está incluído um manifesto da Seitosha, como outras perspectivas jornalísticas da época. Alguns cartazes como os utilizados por Shin Koike no seu restaurante Sakagura A1, no Itaim, em São Paulo, visa dar uma ideia retrô do início do século XX naquele país.

Um trecho do manifesto poderia ser traduzido como “Eu sou uma nova mulher. Pelo menos a cada dia me esforço para ser realmente uma nova mulher. É o Sol que é verdadeiro e eternamente novo. Eu sou o Sol”.

Noe Ito estava engajada no movimento feminista, e, além do seu trabalho no Bluestocking, ela traduziu as obras da anarquista Emma Goldman, e começou uma relação tumultuada com um famoso socialista e anarquista japonês, Sakae Osugi. Sua morte trágica ocorreu no rescaldo do grande terremoto de Kanto (região de Tóquio) em 1923, quando ela e seu companheiro transportavam uma sobrinha de 6 anos para um lugar seguro. Os três foram espancados até a morte pelos policiais militares, tendo chocado o Japão.

A autora, Harumi Setouchi, ganhou o consagrado prêmio Tanizaki em 1992, e entre outros significantes trabalhos traduziu para o japonês moderno o famoso “O conto de Genji”, em dez volumes, em 1998. Destacou-se ao desafiar os limites do pensamento feminista e tradicional, e apaixonada individualista sacudiu o mundo literário ao fazer os votos budistas, transformando-se numa monja em 1973.

Estimulado por esta resenha, que ousei resumir, já encomendei o livro na sua edição em inglês, pois parece interessante conhecer um pouco deste período de profundas transformações no Japão, na Ásia como em todo o mundo.



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