Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Uma Avaliação do Abeconomics

24 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Num simples site mantido por Carola Blinder, diplomada pela Universidade da Califórnia, Berkeley, como aproximação da pergunta direta ao consumidor sobre os efeitos da Abeconomics, ela utilizou os dados de um Banco de Pesquisa da Opinião Pública, um levantamento trimestral com uma amostra de 4.000 indivíduos com pelo menos 20 anos de idade no Japão. Os resultados de junho deste ano dão um vislumbre como a Abeconomics está afetando a vida da população. Quando perguntado sobre o potencial de crescimento, os resultados são menos pessimistas que nos trimestres anteriores. Mas, quando se refere à experiência em sua própria família, a situação não é muito otimista. Apenas 4,9% dos entrevistados informam que melhoraram de situação com relação ao ano anterior, enquanto 39,2% informam que pioraram.

Indicam uma pequena melhora, pois os resultados da pesquisa anterior eram de 3,6% e de 47% respectivamente. Das famílias que afirmaram que pioraram, 73% disseram que a razão era que sua renda diminuiu e 42% que sua renda não era suscetível de aumentar no futuro, entre diversas opções de escolha que foram oferecidas. Das pessoas que entenderam que melhoraram, 22% responderam que suas rendas de juros e dividendos aumentaram e 26% era porque os valores dos seus ativos aumentaram. As cotações na bolsa acabam influindo um pouco neste sentimento de melhoria.

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A inflação positiva e as expectativas de inflação são objetivos básicos da Abeconomics, como todos sabem. A deflação tem atormentado a economia japonesa desde a metade de 1990. No Japão, o índice de preços dos consumidores excluídos os alimentos e a energia subiu 0,2% com relação ao ano anterior em junho último, o maior aumento desde 2008, o que fez com que alguns analistas declarassem à imprensa que a economia japonesa poderia estar abandonando a deflação que persiste nos últimos 15 anos. Esperam que os aumentos nos preços dos consumidores estimulem as expectativas de inflação, levando os consumidores a consumirem mais, ajudando na recuperação da economia.

As pesquisas demonstram que os consumidores estão sentindo o aumento de alguns preços, o que ocorreu com pouco mais de 50% dos pesquisados, e mais de 80% estão com expectativa que continuarão subindo no próximo ano. Mas, 81,6% se mostram que isto é desfavorável, não mostrando que os consumidores gastarão mais. 44,8% responderam que planejam reduzir os seus dispêndios durante o próximo ano, e somente 6,1% que o pretendem aumentar.

Já se tem informado que os europeus são contrários à inflação, mesmo quando ela é baixa, mas parece que os japoneses são indiferentes. Se a inflação não é acompanhada pela elevação de salários, e não se espera isto, a passagem da expectativa de inflação para o aumento de dispêndios não se realiza. E os analistas informam que aumentos de salários não são esperados.

Em junho último, somando todas as rendas, inclusive os bônus que sempre foram importantes no Japão, houve um aumento de 0,1%, quando regularmente caíam em 0,2%. 80% dos entrevistados responderam estar preocupados com as condições do emprego,

Por estes dados, as indicações são de que os dispêndios das famílias japoneses não contam com condições de ajudar na recuperação da economia. O que pode acontecer é que os japoneses que possuem um apreciável ativo financeiro, com receio de que seus rendimentos tendem a cair, tornando-se até negativos, algumas compras sejam estimuladas, mas não devem chegar a montantes significativos para o total da economia.

As informações acabam dando um quadro mais desconfortável para o governo, que terá que tomar outras medidas, pois a elevação cogitada dos impostos deve agravar o quadro.


2 Comentários para “Uma Avaliação do Abeconomics”

  1. Hugo Penteado
    1  escreveu às 11:32 em 26 de agosto de 2013:

    Pois é, os fatores de longo prazo dificultam um nível de crescimento persistentemente alto. A questão entre crescimento e dívida no Japão, a maior do mundo, pode ser uma restrição importante. Kuroda deve agir novamente antes do final do ano. Algum aperto fiscal deve ocorrer. Os que defendem austeridade como o BOJ e o ministro de Finanças acreditam que ela é neutra, os que defendem mais crescimento, como Abe e seus conselheiros, acreditam que ajuste fiscal se faz com aumento do PIB nominal e a turma que quer aumentar imposto com uma expansão de gastos é a maior parte do mundo político do Japão. Esses devem vencer: um aperto, atenuado por um pacote de gastos fiscais e mais do Kuroda é o que parece ser o cenário do Japão até o final do ano.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 16:03 em 26 de agosto de 2013:

    Caro Hugo Penteado,

    Os dados são dinâmicos no Japão como em qualquer economia. Mas parece que a disposição de sacrifícios é mais alto entre os japoneses. Estou postando um outro artigo que mostra o apoio da população para o aumento de impostos e aumento da participação dos idosos nos seus custos sociais, o que normalmente não é popular. A incerteza no Japão parece se prender mais ao problema da contaminação radioativa, que não estão conseguindo resolver.

    Paulo Yokota


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