Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Sucesso da China e Sua Continuidade

17 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Muitos trabalhos são publicados sobre a China, mas poucos possuem profundidade e isenção que permitem ir além dos que decorrem dos conhecimentos superficiais sobre aquele país. Um artigo publicado no Cambridge Journal of Economics, 2013, 37, 791-818, por um grupo liderado por Jesus Felipe, do Asian Development Bank, que é também pesquisador associado do Cambridge Centre for Economic & Public Policy da Universidade de Cambridge, e composto por Utsav Kumar, Norio Usui e Arnelyn Abdon, destaca-se do usual pela profundidade de suas análises, contribuindo com novos conhecimentos. Permite conhecer as causas do sucesso chinês e as possibilidades da continuidade do seu crescimento econômico.

Três fatos costumam ser destacados para explicar a alta taxa do crescimento do seu PIB e a redução de sua pobreza que começou com a sua transição para o sistema de mercado em 1979, segundo o trabalho. Primeiro, a elevada taxa de crescimento da sua acumulação de capital, dirigida para os seus pesados investimentos; segundo, o mercado orientado para a sua política de crescimento dirigido para a exportação; e, terceiro, a industrialização visando a exportação de manufaturados. O trabalho procura analisar a evolução da cesta de exportação desde 1960, e como ela se tornou diversificada principalmente depois de 1979. A reforma de 1979 foi importante porque abriu a economia e promoveu incentivos ao setor privado, mas isto não poderia ter obtido sucesso sem o estoque de conhecimento e capacidade existente no país que vem desde 1960 no mínimo.

mapa_china

Parece importante recordar como este site vem insistindo que foi em Cambridge que se localizou o principal acervo do que foi sendo acumulado desde os trabalhos de Joseph Needham, antes da Segunda Guerra Mundial, que culminou quando ele publicou o seu monumental “Science and Civilisation in China”. Este trabalho já mostrava que a China tinha sido o principal país que contribuiu com as grandes inovações que marcaram a história da humanidade.

Portanto, o aspecto que parece importante é que não corresponde à realidade que a China só passou por um crescimento acelerado com a contribuição dos investimentos estrangeiros que utilizaram a sua mão de obra barata para promover as exportações de manufaturados a preços insignificantes. Para que isto pudesse também ocorrer havia um conhecimento e uma habilidade de seus recursos humanos.

O minucioso trabalho, com muitas análises profundas, mostra que foi a ampla diversificação de sua pauta de exportações provocada pelas reformas, inclusive de produtos manufaturados de elevada sofisticação que explica o sucesso do desenvolvimento chinês, utilizando o cabedal do que dispunham, promovendo mudanças com o que contaram na sua abertura para o exterior com a colaboração de empresas estrangeiras.

Para tanto, utilizam uma vasta bibliografia com estudos que apoiam estas considerações efetuadas por variados autores de diversas origens. As providências na China começaram antes das reformas introduzidas por Deng Xiaoping, mesmo com os problemas como os decorrentes da Revolução Cultural.

Particularmente, tive conhecimento das experiências de alguns amigos japoneses que estavam entre os primeiros que transferiram tecnologias avançadas para os chineses, tanto na indústria pesada como na construção naval, enviando engenheiros que treinavam multidões de trabalhadores locais que absorviam estes novos conhecimentos com grande avidez. Eles estavam preparados para exercerem tarefas sofisticadas, o que nem sempre acontece em outros países.

Verificando-se a atual pauta das exportações chinesas, nota-se a sua extrema diversidade, inclusive com acentuadas sofisticações, como a de maquinarias e equipamentos pesados bem como materiais intermediários básicos, como metais e produtos petroquímicos.

Não seriam meros trabalhadores provenientes do meio rural que passaram a produzir equipamentos eletrônicos que atendem às exigências mais elevadas das demandas mundiais. As indústrias de componentes eletrônicos possuem elevadas exigências, tanto que o Brasil não consegue ainda produzir muitos chips que gostaria de dispor internamente.

A construção civil chinesa conta com equipamentos pesados e sofisticados, produzindo edifícios com sofisticadas tecnologias. Não se absorve tecnologias como dos magleves e trens rápidos, bem como construções navais com facilidade, se não se dispuser também de recursos humanos de elevada qualificação.



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