Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista de Guilherme Estrella para a Folha de S.Paulo

28 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

Guilherme Estrella é um conhecido geólogo que chegou a diretor de Exploração da Petrobras, sendo lhe creditado e à sua equipe a descoberta do pré-sal. Na entrevista concedida a Eleonora de Lucena, publicada na Folha de S.Paulo, expressa sua opinião que a reserva de Libra deveria ser exclusiva do Estado, contando com o monopólio da Petrobras, pois a sua magnitude seria estratégica para aumentar a importância do Brasil no mundo, como afirma que é feito também pelos outros países detentores deste tipo de reserva petrolífera e de gás natural. É, portanto, contrário ao que foi decidido no recente leilão que permitiu a participação de 20% da Shell anglo-holandesa, 20% da Total francesa e 10% cada das duas estatais chinesas, ficando a Petrobras com 40% da empresa que será criada para esta finalidade, que será a responsável pela sua exploração, além dos 41,65% da produção que ficaria com o governo brasileiro. O total acaba acima de 60% para o Brasil.

Em que pese a sua abalizada opinião, há que se considerar também outros fatos que exigem um pragmatismo que ele não leva em conta como técnico. A Petrobras encontra-se fragilizada do ponto de vista financeiro, não dispondo de todos os recursos indispensáveis para a sua exploração como monopolista, que não costuma proporcionar a eficiência desejada. Não se pode assegurar que o petróleo continuará a ter a importância atual como fonte de energia, pois a matriz energética mundial está se alterando, não somente com a economia de energia poluente, como outras fontes como a solar e a eólica que são pequenas, além do famigerado petróleo e gás do xisto que vem aumentando sua participação no curto prazo.

06-Estrella

Guilherme Estrella

Parece natural a posição de Guilherme Estrella como de todos que atuaram na Petrobras que, sendo uma poderosa monopolista, nem sempre os seus interesses corporativistas coincidem com o do Brasil. Muitos deles possuem ou possuíram muitas ações desta companhia que sofreram fortes desvalorizações com as pesadas e desastradas intervenções governamentais, notadamente no uso dos preços dos derivados do petróleo na manutenção de uma inflação mais baixa. Eles nunca esperavam que um governo do PT – Partido dos Trabalhadores, que é considerado estatizante, atuaria contra os interesses da Petrobras.

Apesar de tratar-se de uma estatal com capital aberto, as contas da Petrobras nunca foram muito transparentes, a ponto de haver uma pendência com a Receita Federal que está sendo resolvida, em função das suas posições mantidas nos paraísos fiscais. Sabe-se que muitos benefícios foram proporcionados aos familiares dos seus dirigentes que tiveram custos arcados no exterior pela empresa.

Lamentavelmente, o poder proporcionado pelo petróleo foi abusivamente utilizado em todo o mundo, principalmente pelas grandes empresas internacionais que detêm a sua produção, que no mundo globalizado atual nem sempre coincide com os interesses dos governos dos seus países de origem, nem dos Estados de onde se originaram. Muitas são as lutas pela quebra do poder monopolístico, inclusive nos Estados Unidos, com a fragmentação para evitar os seus abusos.

Ainda que se preveja ainda décadas da importância dos combustíveis fósseis, outras importantes fontes de energia não poluentes estão sendo pesquisadas, esperando num futuro ainda distante que o petróleo seja concentrado na petroquímica, deixando de ter importância como combustível.

Num sistema democrático como o brasileiro, o governo eleito é também o representante do Estado, e suas interpretações dos interesses do Brasil perduram durante o seu mandato, e a experiência vem mostrando que eles costumam contar com mais informações, ainda que nem todos concordem.



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