Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Estudos de Alternativas de Política Econômica na China

7 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , ,

Um artigo publicado por Bob Davis e Lingling Wei no The Wall Street Journal sobre os estudos efetuados na China sobre as alternativas de política econômica mostra parte da realidade possível de ser conhecida. Aqueles que são mais experientes nestas análises sabem que todos os processos de formulações de alternativas são complexos, não podendo ser apresentado numa forma simplista que possa ser facilmente entendida pelos leitores, até por que ainda se encontra num processo de elaboração. No caso de um país como a China, com muita centralização do poder no Partido Comunista, esta falta de clareza fica mais evidente até o momento da divulgação da decisão já tomada. Mas não se deve subestimar como se as autoridades e os melhores formuladores de políticas estivessem desconhecendo os problemas existentes na China como no resto do mundo.

O presidente Xi Jinping teria apontado Liu He ao US National Security Adviser, e Tom Donilson, quando da última reunião em maio no summit entre a China e os norte-americanos, como o responsável pelos estudos que estão sendo efetuados, visando a apresentação para uma reunião fechada do Partido, com seus 450 membros mais elevados no próximo mês de novembro. Até a sua aprovação, nada do que está sendo estudado será revelado, mas certamente as autoridades chinesas estão cientes das preocupações com a desaceleração do crescimento chinês, que já está em 7,5% ao ano, e pode chegar a 4% anual, segundo o Fundo Monetário Internacional. Liu He é formado na Renmin University, com estudos posteriores na Seton Hall University e na Harvard University, membro do Central Committee e Diretor da National Development and Reform Comission, segundo o China Vitae.

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Liu He

Muitos analistas que possuem posições ideológicas contrárias ao atual governo chinês pensam que são dotados de maior capacidade de compreensão do que eles e tendem a imaginar que a China não conta com quadros competentes para a formulação de suas políticas. É evidente que a China, como o resto do mundo, passa por uma difícil fase que exige mudanças possíveis, mas não parece muito inteligente subestimar os chineses que nas últimas décadas conseguiram resultados que impressionaram o mundo, mesmo que ainda se mantenham com segmentos que precisam e podem ser melhorados. Possivelmente, eles possuem um melhor conhecimento da China que outros analistas estrangeiros.

Todos sabem que os chineses perseguem uma economia que dependa mais do consumo local, contando menos com os estímulos provenientes das exportações para um mundo que cresce modestamente. Eles contam com suas dificuldades como as desigualdades dentro do país e entre seus cidadãos, como as resistências dos que detêm privilégios, inclusive suas estatais, como a existência de muita corrupção. Sua população aumenta os idosos e reduz os jovens. Os bancos chineses apresentam suas distorções como também se conta com um mercado informal. Certamente, eles sabem mais sobre seus problemas que os críticos do exterior, inclusive sobre as limitações dos seus dados. Contam também com divergências internas, acadêmicas como políticas.

Imaginar que estes problemas também não existem no resto do mundo parece uma ingenuidade. Aliás, esta é uma tendência perigosa dos que estão no mercado, e pensam que as autoridades sejam constituídas somente de ignorantes e incompetentes, e que todos os mais dotados ficaram fora do poder. Se lá se encontram, deve se atribuir alguma competência a eles, pois outros também aspiraram esta situação e não o conseguiram.

O artigo elaborado pelos jornalistas do The Wall Street Journal afirma que realizaram entrevistas com autoridades chinesas, na China como no exterior, com acadêmicos envolvidos nas elaborações das reformas, como exame do que já foi escrito por Liu He. A um e-mail enviado pelo jornal. um auxiliar de Liu He respondeu que (tradução livre) “o diretor Liu He pensa que há muitos mal-entendidos sobre o seu papel na formulação da política econômica chinesa. De fato, a política econômica é elaborada por um sistema de decisão coletiva, e o papel desempenhado por qualquer indivíduo é bastante limitado”, demonstrando uma realidade e uma modéstia. O presente estudo pretende formular uma visão básica para guiar a China na próxima década.

Os dados levantados confirmam que Liu He é o principal arquiteto do novo plano, o que aumenta a esperança de uma orientação no sentido de uso do mercado, que ele vem defendendo há tempos. O Prêmio Nobel de Economia Michael Spence avalia-o como pragmático e reconhecedor da importância do mercado, mas não como uma religião.

Mesmo não se sabendo até onde vão as reformas, sofrendo resistências, supõe-se que Xi Jinping deva estimular o relacionamento com o exterior e apresentar indicações que dará prioridade ao setor financeiro, com fluxos mais livres, aumentando a concorrência interna. Hoje, os quatro bancos estatais dominam o cenário controlando o setor energético, transportes e commodities. É de se acreditar que dará importância ao capital estrangeiro, de forma a suportar o setor de alta tecnologia, que ajudaria a reformular a economia. Espera-se a possibilidade de alguma privatização.

Tudo estaria sendo ajudado pela desaceleração do crescimento, fazendo com que o momento seja este para as reformas. Liu He contaria com o poder formal pela sua recente nomeação para a direção do Office of the Central Leading Group for Financial and Economic Affairs, que dá acesso a Xi e outros seis membros do Politburo Standing Committee, o árbitro final do poder na China.

Liu teria uma longa conexão com Xi Jinping que vem desde o seu período da Middle School de Beijing 101, nos anos sessenta. Ele é pouco conhecido fora do Zhongnanhai, que compõe a liderança chinesa. Obteve o mestrado em Harvard.

Outro aspecto que poderá ser cogitado é a mudança com relação a migração, permitindo-se que os imigrantes e seus familiares tenham possibilidade de obter assistência médica e educação fora dos lugares de sua localização. Alguns aspectos estariam sendo discutidos com acadêmicos, como na Chinese Academy of Social Science.

As reuniões de outono são realizadas a cada cinco anos e efetuaram reformas no passado. Deng Xiaoping usou o encontro em 1978 depois do término da Revolução Cultural. Em 1993, teria se decidido que as estatais operariam pelos princípios do mercado.

Liu contaria no setor financeiro com a ajuda de Zhou Xiaochuan como banqueiro central, e teriam trabalhado com Xi Jinping para reduzir os empréstimos das instituições informais. Eles não teriam conseguido que os bancos oficiais estimulassem o setor de alta tecnologia. Também trabalhariam em conjunto para estimular os bancos estrangeiros a atuarem no país.

Eles contariam com Fang Xinghai que trabalhou no Banco Mundial e conta com Ph.D. em economia em Stanford. Haveria oposições de outros economistas com as experiências, como autoridades monetárias e do Banco Mundial. Haveria resistências de outras entidades chinesas, temendo a fragilização do seu sistema bancário.

Para superar as dificuldades parece haver uma estratégia de uso de entidades estrangeiras, como já foi feito pelo ex-premiê Zhu Rongji, quando a entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001.

Tudo isto exige tempo para ser implementado e parece que Liu He é um homem paciente. Mas a existência de um planejamento de longo prazo, aprovado pelas autoridades do Partido Comunista, parece uma experiência importante que deveria ser copiado por outros países, inclusive o Brasil.



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