Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Isidoro Yamanaka e a Herança Cultural de um Nikkey

11 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Livros e Filmes, Notícias, Política | Tags: ,

Acabei de receber um livro com muitas informações importantes, escrito pelo meu amigo Isidoro Yamanaka, agrônomo, que é a sua biografia que leva o título “Herança Cultural de Um Nikkey – Brasil e Japão”, editado pela Editora Paulo’s, 2013, São Paulo. Só tive tempo para uma primeira folheada, o suficiente para notar que tem um rico conteúdo que merece uma leitura com todo o cuidado. Nascido em Bastos, em 1935, entre outros episódios importantes, relata os problemas que ocorreram depois do término da Segunda Guerra Mundial, onde seu pai era um dos alvos preferenciais dos terroristas que acreditavam que o Japão ganhou a guerra, considerando traidores outros que pensavam de forma diferente. A região estava entre as mais dramáticas do Brasil onde estes lamentáveis acontecimentos ocorreram. Toda a sua vida foi dedicada até agora à agricultura e os intercâmbios com o Japão.

Ele atuou em variadas frentes, inicialmente ajudando o seu pai nas atividades de recepção dos novos imigrantes vindos do Japão depois da guerra, muitos deles acolhidos pela CAC – Cooperativa Agrícola de Cotia, que lamentavelmente acabou dissolvida por um amplo conjunto de causas. Formado em agronomia pela consagrada Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, criou relacionamentos importantes, atuando tanto no governo do Estado de São Paulo, como no nível federal. Seu profundo relacionamento com importantes autoridades, onde pode ser destacado o ministro Michio Watanabe, permitiu que contribuísse de forma notável num dos projetos mais importantes de cooperação bilateral, que foi o do desenvolvimento dos cerrados brasileiros.

yamanaka

Apesar de atuar em campos contíguos, só vim a conhecer Isidoro Yamanaka quando ele veio atuar no Ministério da Agricultura, quando eu já tinha trabalhado como diretor no Banco Central com o crédito agrícola, incluindo financiamentos para as cooperativas, ainda quando eu tinha pouco relacionamento com a comunidade nikkei. Antecedendo o programa Desenvolvimento dos Cerrados, eu já tinha elaborado o programa Corredores de Exportação com a ajuda dos japoneses, que passava do sistema de exportação de sacarias de grãos para o de granéis, tendo um forte relacionamento com o secretário da agricultura de Minas Gerais, Alysson Paulinelli, para aperfeiçoamento da cafeicultura de renque confinado, e início da exploração mais intensiva dos cerrados.

Isidoro Yamanaka passou um período atuando na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, em diversas áreas, onde começou o seu relacionamento com o secretário da Agricultura, Antonio José Rodrigues Filho, e que teve continuidade com seu filho Roberto Rodrigues, depois ministro da Agricultura, que é autor do prefácio do livro.

Mas seu potencial veio a aflorar nos trabalhos relacionados com o Japão, onde ele conhecia parte substancial da burocracia do Ministério da Agricultura e Pesca daquele país. Acabamos nos cruzando em diversos trabalhos, pois também atuei como presidente do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Uma das suas melhores contribuições foi no relacionamento com a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, que acabou se beneficiando do Programa Desenvolvimento dos Cerrados, no desenvolvimento de novas variedades de soja.

Delfim Netto, ao qual sempre estive ligado, acabou desempenhando um papel importante no relacionamento do Brasil com o Japão, tanto na obtenção de financiamentos como em outros projetos de cooperação bilateral, onde estava envolvido Isidoro Yamanaka.

Tendo como amigo comum Akihiro Ikeda, e estando subordinado algum tempo ao mesmo ministro da Agricultura, Amaury Stabile, cruzamos em diversas atividades. Os relacionamentos que cultivou no Japão complementaram muitos dos meus que estavam ligados ao setor financeiro, as tradings e as grandes empresas industriais.

Mesmo deixando as lides governamentais, Isidoro Yamanaka continuou a atuar com espírito público, notadamente na assistência aos brasileiros que foram trabalhar temporariamente no Japão, e que lá permanecem por mais de uma década. Também veio atuando junto as entidades da comunidade nikkei, tirando partido dos seus relacionamentos com as autoridades japonesas.

Portanto, pode-se afirmar que Isidoro Yamanaka é uma figura ímpar e a leitura de sua rica biografia vai enriquecer todos que se preocupam tanto com a agricultura brasileira e a comunidade nikkei como com o intercâmbio com o Japão, que já caminha para a sua internacionalização, como a cooperação conjunta no desenvolvimento das savanas africanas, utilizando a rica experiência acumulada no desenvolvimento dos cerrados brasileiros.



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